Grupo de artistas e fundadores da Sociedade Promotora das Belas-Artes (1861-1901), c. 1862. Zacarias d'Aça (1839-1908), escritor; José Maria Alves Branco (Fl. 1862), médico; Joaquim Pedro de Sousa (18??), artista plástico; Francisco Lourenço da Fonseca Imagem: Arquivo Municipal de Lisboa |
A Cervejaria Leão d’Ouro, na antiga Rua do Príncipe, hoje Rua 1º de Dezembro, em Lisboa, é o ponto de encontro, o cenáculo onde se reúnem artistas e literatos, convivendo e animadamente debatendo as ideias e as doutrinas que chegam de França, através de revistas sempre alvo de particular atenção ou dos pensionistas de regresso.
Des glaneuses dit aussi Les glaneuses, Jean-François Millet (1814-1875). Imagem: profondeurdechamps |
Assim se verifica em torno de Silva Porto, o "divino mestre", como jovialmente o distinguem com amizade e admiração, perante as almejadas novidades estéticas que personaliza; delas se impregnam e duma doutrina que profundamente os interessa, na predisposição que aspira à mudança e à ruptura com esquemas do passado.
A Charneca de Belas, a introducção do Naturalisno em Portugal, Silva Porto, 1879. Imagem: MNAC |
É o advento do Naturalismo introduzido [por Silva Porto e Marques de Oliveira, tendo o primeiro, mais tarde, feito parte do]
Marques de Oliveira Praia de Banhos, 1884. Imagem: MNAC |
Nesta perspectiva, o artista procura recriar a realidade, em função da ideia que concebe do seu conteúdo, e estabelecer as relações e dependências das partes, de modo a extrair os caracteres do todo; assim alcança as qualidades universais e permanentes para as fixar e valorizar.
O Naturalismo pictórico assume esta filosofia, por via duma vivência de ar livre [que se deve ao desenvolvimento da invenção de John Goffe Rand, em 1841, a bisnaga com tinta], que colhe os motivos do natural e os transpõe para o suporte.
Dame en blanc sur la plage de Trouville, Eugène Boudin, 1869. Imagem: Musée d'art moderne André Malraux |
Reformula-se o entendimento de todo o visível, numa atitude que visa a posse da verdade, pelo estudo coerente e firme da cor e da forma.
José Malhoa, Paisagem, 1889. Imagem: MNAC |
Os valores lumínicos encontram-se no cerne desta plástica; definem e motivam a pesquisa do "Grupo do Leão", a sua compreensão da atmosfera e do sol, dos contrastes de sombra-luz, os cambiantes, os matizes e transparências que ressaltam e, porque não, o raro divisionismo permitido.
A aliança da luminosidade e da cor é extraordinariamente coesa nos percursos que o naturalismo investiga e desbrava. com frequência, se revelam indissociáveis estes aspectos fundamentais da pintura, numa ambivalência que desvanece os limites da matéria e fazendo surgir a luz e os valores cromáticos como factores comuns do mesmo fenómeno, quantas vezes dum imenso lirismo.
Colheita ou Ceifeiras, Silva Porto, 1893. Imagem: Wikipédia |
A apreensão da forma vem a resultar destas conquistas, ora errante, ora sensual ou documental, mas quase sempre apaixonada e cruel, ao pretender apoderar-se do verismo imediato e do carácter concreto que transparece nas coisas e nos seres.
Nesta panorâmica cultural e estética se insere e se perfila o “Grupo do Leão”, inicialmente contando com Silva Porto, José Malhoa, António Ramalho [ou Ramalho Junior], João Vaz, Moura Girão, [Manuel] Henrique Pinto, [João] Ribeiro Cristino, Rodrigues Vieira, Cipriano Martins e o entalhador Leandro de Sousa Braga (1839-1897), apoiados por Alberto de Oliveira (1861-1922), grande entusiasta do Grupo.
Grupo do Leão 1883-1884, ferrotipo (espólio de Columbano, Museu do Chiado), 1883-1884. Imagem: Margarida Elias, O Grupo do Leão..., Revista de História de Arte n.° 5, 2008 |
Columbano, bolseiro em França, junta-se-lhes em 1883 e Rafael Bordalo Pinheiro em 1885.
A maior parte destes pintores encontra-se representada no Museu José Malhoa, num discurso em que se destacam as temáticas que a cada um mais atraiu e onde sobressai a sua expressão artística, seja a paisagem, o retrato ou a pintura animalista, seja a marinha, a natureza-morta ou as cenas de género.
Dois artistas pintando à beira-mar (Roque Gameiro e Mamia na Praia das Maçãs), José Malhoa, 1918. Imagem: Bombeiros Voluntários de Almoçageme |
Sublinhe-se ainda a contextualização de Bordalo na cerâmica das Caldas, desafio que abraçou na época do “Grupo do Leão”. (1)
(1) Matilde Tomáz do Couto, O "Grupo do Leão" (1881-1889), Jornal da Caldas, 16 de setembro de 2014
cf. revista LION, ed. junho/agosto de 2014
Leitura relacionada:
Zacarias d'Aça, Lisboa moderna , Lisboa, Tavares Cardoso, 1906
Margarida Elias, O Grupo do Leão de Columbano Bordalo Pinheiro, Revista de História de Arte n.° 5, 2008
Nuno Saldanha, O Leão d'Ouro e a Génese do Naturalismo na Pintura Portuguesa 1885-1905
do Porto e não só: Apontamentos sobre a pintura em Portugal na esquina dos séculos 19 e 20 (I parte)
3 comentários:
Caros senhores
Na foto dos fundadores da "Sociedade Promotora de Belas Artes", identificam o meu Trisavô Francisco Lourenço da Fonseca, como tendo nascido em 1848 e falecido em 1902, sendo pintor. Nada é verdade. Nasceu no Porto 1818 e faleceu em Lisboa 1906, tendo praticado diversas actividades ,mas nunca foi "pintor". Para tal, por favor, confiram a sua biografia, por exemplo na Enciclopédia Luso-Brasileira.
Agradecia a correção do vosso equivoco de forma a se respeitar a verdade histórica.
Melhores cumprimentos
Fernando Fonseca
Caro sr. Fernando Fonseca,
Gratos pelas suas referências, tomadas agora em conta na legendadem da fotografia.
Melhores cumprimentos
Caro Sr. Fernando Fonseca, me chamo Gilberto e gostaria do seu contato para falar sobre a história da sua família,
desde já agradeço a disponibilidade.
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