Pintura da parede do Baluarte do Sacramento in Cristina Castel-Branco, Necessidades Jardins e Cerca, Lisboa, Livros Horizonte, 2001. Imagem: A memória na cidade e os baluartes de Alcântara... |
O forte do Sacramento foi fundado em uma quinta que, em Alcântara, possuía o Intendente Geral das Obras, Marquês de Marialva, e na qual residiu desde 1635, ano em que se casara com D. Catarina Coutinho. Só em 1640 passou para o seu palácio do Loreto.
O baluarte de Alcântara. Clair de lune, Alexandre-Jean Noël, Amiens Musée de Picardie. Imagem: Pastels & pastellists |
Como se sabe foi o Marquês a alma da conspiração de 1638. E quer saber o leitor onde se reuniam os conjurados?
Ali mesmo na quinta, sob uma copada árvore, num local sobranceiro ao Tejo. Essa árvore histórica ainda lá existia, em 1862, sobre a muralha do velho baluarte [Archivo Pittoresco, vol. v, pág. 252 — Artigo de Vilhena Barbosa]. Com as obras do moderno quartel de marinheiros e da sua esplanada desapareceu essa relíquia patriótica. (1)
O baluarte de Alcântara. Alexandre-Jean Noël, FRESS. Imagem: Pastels & pastellists |
Conforme documentam as cartas e o perfil da margem Norte do rio, de que se anexa um extracto, na extremidade Poente de Alcântara ao longo da ribeira, terminava a muralha exterior de Lisboa. Extra muros, existia uma ponte que estabelecia a ligação da cidade, através de uma porta da muralha, aos "arrabaldes" a nascente. Tratava-se de um local amuralhado, vigiado e certamente guarnecido [...]
Plan du Port de Lisbonne et de ses Costes Voisinnes (detalhe), pub. 1756, Jacques Nicolas Bellin (1703-1772). (Remarques sur la carte du royaume du Portugal) Imagem: Bibliothèque nationale de France |
Hoje temos conhecimento da existência do Forte do Livramento e do Forte do Sacramento, cada um localizado lateralmente relativamente à porta da muralha.
Ambos os locais foram reconstruidos em 1650 no reinado de D. João IV, conforme vem indicado na carta da BNP cc-293-r_t24-CR0150 de 1837, por ocasião do reforço da defesa do porto da capital após a restauração da independência.
Planta da cidade de Lisboa e de Belém publicada em Londres e copiada em Lisboa em 1837 (detalhe). Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal |
É provável que estes dois postos tenham resultado de dois redentes da muralha existente, ou seja, duas formações angulares saliente para o exterior da fortificação e que pelas suas posições estratégicas tenham adquirido mais importância.
As muralhas do baluarte. Travessia da Ponte de Alcântara pela ocasião do casamento de D. Catarina de Bragança com Carlos II de Inglaterra. The Entrance of the Lord Ambassador Mountague into the Citty of Lisbone, Dirk Stoop, 1662. Imagem: The British Museum |
O natural desenvolvimento urbano terá levado, posteriormente, à separação física destes dois elementos por absorção das construções amuralhadas adjacentes e em 1857, como é possível verificar-se nos extractos das plantas em anexo, do forte do Livramento sobrou apenas uma área com canhoeiras e do forte do Sacramento, o baluarte d’Alfarrobeira.
Carta topographica da cidade de Lisboa
reduzida, Miguel Carlos Correia Pais - Filippe Folque, levantamento 1856-1858, originalmente publicada em 1871, e posteriormente em 1882 com melhoramentos a vermelho. Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal |
Atualmente, o primeiro foi totalmente absorvido pela malha urbana e o segundo foi destruído ao ser atravessado pela Av. 24 de Julho.
O Forte do Livramento encontrava-se localizado entre o Palácio das Necessidades e a porta de Alcântara junto à ponte com o mesmo nome. Ainda hoje o arruamento que lhe era adjacente tem a mesma denominação.
Atlas da carta topográfica de Lisboa (imagem combinada das folhas 47 e 56), Filipe Folque, 1857. Imagens: Arquivo Municipal de Lisboa |
O Forte do Sacramento, também designado por Forte da Alfarrobeira, estava localizado à beira rio próximo do Convento do Sacramento. (2)
(1) Matos Sequeira, Depois do Terremoto... Vol. IV, Coimbra, Imprensa da Universidade, 1933
(2) Cristina Santos, Fortificações da foz do Tejo, 2014
Artigos relacionados:
Romantismo e Patuleia na Quinta da Rabicha
Geração de 70 e Quinta da Rabicha
Leitura adicional:
Archivo Pittoresco, n.° 5, 1862
Archivo Pittoresco, n.° 6, 1862
Archivo Pittoresco, n.° 7, 1862
Archivo Pittoresco, n.° 8, 1862
Archivo Pittoresco, n.° 23, 1862
A. Vieira da Silva, A Ponte de Alcântara e suas circunvizinhanças...
Os limites de Lisboa
Evolução histórica da Tapada da Ajuda
O palácio do Fiúza: memória de uma residência nobre em Alcântara...
Leonor Albuquerque, Estudo da Paisagem do Vale de Alcântara
José Azevedo, A memória na cidade e os baluartes de Alcântara...
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