domingo, 21 de outubro de 2018

Almeida Garrett por Bulhão Pato: as Folhas caídas

Assomava a primavera de 1849. — N'esse tempo, em Portugal, havia primavera. — Deixou bem gratas recordações áquelles, que são hoje açoitados, em abril e maio, com as granisadas aspérrimas de dezembro! 

Alfama, Lisboa, James Holland, 1837.
Walker Art Gallery

Os dias da estação vernal chegavam-nos sorridentes, azues, e illuminados. As roseiras nos jardins, o pomar na horta, o relvão nas chapadas, cobriam-se de botões e de flores.

O pardal nos beiraes dos telhados, as andorinhas nos ares, as tutinegras, os rouxinoes nos balsedos e nas faias sussurrantes e sombreiras, papeavam, alegres e enamorados. 

A Ajuda, n'esta epocha, era deserta e silenciosa. Ruinas a cada passo. No largo da Patriarchal, que desabara, só havia de pé a torre! O grande sino, melancholico e solemne, batia as horas e os quartos. Os echos, repetindo-se de quebrada em quebrada, expiravam no fundo do valle, lá em baixo, na margem do rio. 

Lisboa, Vista do Paço da Ajuda, Louis Lebreton, c.1850.
Biblioteca Nacional de Portugal

O silencio, quando o vento estava sul, era interrompido pelos sons vibrantes das bandas marciaes de infanteria 1 e de lanceiros 2. 

Ás vezes, de envolta com as ondas de sons, vinham gritos dilacerantes, despedaçadores; gritos que é preciso ouvir, para ter perfeita idéa d'elles! Partiam do peito de um soldado, cujas costas eram retalhadas cruelmente no supplicio da vara!

O palácio, enorme, vasio e sonoro, além de algumas velhas e pobres creadas do antigo Paço, abrigava bandadas de pombos, que tinham farto pastio nas sementeiras ferazes da Serra de Monsanto, na baga do zimbro, na flor do loureiro bravo, e sombra propicia no zambujal fechado da realenga tapada. Os subúrbios da Ajuda eram deliciosos.

Ao pé da porta o Jardim Botânico, dirigido por José Maria Grande.

Não ficava longe o amenissimo Valle das Romeiras, e, querendo alargar um pouco o passeio, tínhamos Carnaxide, Linda a Velha, e Linda a Pastora, com as suas casitas a alvejar de entre a verdura dos quintaes; e então, como pittorescas, quando as searas tenras circumjacentes ondeavam com o norte límpido, que ao mesmo tempo fazia girar, silvando, as velas brancas dos moinhos, agrupados, aqui e além, nos outeiros crespos e pelo dorso flexuoso da serra!

Rebanho, Arte Pintura Tomás da Anunciação, 1841.
Imagem: Cabral Moncada Leilões

Um dia Almeida Garrett escreveu uma longa carta a Alexandre Herculano. N'esse papel fazia-se uma confidencia amarga!

O poeta havia levado mais um revez, dos muitos da sua combatida e aventurosa existência. Estava n'um momento análogo áquelle, que lhe inspirara — n'umas paginas de prosa, que vêm nas "Flores sem fructo" — esta apostrophe á solidão:

"Solidão, eu te saúdo! Silencio dos bosques, salve!
A ti venho, ó natureza: abre-me o teu seio.
Venho depor n'elle o peso aborrecido da existência; venho despir as fadigas da vida."


Suppunha, illudido pela dor, que poderia prescindir do mundo, elle, o mais mundano de todos os artistas; elle, para quem os fastígios do poder, as pompas do luxo, os máximos requintes do gosto; as pérolas, as saphiras, as esmeraldas e os diamantes, rutilando no seio, nas mãos, nos cabellos negros retintos, ou loiros acendrados, da mulher apetecida — ou adorada — se tornavam impreteriveis!

Mas, no momento, a sua dor era intensa e sincera; por isso, confirmando o preceito de Horácio, ao descrevel-a, a todos nos commovia. Grandes foram as provações, porque passou aquelle desmesurado espirito! 

Para quem o lidou de perto, sobretudo nos últimos tempos, pelos seus versos — "Flores sem fructo", e "Folhas caídas" — é fácil determinar quaes foram as crises, os accessos dolorosos, no drama d'aquelle coração, que teve mais de um affecto, que facilmente se deixava seduzir, mas que tão profunda, tão arrebatadamente se apaixonava! 

Depois de grandes desgostos domésticos, que as dicacidades brutaes e malévolas de ânimos corrompidos vinham ainda envenenar, o poeta parecia succumbir aos revezes da má fortuna.


Uns versos das "Flores sem fructo" explicam o estado da alma do auctor do "Camões", n'esse periodo. Não é a dor acerba, é o desalento supremo; tédio, fastio moral, o mais requintado tormento, que pode cruciar o homem!

Quando uma luz imprevista, serena e penetrante, o veiu arrancar áquella apathia moral, o poeta disse: 

Eu caminhava só, e sem destino,
No deserto da vida;
N'alma apagada a luz, e o desatino
Na vista esmorecida:
E afastava de mim, que me impeciam
No caminhar adeante,
Os prazeres dos homens, que sorriam,
E a turba delirante
De seus empenhos vãos. — Aos que gemiam
Sorria eu de inveja...
Quem podéra gemer!... mas arredava
Esses também: não seja
Traição a sua dor! — Eu caminhava
Só, triste, só, sem luz e sem destino,
A vista esmorecida,
A alma gasta, apagada, e ao desatino.
No deserto da vida.


Quem não atravessou uma crise funesta não escreve assim. A vida do homem tem d'estes momentos psychologicos; mas é preciso ser um grande artista, para lhe acertar com a nota verdadeira, propriamente humana!

Mais adeante, appellando para o suicídio, o poeta exclama:

E sentei-me, cansado, n'um rochedo, 
Triste como eu, e só, 
No meio d'este valle de degredo, 
De lagrimas e dó. 
Caíu-me a fronte sobre as mãos pesada, 
E meditei commigo: 
— Nâo é melhor pôr fim a esta jornada, 
E poisar no jazigo?...

Do céo, morno e pesado, as nuvens rarefazem-se, e elle diz: 

Olhei... e vi o azul do firmamento 
Só, sem nenhum brilhar 
De estrellas, ou de lua...
Mas logo se inundava, n'um momento, 
De uma luz alva, doce e resplandente, 
Que me entrou toda n'alma!...

Esta luz, esta nova estrella do poeta, era de certo a singular creança de dezoito annos, cheia de talento, primorosamente educada, bella, e, sobretudo, fina, que se enamorara perdidamente do génio e da viuvez de coração de Almeida Garrett, cujo nome era saudado nos jornaes, applaudido no theatro, coroado no parlamento, e nas academias!

Elle emprestou-lhe a "Nova Heloísa" do apaixonado João Jacques [Rousseau, Jean-Jacques, Julie ou la Nouvelle Héloïse]. O livro levava, a lápis, umas notas intencionaes. 

Adelaide respondeu a ellas, e um dia, cega, arrebatada, perdida, pungido o coração que exhaurira, na anciã de amar, as derradeiras notas do prazer, deixou tudo, tudo... o enleio das suas phantasias virginaes, o ambicionado futuro de uma união santa, o mundo, e a fama e o seio materno, para refugiar-se, transportada, nos braços do genial poeta!

Quem lhe não havia de perdoar o seu erro, o seu crime — se crime foi — redimido por tamanho amor!

Pondo de parte o extraordinário Miguel Angelo, de quem se conta, que não amou em toda a sua vida senão a Victoria Colonna, e que, só depois de morta, lhe deu o primeiro beijo, os artistas são susceptíveis de diversas e desvairadas impressões.

É providencial, ás vezes! Se Garrett, já no declinar da vida, não fosse accommettido de nova leviandade, — se por tal a querem capitular — não teríamos esse livro delicioso, que se intitula "Folhas caídas" .

Estavam quasi todas escriptas as Folhas caídas, quando, em 1849, o auctor veiu para o eremitério da Ajuda. — A serenidade luminosa d'aquella casa convinha ao estado de espirito do poeta em tal momento. Não podia escolher, melhor retiro. 

Emquanto o auctor da Historia de Portugal proseguia no grandioso trabalho, Garrett, no seu quarto, cuja janella deitava para um lindíssimo panorama, tinha horas recolhidas e meditadas, — agora, corrigindo este verso, ou limando tal período de prosa, logo tirando da estante um livro, e folheando este ou aquelle auctor predilecto. 

O grande poeta, n'esse tempo, tinha cincoenta annos. Ao escrever estas linhas, tão vivo se me está retratando na memoria, que me parece vêl-o! 

Em muito rapaz, uma desastrada queda arrancara-lhe a pelle desde a nuca até á parte superior do craneo, obrigando-o a usar cabello postiço; mas com tal arte o trazia, que parecia de um desalinho natural. 

A testa ampla e não sulcada de rugas. Os olhos, rasgados, luminosos e insinuantes, eram garços. O olhar, fundo e meditativo, illuminava-se, a espaços, de luz faiscante. Não conheci mais expressivo olhar! As pálpebras pisadas. A barba em volta do queixo, ao uso do seu tempo, sem bigode; uma pequena mosca. 

A bocca um pouco grande; o beiço inferior grosso; mas a linha graciosa e finíssima. Voz não a ouvi mais harmoniosa e attrahente; voz máscula, de barítono, modelada pelo gosto e pela arte. Como lia, como recitava, e como fallava!

A estatura mediana; peito e hombros largos; mãos fortes e cabelludas. Calumniarara-o também, quando disseram que todo elle era estofos; nada tinha de empréstimo, a não ser o cabello, por um accidente, como já disse. 


Na conversação toda a sua physionomia, tão espirituosa, tão distincta, animava-se de expressão indefinível. As vezes dizia: — Vamos arripiar a penna ao Patinho. E contava me uma aventura picante, em que se occultava o nome do heroe, que era elle próprio. 

Dos homens como João Baptista, quantos primores, — maravilhas, diremos, — se não perdem para a posteridade! Quanta coisa viva, e espontânea, do colorido mais brilhante; quantos conceitos profundos, observações penetrantes, não voam na conversação dos talentos superiores, quando têem, como Garrett, a singular faculdade da palavra! 

Que não houvesse alli, na casa da Ajuda, já descoberta, essa maravilha de encerrar e conservar o som, e se abrisse agora, para ouvirmos o dono da casa e os seus dois hospedes — Garrett e Rebello da Silva — , como eu os ouvi tanta vez! 

O poeta aprendera na grande roda e nas grandes luctas a arte de guardar as apparencias, a dolorosa, mas impreterível arte da dissimulação, para escapar, quanto possivel, ás ciladas d'este mundo. Alli, porém, estava entre corações amigos, e, sem fazer confidencias, podia desafogadamente soltar um suspiro! 

A nobre alma de Alexandre Herculano, sempre disposta e sempre solicita a acudir a todas as dores humanas, com quanta singelesa, com que delicadíssima e fraterna estima tratou Garrett, durante aquella memorável temporada!

Depois da morte de Adelaide, succederam-se longos, inertes, e amargos dias para o poeta, que chorava sobre um tumulo, e velava sobre um berço! Uma vez, porém, embora:

Qual o ataúde levado
A egypcio festim...

foi, foi á festa!

Era a noite da loucura,
Da seducção, do prazer,
Que em sua mantilha escura
Costuma tanta ventura,
Tantas glorias esconder.


Revia-se a melancholia no rosto do consternado poeta:

Mas a orchestra bradou alta;
— Festa, festa! e salta, salta!

Os seus guizos delirantes
Sacode, louca, a Folia...
Adeus, requebros de amantes!
Suspiros, quem n'os ouvia?


D'alli a pouco, estava escripto que outra fascinação viria tomar-lhe a alma de assalto:

Quem é esta que mais voltas
Gira, gira, sem cessar?
Como as roupas, leves, soltas,
Aerias leva a ondular,
Em torno á forma graciosa,
Tão fina! — Agora parou,
E tranquilla se assentou.


Que rosto! Em linhas severas
Se lhe desenha o perfil;
E a cabeça tão gentil,
Como se fora deveras
A rainha d'essa gente,
Como a levanta insolente !  


O risco é inevitável; a perdição está por um fio!

Vive Deus! 
que é ella.... aquella,
A que eu vi na tal janella,
E que, triste, me sorria,
Quando, passando, me via
Tão pasmado, a ciliar para ella!


Estes e os demais versos, foram feitos ao novo idolo, ao derradeiro Ignoto Deo do poeta; mas o Adeus que os precede, e que vale por elles todos, é uma supplica encarecida, perdão implorado com lagrimas acerbas á memoria d'aquella Adelaide, que tudo sacrificou por elle, a mãe da sua única e adorada filha!

Vista da Egreja das Chagas e do pateo do Pimenta residência de Almeida Garrett e Adelaide Pastor,
gravura de João Pedroso, 1863.
Hemeroteca Digital

Nunca o poeta, quando na flor e na força da vida, escreveu nada mais realista, mais sinceramente apaixonado ! Nunca o lyrismo do amor subiu mais alto, foi mais puro e arrebatado! Parece, que as lagrimas trazem sangue espumante, que o remorso espremeu do coração!

Adeus! Para sempre adeus! Vae-te!
Oh, vae-te! Que nesta hora
Sinto a justiça dos céus
Esmagar-me a alma, que chora.
Choro, porque não te amei,
Choro o amor que me tiveste!

O que eu perco, bem n'o sei,
Mas tu ... tu nada perdeste:
Que este mau coração meu,
Nos secretos escaninhos,
Tem venenos tâo damninhos,
Que o seu poder só sei eu!


Leiam estes prodigiosos versos, versos de paixão, que poeta algum escreveu em tal edade, e hão de sentir as angustias e dores, que lhe salteavam a alma ante a mudez do tumulo, onde jazia a morta, que o idolatrou!

Fraquezas de espirito, misérias humanas, ninguém se disciplinou d'ellas com mais desenganado açoite, nem houve Job, que se cobrisse de cinza com mais humilde contricção, voltando o farpão da própria lingua contra a carne viva dos próprios vicios!

Ninguém se penitenciou tão sincera e cruelmente, como o grande poeta, n'estes singulares versos! Por millenios lhe podiam contar os peccados, que todos redimiu com o fervor de tal arrependimento!


Oiçamol-o agora, oiçamol-o, quando se despede da sombra pallida, que, ao separar-se d'elle para sempre, lhe legara, como ultima fineza do seu amor, o thesoiro d'uma filha: 

Vae, vae... para sempre, adeus!
Para sempre, aos olhos meus,
Sumido seja o clarão
De tua divina estrella!
Faltam-me olhos e razão
Para a ver, para entendel-a.


Alta está no firmamento
Demais, e demais é bella
Para o baixo pensamento
Com que, em má hora, a fitei;
Falso e vil o encantamento
Com que a luz lhe fascinei.


Que volte a sua belleza
Do azul do ceu á pureza,
E que a mim me deixe aqui
Nas trevas em que nasci;
Trevas negras, densas, feias,
Como é negro este aleijão,


D'onde me vem sangue ás veias,
Este que foi coração,
Este que amar-te não sabe,
Porque é só terra — e não cabe
N'elle uma idéa dos céus!...
Oh! vae, vae; deixa-me! Adeus!


Correram, para o apartado eremitério da Ajuda, gratos e saudosissimos os mezes do verão de 1849!

No anno seguinte, Almeida Garrett, em julho, veiu passar um dia comnosco. Rebello da Silva e o conde de Carvalhal tinham apparecido por acaso. Conde de Carvalhal, a flor da elegância, o extremo da educação, o primor do gosto, e, mais do que tudo ainda — uma alma brilhante e transparente como crystal de Bohemia!

Uma fragata inglesa a chegar ao Tejo frente à Torre de Belém, com uma fragata portuguesa ancorada ao largo pela sua popa, Joseph, ou Giuseppe, Schranz, depois de 1834.
Cabral Moncada Leilões

Ás duas e meia, em ponto, — hora habitual, — fomos para a mesa. Alexandre Herculano estava de bom humor, como os grandes batalhadores em tempo de guerra.

Tinha escripto "Eu e o clero" — , e esperava a força da refrega para cair, de sabre em punho, e á escala vista, no baluarte inimigo.

Garrett, que parecia de animo desanuviado, deu largas á fecunda palavra. Ao café appareceu José Maria Grande, que vinha convidar-nos a passar a tarde no Jardim Botânico, onde tinha ido ser sua hospeda uma familia da nossa primeira sociedade. 

Quando, á noite, nos reunimos na casa do Jardim Botânico, entre outras pessoas, éramos — as que havíamos jantado na Ajuda, e a mais o conde de Belmonte, e D. João e D. Gastão da Gamara. Restam vivos Carvalhal, D. Gastão e eu. 

Animando a sala havia duas senhoras; uma casada, outra solteira. Ambas também já não pertencem ao numero dos vivos! A solteira era alta, delgada ; a cinta estreita; o pé andaluz; as mãos finas; a cabeça pequena, o cabello loiro, com reflexos de fogo, e ás ondas.

Caricatura de Garrett defronte da viscondessa da Luz, A Matraca, 1848.
Por largo campo, indómita e fremente
Corre a revolução,
Da vossa Luz a rápida torrente
Me alegra o coração
Cartas de amor à viscondessa da Luz

A bocca, pequena e vermelha, sorrindo, juvenil e alegre, deixava entrever duas renques de pérolas. Os olhos azues, e via-se n'elles o azul crystalino e ethereo da sua alma angélica!

Amava cegamente, e tinha deante dos olhos aquelle, a quem, d'alli a quatro annos contados, havia de entregar o seu apaixonado coração de amante e de esposa.

Esta senhora chamava-se: Mathilde Montufar [Rosa Montufar]. Oh! que dias de luz ha no mundo! Luz intensa, scintillante, deslumbradora, que, na tre- menda e immutavel antithese da vida, tem de ser contrastada pelas sombras caliginosas e profundas! 

Rosa de Montufar, Viscondessa da Luz.
Cartas de amor à viscondessa da Luz

A meio da noite pediram, com viva instancia, versos. Recitei o Adeus das Folhas caídas, então inéditas. A disposição dos espiritos, a novidade e extraordinária belleza d'aquelles versos, a presença do auctor, tudo concorreu, para que a sensação produzida fosse grande. Garrett sabia dominar-se; porém a muito custo conteve a commoção. 

Piquenique na Quinta do Palheiro Ferreiro, Tomás da Anunciação, 1865.
D. António Leandro da Câmara Carvalhal Esmeraldo Atouguia Bettencourt de Sá Machado, 2.º Conde de Carvalhal, grande proprietário, nascido em 1834, casado em 1854 com D. Matilde Montufar Infante, filha dos Marqueses de Selva Alegre em Espanha. Desse casamento nasceram duas filhas, D. Maria da Câmara, Condessa de Resende e D. Teresa da Câmara, Condessa de Ribeiro Real
[Bulhão Pato confundo os nomes de Rosa e Matilde].
Imagem: Museu Quinta das Cruzes

N'este momento, mais do que nunca, a imagem serena e resignada, que se invocava n'aquelles versos, devia pungil-o no centro do coração, e na fibra do remorso!

Oh! vae-te, vae, longe, embora! 
Que te lembre sempre e agora 
Que não te amei nunca... 
Ai! não; E que pude, a sangue frio, 
Covarde, infame, villão, 
Gosar-te — mentir sem brio. 
Sem alma, sem dó, sem pejo, 
Commettendo em cada beijo 
Um crime... Ai! triste, não chores, 
Nâo chores, anjo do ceu, 
Que o deshonrado sou eu.
[v. o texto integral]


No resto d'essa noite, nos bellos olhos, e no rosto do poeta, serenavam, a custo, as ondas de uma tempestade!

Março 22, 1884. (1)


(1) Bulhão Pato, Memórias I, 1894

Mais informação:
Almeida Garrett, Folhas cahidas
Arquivo Municipal do Porto: Documentos com referência a Garrett, Almeida. 1799-1854, escritor
Casa onde nasceu Almeida Garrett Archivo Pittoresco, 4.º Ano, n.º 7, 1861
XXIV Anniversário da morte d'Almeida Garrett, O Occidente, 15 dezembro 1878
Centenário de Almeida Garrett, O Occidente, 30 janeiro 1899
Casas onde, em Lisboa, residiu Almeida Garrett
Almeida Garrett na Hemeroteca Digital de Lisboa

Artigos relacionados:
O partido setembrista, Lisboa 1836
Manoel da Silva Passos, Lisboa 1836
O retiro de um velho romântico
Almeida Garrett
Garretismo
Os pincéis do Neogarretismo prévio




Internet Archive (referências biográficas):
Domingos Manuel Fernandes, Biographia politico-litteraria..., 1873
Teophilo Braga, Historia do romantismo em Portugal... Garrett, Herculano, Castilho, 1880
Francisco Gomes de Amorim, Garrett, memórias biográficas, Tomo I, 1881
Francisco Gomes de Amorim, Garrett, memórias biográficas, Tomo II, 1884
Francisco Gomes de Amorim, Garrett, memórias biográficas, Tomo III, 1884
Alberto Bessa, Almeida Garrett no Pantheon dos Jeronymos, 1902
Alfredo de Pratt, O divino poeta, 1903
Latino Coelho, Garrett e Castilho, estudos biográficos, 1917

Internet Archive:(bibliografia):
Catão [1821], 2.a ed. 1830
Teophilo Braga, Obras completas de Almeida Garrett, Volume I, 1904
Teophilo Braga, Obras completas de Almeida Garrett, Volume II, 1904
...

Biblioteca Nacional de Portugal:
Bicentenário de Almeida Garrett
Roteiro bio-bibliográfico
Obras em formato digital
A Enciclopédia de Garrett Enciclopedista
Modernidade e Romantismo em Almeida Garrett
Viagens na Minha Terra: caminhos para a leitura de uma "embaraçada meada"
Modos de cooperação interpretativa na leitura escolar do Frei Luís de Sousa
A Question of Timing: Madalena's role as 'uma mulher à beira duma crise de nervos'
Catão em Plymouth
O Camões garrettiano
Um Auto de Gil Vicente and the Tradition of Comedy
Iconografia

Obras digitalizadas de Garrett, Almeida

Biblioteca Nacional de Portugal (bibliografia):
Hino Patriótico (poema), Porto 1820, folheto impresso [Recuper. por Teófilo Braga, in Garrett e os Dramas Românticos, Porto 1905]
Proclamações Académicos, Coimbra 1820, folhetos mss. [Reprod. in O Patriota, nº 67 (15 Dez.), Coimbra 1820]
Ao corpo académico (poema), in Colecção de Poesias Recitadas na Sala dos Actos Grandes da Universidade [...], Coimbra 1821 [Recuper. por Martins de Carvalho, in O Conimbricense, Ano XXVII, nº 2823 (14 Ag.), Coimbra 1874]
O Dia Vinte e Quatro de Agosto (ensaio político), Lisboa Ano I (1821)
O Retrato de Vénus (poema), Coimbra Ano I (1821) [Incl.: Ensaio sobre a História da Pintura]
Catão. Tragédia, Lisboa Ano II (1822) [Incl.: O Corcunda por Amor, farsa, co-autoria de Paulo Midosi]
Aos Mortos no Campo da Honra de Madrid. Epicédio, folheto [reprod. do Jornal da Sociedade Literária Patriótica, 2º trim., nº 18 (13 Set.), Lisboa 1822, vol. II, pp. 420-423]
Oração Fúnebre de Manuel Fernandes Tomás, Lisboa 1822, opúsculo [Colig. in Discursos e Poesias Fúnebres [...], Celebradas para Prantear a Dor e Orfandade dos Portugueses, na Morte de Manuel Fernandes Tomás, Lisboa 1823]
Camões. Poema, Paris 1825
Dona Branca, ou A Conquista do Algarve (poema), Paris 1826
Da Europa e da América e de Sua Mútua Influência na Causa da Civilização e da Liberdade (ensaio político), in O Popular, jornal político, literário e comercial, vol. IV, nº XIX (Mai.), Londres 1826, pp. 25-81
Bosquejo da História da Poesia e da Língua Portuguesa, in Parnaso Lusitano ou Poesias Selectas dos Autores Portugueses Antigos e Modernos, vol. I, Paris 1826 [Incl.: introdução A Quem Ler]
Carta de Guia para Eleitores, em Que se Trata da Opinião Pública, das Qualidades para Deputado e do Modo de as Conhecer (ensaio político), Lisboa 1826, opúsculo Adozinda. Romance (poema), Londres 1828 [Incl.: Bernal Francês]
Lírica de João Mínimo, Londres 1829
Lealdade, ou a Vitória da Terceira (canção), Londres 1829, folheto Da Educação. Livro Primeiro. Educação Doméstica ou Paternal, Londres 1829
Portugal na Balança da Europa. Do Que Tem Sido e do Que Ora Lhe Convém Ser na Nova Ordem de Coisas do Mundo Civilizado (ensaio político), Londres 1830
Elogio Fúnebre de Carlos Infante de Lacerda, Barão de Sabroso, Londres 1830, folheto Carta de M. Cévola, ao futuro editor do primeiro jornal liberal que em português se publicar (panfleto político), Londres 1830 [Pseud.: Múcio Cévola, 2ª ed. transcrita in O Pelourinho, nº V, Angra [1831?, com o título Carta de M. Cévola, oferecida à contemplação da Rainha, a senhora Dona Maria segunnda]
Relatório dos decretos nº 22, 23 e 24 [reorganização da fazenda, administração pública e justiça], Lisboa 1832, folheto [Reprod. in Colecção de Decretos e Regulamentos [...], Lisboa 1836]
Manifesto das Cortes Constituintes à Nação, Lisboa 1837, folheto [Reprod. in Diário do Governo, nº199 (24 de Ag.), Lisboa 1837]
Da Formação da Segunda Câmara das Cortes. Discursos Pronunciados nas Sessões de 9 e 12 de Outubro, Lisboa 1837
Necrologia [do conselheiro Francisco Manuel Trigoso de Aragão Morato], in O Constitucional, nº 272 (13 Dez.), Lisboa 1838 [Relatório ao] Projecto de lei sobre a propriedade literária e artística, in Diário da Câmara dos Deputados, Vol. II, nº 35 (18 Mai.), Lisboa 1839
Discurso do Sr. Deputado pela Terceira, J. B. de Almeida Garrett, na Discussão da Resposta ao Discurso da Coroa, Lisboa 1840 [Discurso dito do Porto Pireu, em resposta a José Estevão] Mérope, tragédia.
Um Auto de Gil Vicente, drama, Lisboa 1841.
Discurso do Sr. Deputado por Lisboa J. B. de Almeida Garrett na Discussão da Lei da Décima , Lisboa 1841, folheto
O Alfageme de Santarém, ou a Espada do Condestável, Lisboa 1842
Elogio Histórico do Sócio Barão da Ribeira de Saborosa, in Memórias do Conservatório Real de Lisboa, Tomo II (8), Lisboa 1843
Memória Histórica do Conselheiro A. M. L. Vieira de Castro, biografia, Lisboa 1843, folheto [Anón., sobre o ministro setembrista António Manuel Lopes Vieira de Castro]
Romanceiro e Cancioneiro Geral, Lisboa 1843 [Incl.: Adozinda (2ª ed.) e outros «romances reconstruídos»]
Miragaia, Lisboa 1844, folheto impresso [de Jornal das Belas Artes] Frei Luís de Sousa, drama, Lisboa 1844 [Incl.: Memória. Ao Conservatório Real, lida na representação do drama no teatro da Quinta do Pinheiro em 4 de Julho 1843]
O conselheiro J. B. de Almeida Garrett [Autobiografia], in Universo Pitoresco, nº 19-21, Lisboa 1844 [Carta sobre a origem da língua portuguesa], ensaio literário, in Opúsculo Acerca da Origem da Língua Portuguesa [...] por dois sócios do Conservatório Real de Lisboa, Lisboa 1844
O Arco de Santana. Crónica portuense, romance, vol. I, Lisboa 1845 [Anón.]
Os Exilados, À Senhora Rossi Caccia, poesia, Lisboa 1845, folheto [Reprod. in Revolução de Setembro, nº 1197 (31 Mar.), Lisboa 1845, p. 2, anónimo e título A Madame Rossi Caccia, cantando no baile de subscrição a favor dos emigrados]
Memória Histórica do Conde de Avilez, biografia, in Revolução de Setembro, nº 1210 (15 Abr.), Lisboa 1845
Flores Sem Fruto (poesia), Lisboa 1845
Da Poesia Popular em Portugal, ensaio literário, in Revista Universal Lisbonense, Tomo V, nº 37 (5 Mar.) – 41 (2 Abr.), Lisboa 1846; [cont. sob título:]
Da Antiga Poesia Portuguesa, in id., Tomo VI, nº 9 (23 Jul.), 13 (20 Ag.), Lisboa 1846
Viagens na Minha Terra, romance, 2 vols., Lisboa 1846
Filipa de Vilhena, comédia, Lisboa 1846 [incl.: Tio Simplício, comédia, e Falar Verdade a Mentir, comédia]
Parecer da Comissão sobre a Unidade Literária, in Revista Universal Lisbonense, nº 16 (10 Set.), Lisboa 1846, vol. VI, sér. II, pp. 188-189 [dito Parecer sobre a Neutralidade Literária, da Associação Protectora da Imprensa Portuguesa, assinado por Rodrigo da Fonseca Magalhães, Visconde de Juromenha, A. Herculano e João Baptista de A. Garrett]
Sermão pregado na dedicação da capela de Nª Srª da Bonança, folheto, Lisboa 1847 [raro, reproduzido com o título Dedicação da Capela dos Srs. Marqueses de Viana (...) in Escritos Diversos, Lisboa 1899,
Obras Completas, vol. XXIV, pp. 281-284, redac.: Lisboa 1846]
Memória Histórica da Excelentíssima Duquesa de Palmela, Lisboa 1848 [folheto]
Memória Histórica de J. Xavier Mouzinho da Silveira, Lisboa 1849 [separ., reprod. de A Época. Jornal de indústria, ciências, literatura, e belas-artes, nº 52, tom. II, pp. 387-394]
O Arco de Santana. Crónica Portuense, romance, vol. II, Lisboa 1850
Protesto Contra a Proposta sobre a Liberdade de Imprensa, abaixo-assinado, folheto, Lisboa 1850 [Subscrito, à cabeça, por Herculano e mais cinquenta personalidades, contra o projecto de «lei das rolhas» apresentado pelo governo]
Necrologia de D.ª Maria Teresa Midosi, in Diário do Governo, nº 221 (19 Set.), Lisboa 1950
Romanceiro, vols. II e III, Lisboa 1851
Cópia de uma Carta Dirigida ao Sr. Encarregado de Negócios da França em Lisboa, Lisboa (19 Agosto) 1852 [litogr., sobre o tratado de comércio e navegação com o governo francês, que assinou como ministro dos negócios estrangeiros]
O Camões do Rossio, comédia, Lisboa 1852 [co-autoria de Inácio Feijó]
Folhas Caídas, poesia, Lisboa 1853
Fábulas – Folhas Caídas, poesia, 2ª ed., Lisboa 1853

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