segunda-feira, 29 de julho de 2019

O Passeio Publico (1764-1883)

O Passeio Publico teve tres períodos brilhantes. O marquez le Pombal mandou-o fazer, logo depois do terramoto, n'um sitio lúgubre, frequentado por ladrões, na Horta da Céra, ao tornejar o Palácio Cadaval.

D. Fernando II, Uma vista do Passeio Público, Leonel Marques Pereira, 1856.
Wikipedia

Foi obra do architecto Reynaldo Manuel, em 1764. Tinha o aspecto d'uma quinta fradesca e fidalga, rodeado de muros altos e espessos, onde, de quando em quando, se abria uma janella gradeada, com poyaes de pedra, interiores.

Servia-lhe de entrada uma cancella verde, musgosa e sempre podre, para além da qual ramalhavam, com gravidade, os enormes freixos e os carvalhos frondosos que Ratton transplantara da Barroca d'Alva, próximo de Alcochete, onde instalara uma fabrica. 

Feira das Bestas (detalhe), Nicolas Delarive [Delerive] (detalhe), Col Olazabal.
in José Mattoso, História de Vida Privada em Portugal, vol. II.
Os africanos em Portugal...

Tinha banquetas de buxo tosquiado, um velho relógio de sol, meio gasto pelo tempo, junto da praça do Verde, bancos de pedra nas curvas das áleas, todo o aspecto do jardim portuguez do século XVIII, muito policiado, muito aristocrata, inaccessivel aos homens de capote e aos maltrapilhos inapresentaveis, que uma lei rigorosa não deixava lá entrar. 

Era o jardim do tempo do Senhor intendente Pina Manique — e foi este o seu primeiro período.

Lisbon view from the Public Gardens, Scenery of Portugal and Spain, G. Vivian, 1835.
Biblioteca Nacional de Portugal

Mais tarde, no anno em que foram extinctas as ordens religiosas e abolidos os Frades, tratou-se de o modificar. (1834) Deitaram-se os muros abaixo e subslituiram-nos por um gradeamento de ferro, interrompido, de quando em quando, por grossas pilaslras de pedra, mais civilisadas e menos pittorescas; o jardim perdeu o seu recolhimento delicioso.

Promenade Publique, Celestine Brelaz (Lenoir).
Dix vues de Lisbonne dessinées d'après nature & litographiées Genève, 1840.
Biblioteca Nacional de Portugal

A cancella verde foi, também, arrancada, transformada em dois portões de ferro e todo o largo que, antecedentemente, estava desaproveitado, ficou fazendo parte d'elle, tornando-o mais comprido.

Passeio Publico, Promenade Publique (copia do Daguerreotypo), Lisboa, Barreto lyth. e Annunciação, c. 1845.
Panorama (revista portuguesa de arte e turismo), nº 13, Fevereiro 1943

Uma vereação delirante construiu, na entrada, um grande tanque quee, de combinação com Malachias [Ferreira Leal], um architecto selvagem, ornamentou com varies tritões e sereias de pedra, trazidas do antigo jardim do Paço dos Estaús.

O Passeio Publico em Lisboa, Legrand, c. 1843.
Biblioteca Nacional de Portugal

Como deitou abaixo, raivosamente, os velhos freixos de Ratton, sem ouvir, sequer, os protestos de Herculano, no Panorama [v. O panorama, n.º 188, 5 de Dezembro de 1840], teve de plantar uma fileira d'arvores miudinhas, abriu. com o espaço adquirido uma larga rua central, poz-lhe, no topo, outro tanque, com mais sereias, mais nayades de cantaria — e uma complicação d'escadas que davam accesso á praça da Alegria de Baixo.  Depois d'isto a camara, arquejante, descançou.

Foi o segundo período do jardim, o período romântico. 

Só mais tarde, depois da Regeneração com o neo-romantismo e o gáz, teve, finalmente, o Passeio Publico a sua terceira e ultima época d'explendor. Passeio Publico não brilhou, talvez, na sua segunda transformação como mais tarde, na terceira, mas no período romântico a sua existência foi soberbamente lamartiniana.

Illuminação do Passeio Publico, litografia A. S. Castro, 1851.
Biblioteca Nacional de Portugal

Quando Lisboa sabia da sua vida rotineira e avassalada, precipitava-se no Passeio. Ali matava a sua saudade de verde, o seu vago anceio para as coisas espirituaes d'este valle de lagrimas. Já então, aos domingos, a família lisboeta, compacta e interminável, apparelhava o seu máximo luxo, tirava das arcas o taffetás e o chapéu de pèllo de seda, para ir arejar, espairecer debaixo de um renque darvores rachiticas, entre duas praças immundas.

A cidade nào tinha, em torno de si, uma floresta, como Berlim, não era, como Londres, uma aglomeração de fachadas esmaltada de parques, manchando com nódoas de verdura as cantarias cinzentas e tristes.

As bellas quintas eram vedadas, o jardim publico uma neccessidade que todos sentiam e que nenhuma vereação realisava. Movidos pelo mesmo desejo e pelo mesmo instincto, os lisboetas procuravam "sub tegmine fagi [à sombra de uma faia]", a parte deleitosa da sua vida obscura e assoberbada.

Illuminação do Passeio Publico, litografia A. S. Castro, 1851.
Arquivo Municipal de Lisboa

Mais pelo impulso do que pela moda, a sociabilidade desenvolveu-se, prosperou. Sob as frondes acanhadas esbóçam-se relações, conglobam-se famílias. O vendedor ambulante, tolerado no Passeio, vendia já, em 40, o "barquilléro" das cidades da Galliza, o "pain-d'-épice" das feiras de Courbevoie ou de Puteaux ; nas tardes quentes de domingo o capilé, esse xarope tào acentuadamente lisboeta, fazia devastações sem fim; Lisboa consumiu enormes porções de "capilé".

O publico mesclou-se. Para seguir as carinhas miúdas que desciam dos casarões da Baixa, de grandes olheiras negras e de vastas saias còr de rosa, despovoavam-se os esquinas do Rocio e da Betesga. E havia sempre, pelos cantos mais copados, um elegante a namorar de "estafermo", á antiga maneira portugueza, perseguindo, com ar dengoso, qualquer beldade assustada que escondia o fulgor dos olhos pretos debaixo das sedas d'uma capota á Marie Gappelle.

Nas tardes d'elegancia o velho Passeio tinha apparencias de salão onde também houvesse arvores e as "toilettes" tomavam a forma de complicados e graves vestidos de baile. O sol indiscreto, espreitava, d'entre os carvalhos, caprichava nos "pince-néz" reluzentes, nos leques de metal ou de prata esmaltada, marchetados de xarão, de madrepérola, de marfim arrendado ou palhetado d'oiro, brincava nas ventarolas de pênnas brancas, nos ramos de camélias, de raynunculos, de rosas de musgo ou de rosas do Japão, reflectindo-se, indeciso, nas gargantilhas de pérolas falsas, nos cordões á duqueza d'Uzés e nos altos pentes do tartaruga loira.

Passeio Publico.
Archivo Pittoresco n° 6, 1857

Nas áleas ensaibradas, onde até as folhas cabiam com elegância e galanteria, perpassavam, com a leveza de sylphos da Escandinávia cabriolando num raio do luar, as formosíssimas Elviras que ennegreciam de doido ciúme o coração dos Antony's. 

As bottinas de polimento quasi não pousavam na terra, arrastando em passos ondulosos as mulheres vestidas com o "grôs-de-Naples", côr de castanha, então muito em moda, resguardadas pelas capas de flanella estampada, côr d'opala ou côr de cinza, forradas a seda verde para que a mão, enluvada n'um tom de pão torrado, com sabia applicação produzisse, na linha, cambiantes bem definidos, cortantes e nítidos. 

Para as verduras do Passeio se fizeram os penteados á Fátima, os penteados á polka, á Isabel, á ingleza, sustentando os vastos chapéus de plumas que Gainsborough tanto affeicoava nas suas damas escocezas e que a moda d'hoje ressuscitou com o nome de chapéus á mosqueteira.

Passeio Publico.
Archivo Pittoresco n° 42, 1863

Na doce Lisboa, sob as claridades tépidas que desciam dos plátanos rumorejantes, cahindo, moribundas, sobre as banquetas de buxo, entre a praça da Alegria de Baixo e o largo do Camões, accenderam-se paixões tumultuosas que terminavam, ás vezes, na floresta de Cintra, junto de um salgueiro triste, debruçado sobre uma poça de sangue. 

Houve Werthers sinceros, houve Carlotas garrulas, mancebos d'olhos marejados, que acabavam de se pentear no Andrillat, no Jacques Plane, no Julien, caminhando pausadamente, sem que fizessem uma prega ás calças de casimira preta, "meía-cossaca" ou de lemiste, justas do joelho para baixo e formando meia pala sobre o sapato de verniz.

Passeio Publico do Rocio, Serrano, entre 1850 e 1869.
Biblioteca Nacional de Portugal

E os apaixonados moviam, com lentidão, a cabeça, presa na alta gravata ou no lenço de setim, agitando os cabochons d'agata e de cornalina vermelha, seguindo, com interesse palpitante, o fallar complicado dos lenços arrendados que adejavam, febrilmente, nas mãos femininas — e que se chamavam das "quatro partes do dia".

Quando o sol descia para lá dos telhados do marquez da Fóz, as flanellas aconchegavam-se mais e nas sobrecasacas d'inverno, em verde-bronze, verde-florenlino, verde escuro ou preto invisível, tomavam uma apparencia mais confortável e mais appetecida, as guarnições de pelles, escuras, pesadas e luxuosas, de onde surgiam amplas cabelleiras á "san-simoniense" e as barbichas petulantes e grotescas que já o Mercúrio, de 38, chamava "barbichas de bode" e peras imitando os pincéis de papo de peru velho.

Passeio Publico.
O Occidente n° 147, 1883

A meiguice da atmosphera preguiçosa poetisava a multidão que, para o fim do dia, na hora intima do crepúsculo, pousava os olhares cançados nas copas altas, que a tarde escurecia, com mais abandono e mais recolhimento; as valsas banaes da banda militar tomavam rithmos perturbadores, ennobreciam, viajando pelo ar, áquella hora indefinível em que as coisas vivas se dobram sobre si próprias ao sentira passagem da alma adormecida d'uma natureza sem tarde e sem manhã.

Era a hora dos vagos desejos, dos sonhos que não teem nome, quando o Planeta espreita, como um grande olho curioso, e o azul dos ceus todo desmaia n'um assombro e n'uma prece. O mancebo que namora "d'estafermo" tem, agora, toda a melancolia do dia que foge e desaparece lambem, suspirando um "Lebewohl" de Beethoven, seguindo a sua Carlota garrula. 

Passeio Publico.
O Occidente n° 159, 1883

O jardim despovoa-se. Nas ruas que torcicolam, já cheias de escuridade e de solidão, o homem dos bolos compõe a sua trouxa e faz tenir o seu cobre. Ao longo do Passeio as janellas illuminam-se frouxamente é que em roda d'um grande candieiro d'azeite os pratos de sopa rescendem e exhalam o seu perfume em fumositos leves.

Os portões fecham. E elle, agora, está solitário e vasio; ramalha lentamente, baloiçando-se em cadencia. A sua voz é grave; a sua alma é doce; é a alma dos que ali amaram. Velho passeio da nossa velha Lisboa!

Entrada do Passeio Publico no século XIX, ed. Veríssimos Amigos.

Fluctua ainda, no sitio onde elle existiu, qualquer coisa mysteriosa e intangível que paira nas tardes luminosas, muito baixo, ainda agarrada á terra, contemplando, na sua forma invisivel, a fresca e transitória forma com que brilhou e ciciou. 

Que diz ella, a velha alma? Olha sombriamente as coisas que não voltam mais e lamenta, talvez, não ter mãos para as poder juntar num grande gesto desesperado e mudo que fosse, ao mesmo tempo, uma lagrima, uma saudade e um sorriso para todas essas figuras esfumadas de um velho mundo — morto. (1)


(1) Mário de Almeida, Lisboa do romantismo (Lisboa antes da Regeneração)

Artigos relacionados:
A Lisboa de Rosa Araújo e Ressano Garcia (Avenida da Liberdade)

Leitura relacionada:
140 Anos do Desaparecimento do Passeio Público
O panorama (jornal litterário e instructivo da Sociedade Propagadora dos Conhecimentos Úteis), n.º 188, 5 de Dezembro de 1840
Archivo Pittoresco n° 6, 1857
Archivo Pittoresco n° 42, 1863
O Occidente n° 147, 1883
O Occidente n° 159, 1883
Illustracao Portugueza n° 26, 1906
Revista municipal nº 27, 4º trimestre de 1945
Revista municipal nº 28 e 29
Revista municipal nº 30 e 31
Revista municipal nº 34
O antigo Passeio Público, Panorama (revista portuguesa de arte e turismo), nº 13, Fevereiro 1943
Cadernos do Arquivo Municipal
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terça-feira, 16 de julho de 2019

Santa Catarina do Monte Sinai (4 de 4): o navio

Dom Manuel's prestige and apparent wealth benefitted from the new route to India. It is one representation of that, in its various guises, that will be discussed in this paper. Just as cartographers placed national flags on territories as symbols of discovery, occupation and power, Manuel set out to show the flag — in its more modern and imperial sense, in 1521, when he sent an armada to waft his daughter Beatriz to Villefranche in Savoy. This was by no means the first or last such Portuguese odyssey, but is perhaps the most grandiose and dramatically recorded.

Retrato do rei D. Manuel I, detalhe do vitral do coro da igreja do Mosteiro da Batalha, 1514-1518.
Google Arts & Culture

His intention is clear, especially in Gaspar Correia's account [J.Pereira da Costa, ed, G.Correia, Crónicas de D.Manuel e de D.João III (até 1533), Lisbon 1992; kindly drawn to the writer's attention by João Pedro Vaz]; as in the very considerable expenditure made on the voyage, and in the retinue ordered afloat: the fleet was sent explicitly to impress the cities along the route with his new wealth and maritime power: "And on all these great expenses the King wished, for his [or: her] grandeur to ordain for her going, which had to be by sea, that she should go with all the triumph and power that could be, for which he commanded and made ready in his court the most well-to-do fidalgos and heirs that he could find, so that he would bring about much more to improve the great expenditures that he would make and to set a lustre upon his great desire and will that he had for his daughter to go to her husband, and this so that in the lands through which they would pass, they should see his great grandeur and power" [...]

The fleet

The number of ships assembled varies from one account to another, but was about twenty. That included four great naos belonging to Manuel, probably one Savoyard ship ("the Ambassador's"), four other naos, two galeões, three caravelas, four galleys, up to four smaller oared vessels, store ships, and a store ship belonging to the Archbishop; variously eighteen to twenty-five in total [From the detailed lists of Correia, Góis and Resende. Osório has 22 (but 19 in Gibbs' 1752 translation); an Italian source 25].

Portuguese Carracks off a Rocky Coast, c. 1540.
Royal Museums Greenwich
Two store ships were the Infanta's, and one, interestingly, a ship laden with conserves and fruit from Madeira (Correia). Whether that was primarily a provision for the Royal party, or a reflection of the known value of some citrus fruits as anti-scorbutics (da Gama having sought them out, very clearly, at every port of call on his first voyage, and marmelada being a standard provision - albeit of uncertain value in that sense), is not known. According to Resende, one caravela carried only aves e caça - hunting birds and dogs, and the exotic birds and animals paraded in Nice, rather than provisions.

Resende records that the fleet was issued with 537 additional bronze guns for the voyage: 102 heavy bombards, 35 falcões, 50 lagartixas (a type name otherwise almost unknown) and 350 berços. The last three types were smaller guns, usually mounted on swivels in the castles and on the gunwales of ships. How these were distributed is not known, but if the figure is reliable, it would have required significant alterations to the ships, as they retained all the guns they were wont to carry. If distributed in proportion to tonnage, the Santa Catarina would have received some 20 extra heavy guns, and almost 90 swivel guns. That is in fact not far short of the maximum number discernible in the Greenwich painting. A large caravela might receive four heavy guns, and sixteen others - approximately the maximum number known to have been carried by lateen caravelas at any time. It is however known that from about this time, the new galeões at least were intended to carry much heavier armaments, exceeding the numbers at least of heavy guns supposed for the Santa Catarina, in smaller ships; though whether the guns were normally available in such numbers is another matter.

The flagship

The flagship was the Santa Catarina de Monte Sinai - a name reflecting pre-occupation with Prester John. This was a vessel of 700 or 800 toneís [Góis has 1,000; Correia only 450 toneís, which is small for all the decks described. Osório claims that some of the fleet were the largest ships ever seen in Portugal, not literally true even for the Santa Catarina at 1,000, but two were unusually large], built in Cochim in India from c.1512, but only commissioned in 1517, just in time for the attack on Jeddah - it appears in one of Correia's sketches for Lendas da Índia, notionally, and in that it has four masts and a relatively low forecastle [Felner ed. 1861, Vol.2.2. The text at least was compiled much later - c.1560.]. It had made two voyages to Lisbon by 1521. According to Rodrigues it was the largest and most powerful ship of the Carreira da Índia at that time [Bernardo Rodrigues, Anais de Arzila, ed. D.Lopes, Lisbon 1915, Book 2 Chapter 77 (Vol.I, pp333-4). Though this text was not written until about 1560, Rodrigues was in Arzila about 1521. He records a general state of hunger and plague in both North Africa and "all Spain" that year, so that many of the ships returned from Villefranche, on Manuel's instructions, via Sicily and Puglia, to load wheat for Lisbon]; though commenced before the advent of galeões as explicit fighting units. Certainly the ships depicted in the Greenwich painting are naos from that era, with relatively little heavy artillery, and none below the weather deck.

Retábulo de Santa Auta, painel central, Martírio de Santa Úrsula e das Onze Mil Virgens, c. 1520-1525.
Wikipédia

The structural changes made to the ship, only recorded by Correia, included major internal changes to create cabins and wardrobes in the lower decks of the sterncastle, and isolating them for the Ladies, with spiral staircases (caracois) for access. That in turn required the main capstan to be moved, and the construction of a gallery on the side and stern for the seamen to get to the rudder - explicitly worked from outside the ship. A second gallery was provided for additional accommodation. (Galleries are discussed below). The upper deck was given a false and level floor on the tolda, or half-deck, and covered with brocade canopies - conspicuously absent in the Greenwich painting - and gilded within, and the receptions were held there. It also served as the dining room for the Infanta and nobility. This sala was probably no more than about 10 metres long, tapering from 11 to 7 metres broad [Based on 800 toneís, 18 rumo keel, 55 palmos de goa maximum breadth, a transom of 28 palmos, and proportions of the upperworks estimated from the painting. They are indicative dimensions only, probably correct to about a metre, but all very debatable]. The apartments were fitted with lavish hangings and furniture, cited at length by Resende; who also claims that the damask tilt on the sterncastle extended to the water like that of a galley. We might notice that in the Tunis tapestries from the Real Alcazar, Seville, depicting the events of 1535, the Portuguese São João, alone amongst the allied fleet, is depicted with a tented structure in rich fabrics over the half-deck, and another over the poop-deck, whose drapes do indeed extend much further as in the tilt of a galley, though not to the water. The smaller Portuguese ships in the background also have the awnings over the poop-deck, displaying armillary spheres.

Access to the ship from the bulwarks of the Terreiro do Paço was by a wooden bridge built over boats, arcaded, and hung with tapestries, and with staircases up to the ship's rail, and down to the half-deck.

The subsequent history of the ship is controversial. It made one return voyage to India in the fleet of August 1523, as da Gama's flagship, reaching Goa in September 1524. It set out again from Cochim in January 1525, carrying D.Luís de Menezes, and in company with a second ship returning the disgraced D.Duarte de Menezes to Lisbon, and one other. They reached Moçambique, and the brothers probably deliberately delayed to hear news from Lisbon from the 1524 fleet. In the event they wintered there - the Santa Catarina was besides said to be so leaky on arrival that it had to be unloaded for repairs - an indication of how fast a ship could decay, even when built, as this ship presumably was, of teak. When they did sail D.Duarte turned aside to water at Saldanha (itself surprising), the third ship with it; and they were supposed to meet at Santa Helena. There was then a severe storm that nearly drove D.Duarte's ship ashore at Saldanha. No more was ever seen of the Santa Catarina. Rumour (which sparked searches of the East African coast on Manuel's orders, obviously rather belatedly) said that the ship had turned back deliberately because D.Luís did not wish to return to Portugal; even that he had taken up piracy. Some years later a ring was delivered to João III purporting to have been taken from D.Luís by French pirates who had intercepted the weakened and sinking ship off southern Portugal, heading for the Algarve, and the crew had been slaughtered and the ship robbed and sunk. In 1536 a captured French pirate was identified as the brother of the pirate in that incident. Whether true or not, this led to vicious reprisals against those French, and reciprocal atrocities. De la Roncière notes letters of marque generally in the period 1524-1537, but does not record these episodes. A more likely explanation is simply that the ship sank in the Southern Atlantic, probably in the storm experienced by D.Duarte, unable to reach Santa Helena, let alone the Azores, or the Algarve direct [...]

(Presented in May 2002, at the joint XI Reunião Internacional da História da Náutica e da Hidrografia and VIII Jornadas de História Ibero-Americana, in Portimão; published in "translation" by Instituto de Cultura Ibero-Atlântica, in As novidades do mundo; conhecimento e representação na época moderna, Colibri, Lisbon 2003). A "translation" was sent for approval a few weeks before publication, and contained some 250 errors that changed the meaning of the text. The published result was hardly better. The author wishes to dissociate himself from the published version.) (1)


(1) Richard Barker, Showing the flag in 1521: wafting Beatriz to Savoy

Informaçao relacionada:
Richard Barker, Sources for Lusitanian shipbuilding
Ana Isabel Buescu, A infanta beatriz de portugal e o seu casamento na casa de Sabóia (1504-1521)
Royal Museums Greenwich
Santa Catarina do Monte Sinai (military wikia)
Master of Seas