segunda-feira, 30 de dezembro de 2019

A sahida da última nau portuguesa

Raiou, emfim, o dia 8 de março de 1849, dia em que a nau Vasco da Gama ia, por algum tempo, abandonar o seu ancoradouro no Tejo, e em que eu deixava também Lisboa, cuja barra só devia tornar a entrar no dia 31 de maio de 1865, a bordo do paquete inglez Paraná.

Busto do almirante Vasco da Gama usado como carranca da nau homónima em exposição no Museu de Marinha.
Revista da Armada

O sol, dardejando seus raios dourados por sobre todas as imminencias que, n'uma e n'outra margem, dominam o crystalino Tejo, deixava-nos admirar as mil variadas paisagens que as tornam tão pittorescas, e dão ao nosso porto, a merecida fama de um dos mais formosos da Europa.

No próprio Tejo, a vista aprazível do azul de suas aguas, que centenas de pequeninas embarcações iam sulcando, mui brilhantemente contribuía também para o magnifico aspecto que, de ordinário, offerece o porro de Lisboa, e que, n'este dia da nossa despedida, parecia ter mais poesia e maiores encantos.

O vapor  Mindello que, desde a véspera fundeara ao lado da nau, fazia já ouvir os agudos silvos da sua machina, por cuja chaminé também já sahiam grossos novellos de fumo.

A bordo da nau tudo se dispunha para a partida.

Lisboa Nau Vasco da Gama (1841-1872).
Arquivo Histórico da Marinha

A lancha foi collocada dentro. do navio, a meia-nau; os escaleres foram todos accommodados, como para não servirem tão cedo, e a canoa branca do commandante balouçava-se já nos turcos da popa, encimando a varanda da primeira camara.

Desde muito que, de terra, estava chegando um grande numero de botes conduzindo famílias que vinham d'ali despedir-se, ou dos officiaes ou de quaesquer outros indivíduos d'entre as 700 praças que compunham a guarnição da nau.

Uma grande superfície se achava coalhada d'esta vistosa quantidade de embarcações que não podiam atracar, mas que, d'ali mesmo, os seus passageiros, fallando, agitando lenços, e alguns enchugando lagrimas que fingiam occultar, offereciam ao espectador indifferente, um quadro maravilhoso de tristeza e saudade, á mistura com ditos chistosos e de verdadeira animação.

Entretanto, a bordo, começara um movimento extranho para mim.

Tratava-se de postar gente para a manobra, safar cabos: braços, bolinas, escotas e amuras; desenvergava-se o panno, e punha-se todo o velame em acção de manobrar; postava-se gente ao cabrestante e ás abitas; ditava-se desde a tolda até ao bailéo; e os officiaes, n'uma roda viva, andavam do tombadilho para o castello de proa, e d'aqui para ali, examinando tudo, e observando como mestre e guardiões eram obedecidos.

Lisboa Nau Vasco da Gama (1841-1872).
Arquivo Histórico da Marinha

O commandante, de porta-voz em punho, e com o olhar já mais carregado, passeava de um para outro lado do tombadilho, parando ás vezes a meio da varanda, e olhando para baixo, como que indagando, se já lá estava á roda do leme o marinheiro a quem prestes ia dar ordens.

De repente, ouviu-se uma voz de mando, que não percebi. A musica foi tomar o seu logar ao lado da força do Naval que formara na tolda, e para o tombadilho foi toda a officialidade postar-se ao lado do commandante.

Eram uns escaleres que largavam do arsenal, conduzindo o ministro da marinha, o major-general da armada, e outros ofíiciaes de graduação superior, que se dirigiam para o Mindello, d'onde vinham honrar o bota-fora da Vasco da Gama.

Chegada a Lisboa do Vapor Mindelo, João Pedroso, 1857 (Coleção da Fundação da Casa de Bragança).
A revoluçao industrial, Lisboa marítima e a marinha de guerra... por Paulo Santos

Largada então a amarração, começou de desfraldar-se o panno; o navio principiou a mover-se, e as lagrimas rebentaram-me dos olhos.

Momentos depois, as velas foram enfunando-se, a musica tocava, a nau seguia rio abaixo, e as fortalezas e navios de guerra salvavam, tendo estes, nas vergas, a marinhagem que... enthusiasticamente, saudava os que iam em busca do naufrágio e da febre amarella!

Deixávamos já pela popa a grande cidade, a famosa conquista de Affonso Henriques, que, sem mesmo possuir ainda as bellezas e melhoramentos, que ha quarenta annos lhe vem trazendo o progresso não era por issa menos bella, nem menos histórico e impor tante o seu vasto porto, antigo empório do commercio do Oriente, e que hoje, por seus importantes melhoramentos e pelas vantagens de sua situação geographica, está destinado para um dos melhores portos do mun do, ou... como já alguém disse — para ser o Caes da Europa.

Praça do Commércio de Lisboa em 1848, leque Verissimos Amigos.
Museu de Lisboa

Agora passávamos em frente de Alcântara, em cuja ribeira a 25 de agosto de 1580, o duque d'Alba, derrotando o Prior do Crato, deu começo ao captiveiro em que Portugal jazeu por 60 annos.

Lisbonne, Ports de Mer d'Europe, Deroy, Turgis Jne, c. 1840.
Frame

Depois, viamos o caes de Belém, hoje praça de D. Fernando, onde em 1759 embarcaram os jesuitas para o desterro. 

Vista geral dos jardins e palácio de Belém em1886.
Hemeroteca Digital

Mais adeante, foram avolumando-se e extaziando-nos esses outros padrões de mais antigas glorias: a praia do Restello, ponto de partida dos descobridores da índia; o mosteiro dos Jeronimos, superior ao Escurial na phrase de Filippe II, e esse caprichoso trabalho architectonico, a que se chama Torre de S. Vicente ou de Belém, e que, a antepassados e vindouros, nacionaes e estrangeiros, tem por missão recordar os áureos tempos Manuelinos.

Rio Tejo e Torre de Belém, Alexandre-Jean Nöel, 1789.
Pertence ao Ex.mo Senhor Dr. Ricardo do Espírito Santo Silva.
Arquivo Municipal de Lisboa

Seguiam-se depois, acompanhando-nos: Oeiras, solar do grande Pombal; Paço dArcos, pátria feliz do grande heroe — salva-vidas — o benemérito patrão Joaquim Lopes, depois ainda outras até Cascaes, florescente villa, formosa bahia, e encantadora estação balnear, hoje cada vez mais attrahente pela sua proximidade com as bellezas artistico-naturaes do Mont'Estoril, e pela commodidade de uma estação terminus, que a liga a toda a rede de caminhos de ferro portuguezes.

Era alli, nos reaes aposentos da linda cidadella de D. João II, que, passados quarenta annos, a 19 de outubro de 1889, se havia de finar o rei D. Luiz I — aquella mesma creança loura, e fardada de guarda-marinha, que na véspera da nossa partida, viramos, com a maior disposição para vir a ser, como depois foi — o brioso e intrépido commandante do brigue Pedro Nunes, e da corveta Bartholomeu Dias.

E tudo isto n'essa poética linha que, desde Lisboa vem estendendo-se ao oceano, sempre matizada de verdejantes culturas, e admirável em vários pontos pela opulência de soberbos palácios, e caprichosa architectura de elegantes chalets e kiosques, que n'esta margem tanto abundam como faltam na margem esquerda.

D'este lado, além de Cacilhas, Almada, Caparica, Porto Brandão e a Trafaria — hoje tão completamente transformada n'uma das mais aprazíveis praias das proximidades de Lisboa — só viamos a Torre Velha que, com o Bugio, foi já defensa do porto, e agora ia servir de cárcere incommodo, com prosapias de Lazareto, para os primeiros quarentenários do Brazil, emquanto se não completava a fabrica d'esse novo presidio, que, pela abundância de vexames com que e distingue e desacredita, pôde, em vez de Lazareto, denominar-se com mais propriedade — o primeiro fiscal ou aferidor do ouro brazileiro suspeito de febre amarella.

Torre Velha, Lisbonne, François d'Orléans, prince de Joinville, 1842.
Sotheby's

Chegávamos, emfim, á barra, ou antes, seguiamos entre Torres por uma das barras por onde outr'ora entraram as galés das grandes armadas dos Cruzados, e mais tarde as naus da índia e do Brazil, que, ou traziam á pátria vastissimos reinos e impérios novos para gloria do Venturoso D. Manuel, ou vinham com riquissimos carregamentos de ouro e pedrarias alimentar a magnanimidade de D. João V.

Por alli sahiu lambem a frota, que a seu bordo levou D. Sebastião, para em Alcácer Quibir. a 4 de agosto de 1578, ir sepultar-se com os nossos brios e independência. 

Foi por alli que em 1588, já sob o jugo de Philippe II, sairam as naus portuguezas que aquelle monarcha compromctteu no desastre total da armada de 135 navios, chamada Invencivel, e que um temporal, no mar da Mancha, destruiu completamente.

E finalmente, por alli sahiu também, em 1807, toda a corte portugueza, deixando a pátria entregue aos furores dos generaes do primeiro Napoleão, e exposta depois á tyrannia do inglez Beresford!

Íamos, pois, passando ao som das musicas e de atroadoras salvas, entre as duas sentinellas do nosso porto, que se chamam — Torre de S. Lourenço ou do Bugio, e Torre de S. Julião.

É horrivel a historia d'esta ultima, que já alguém chamou — Mordaça da Liberdade. 

Torre de S Julião da Barra, João Christino, c. 1855.
Biblioteca Nacional de Portugal

Aquella torre foi aproveitada por Filippe I, Pombal, Beresford e D. Miguel, pelo seu carrasco Telles Jordão, para alli aferrolharem em negras masmorras todos os que contrariavam os seus tenebrosos planos de feroz despotismo.

Foi alli na explanada d'aquella torre que o tenente general Gomes Freire de Andrade, vendo acceza a fogueira que havia de reduzir-lhe o corpo a cinzas, expiou na forca o feio delicto de pugnar pela liberdade da pátria!!...

Estávamos, emfim, fora da barra. Mais algumas milhas singradas, e o Mindello, virando de bordo, despedia-se de nós, no enthusiasmo de calorosos vivas de parte a parte. Pouco depois o vapor desapparecia-nos, magicamente, por efteito das velocidades oppostas, e breve foi confundir-se com a cor já fumada e pouco distincta da nossa costa.

Portuguese paddle steamer [Vapor Mindello] off Belem Castle, 1846.
Royal Museums Greenwich

Momento solemne, capaz de arrancar lagrimas ao mais experimentado marinheiro.

Então a Vasco da Gama que já largara ao vento outras velas, começou a sua derrota com rumo á Ilha da Madeira.

Já perdíamos de vista o píncaro da altiva e pittoresca Serra de Cintra, e pouco a pouco, foi também desapparecendo-nos o resto da negra ondulação das cordilheiras da nossa costa. Depois... mais nada! Ceu e mar!

Como era agora magestoso e sublime o quadro que á nossa vista se offerecia, em quanto a nau, velejando a meia bolina, ia deixando apoz si, larga e espumosa esteira que, na ondeante superficie d'um mar immenso, o leme desenhava caprichosamente!

Substituindo toda a fulgurante gala com que o crystalino Tejo parecia ter se enfeitado para a nossa despedida, e o panorama surprehendente, que em todo o seu trajecto nos encantara, tínhamos agora o respeitável e imponente espectáculo da vastidão oceânica, d'essa soberba amplidão, onde quantas mais milhas o navio avança, mais os horisontes parecem abrir-se-lhe!

Portugese Shipping in the Mouth of the Tagus, S. Clegg, 1840.
BBC Your Paintings

O sol transpozera ha muito já o Zenith, e, em caminho do occaso, ia, em breve mergulhar seus raios lá na longínqua linha onde o oceano se extrema do firmamento.

Entretanto o vento refrescava; e o commandante, aproveitando-o, mandava soltar todo o panno.

Foi então para mim maravilhosamente bello contemplar a gigante e altiva mastreação de uma nau com todas as suas velas desfraldadas ao vento. Era, deveras, cousa admirável para a minha ignorância, ver como um navio de tão superior grandeza, seguia, sereno, cortando as aguas, sem mais ruido que nos ferisse o ouvido do que o que faziam as vergas gemendo e as ondas que, feridas pelo talhamar, marulhavam espumosas sob a roda de proa.

Como tudo alli corria sob o mais vigiado e rigoroso dever de disciplina!

Nem aquelle caracter nada expansivo, aquelle olhar sombrio e carregado de Pedro Alexandrino da Cunha, permittiam ou consentiam outra cousa.

A barquinha fora já lançada ao mar por duas vezes, e o commandante depois de ouvir o homem do leme, disse-lhe, com aquella trovejante voz que todos respeitavam: 

— Andar assim, que é bom andar. 

Nau Vasco da Gama (1841-1872) entrando no porto do Rio de Janeiro em 6 de Maio de 1849.
Instituto Moreira Salles

E o sol desapparecera de todo lá no fundo do horisonte. (1)


(1) Theodoro José da Silva, A ultima nau Portugueza, Lisboa, Eduardo Cardoso & Irmão, 1891

Leitura relacionada:
Revista da Armada n.° 240, fevereiro de 1992

Informação relacionada:
Ships and ways of other days



A nau "Vasco da Gama", de 80 peças, foi lançada à carreira do Arsenal da Marinha em 24 de Junho de 1824 e ao mar em 2 de Setembro de 1841. 

Foi construída por Manuel Clemente de Barros e Joaquim Jesuíno da Costa. 

A figura de proa era um elegante busto do seu patrono Vasco da Gama. No Museu da Marinha ainda se conserva o modelo da carranca do navio.

As suas principais características eram: comprimento (quilha) - 61.48 m, boca - 14.70 m, pontal - 12.43 m, arqueação - 2261.72 metros cúbicos, tonelagem - 1829 toneladas; armamento - 74 peças; lotação em 1842 - 650 homens.

Foi depósito de marinhagem de 22 de Dezembro de 1845 até 5 de Outubro de 1846. Achou-se no bloqueio de Setúbal em Abril de 1847. 

A nau passou novamente a depósito de marinhagem, servindo ao mesmo tempo no registo da barra de Lisboa em Junho de 1847. 

Em Março de 1847 largou para o Brasil em missão de cortesia e de protecção dos súbditos portugueses ali residentes. 

Em Outubro de 1858 largou para Luanda conduzindo a expedição militar para combater a revolta do indígena do Congo e o novo padrão para o Zaire. 

Em 29 de Julho de 1863, foi mandado estabelecer a bordo da nau "Vasco da Gama" uma escola de artilharia, a que se deu o nome de Escola Prática de Artilharia Naval. 

Em 1868 recebeu, sob prisão, os amotinados da expedição contra o Bonga.

Tendo sido julgada por inútil para o serviço da Armada, foi mandada vender por despacho de 16 de Agosto de 1873.

cf. Arquivo Histórico de Marinha

quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Memórias de 1865: rainha bela, jovem mãe

A 31 de Julho de 1865, D. Maria Pia teve o seu segundo filho. O novo infante foi chamado Afonso Henriques, o que, evocando o 1º rei português, recordava a 1ª aliança entre os Sabóias e a Casa reinante portuguesa.

Partida para França da Família Real, João Pedroso, 1865.
Revista da Armada, Abril de 2014 cf. original no Palácio Nacional da Ajuda

Adivinha-se qual seria o nome escolhido, se em vez de Afonso tivesse nascido uma menina. Mas haverá, muito mais tarde, uma Mafalda na Casa de Sabóia, sobrinha-neta de Maria Pia, que esta apadrinhará. Segundo as regras de etiqueta, os segundos filhos deviam ter como padrinho o avô materno.

Quando nasceu D. Afonso, em 1865, D. Luís e D. Maria Pia receberam pressões para que não convidassem Vítor Manuel por estar excomungado e por se recear uma reacção papal. D. Luís não se importou e convidou o sogro para apadrinhar o filho, mas Vítor Manuel, demonstrando igual cortesia, declinou o convite para não criar embaraços a Portugal [o padrinho veio a ser Napoleão III, para grande contrariedade da madrinha, Amélia de Beauharnais, que detestava o imperador dos Franceses, apesar de serem primos coirmãos].

Dois meses depois, os monarcas portugueses foram visitá-lo a Itália e levaram consigo o príncipe herdeiro. Maria Pia nutriu sempre um grande afecto pela família, o que foi crucial para as relações dos dois países. Apesar dos esforços papais para que as relações entre Portugal e Itália se rompessem, isso nunca aconteceu durante o reinado de D. Luís. O que se deve à união das duas famílias reinantes e à personalidade de Maria Pia. E também do rei, há que sublinhar- se, que sempre apoiou a esposa e estimava a família italiana.

Retrato do rei D. Luiz, Michele Gordigiani, 1865/68.
Palácio Nacional da Ajuda

A partir dos 18 anos e até à viuvez, aos 42 anos, Maria Pia impressionava pelo seu porte majestático, elegante e amável. O povo simples estava conquistado pela beleza, sorriso e fama de caritativa. Os mais selectos rendiam-se: "a soberana reúne todas as graças de mulher, dignidade e nobreza da rainha e os requintes da mais simpática amabilidade", escreve Benevides em 1879, "entre todas as damas das diversas classes sobressai e distingue-se sempre Maria Pia de Sabóia; é verdadeiramente rainha pela graça, majestade e elegância, como o é pela sua posição a consorte do chefe de estado". Segundo ainda este testemunho, "há muitos retratos de Maria Pia de Sabóia; não há, porém, nenhum que se possa dizer perfeito como semelhança".

Retrato da rainha D. Maria Pia, Michele Gordigiani, 1865/68.
Palácio Nacional da Ajuda

O mesmo afirma, muito mais tarde, Malheiro Dias, que considera que a rainha não teve a sorte de ter sido bem retratada por um pintor ou escultor genial, pois ninguém conseguiu captar "o seu inolvidável poder de ofuscação".

A princesa Rattazzi, que esteve em Portugal em 1876 e 1879 e publicou o seu livro em finais deste ano, descreve-a desta forma: "Naturalmente distinta, bem que um pouco caprichosa, encanta toda as pessoas que merecem o singular favor de querer a rainha agradar-lhes. Sem que se lhe possa chamar formosa, há na linha ondulante do seu corpo traços prestigiosos de uma beleza incontestável. De manto de corte suspenso do ombro, como geralmente o usa, em vez de partir da cintura, raras mulheres terão como ela o grande ar majestoso e imponente".

Também a nora, quando a conheceu em 1886, salienta no seu diário: "Nenhuma mulher tem um ar mais régio e mais imponente".

Quando os reis portugueses fizeram a sua primeira viagem ao estrangeiro, em 1865, Maria Pia estava já transformada, impressionando ambientes tão exigentes e cosmopolitas como o de Biarritz, onde então se encontrava a corte imperial francesa. Relata Prosper de Merimée: "Tivemos a visita do rei e da rainha de Portugal. O rei é um estudante alemão muito tímido; a rainha é encantadora.Lembra muito a princesa Clotilde, mas para melhor; é uma edição corrigida. Tem a tez de um rosa e de um branco raros, mesmo na Inglaterra. É verdade que tem os cabelos ruivos, mas de um ruivo muito escuro, agora na moda. É muito amável e polida".

Navios de guerra de propulsão mista e casco reforçado saindo do Tejo de madrugada junto à Torre do Bugio.
Cf. original erradamente referido e datado no Museu de Lisboa

Com o príncipe D. Carlos, que iam apresentar ao avô, e numerosa comitiva, os reis tinham saído de Portugal a 3 de Outubro. (1)


(1) Maria Antonia Lopes, Maria Pia de Sabóia (1847-1910), rainha de Portugal: um pilar da monarquia portuguesa e das relações Portugal-Itália

Artigos relacionados:
Obras maiores de João Pedroso Gomes da Silva (1825 - 1890)
Um pequeno quadro no Museu de Lisboa

Tema:
João Pedroso

sexta-feira, 22 de novembro de 2019

Uma exposição no tempo... 1947

Comemorações do VIII centenário da tomada de Lisboa

EXPOSIÇÃO DE DOCUMENTOS E OBRAS DE ARTE RELATIVOS À HISTÓRIA DE LISBOA

A Exposição Olisiponense de 1914, levada a efeito no Edifício Histórico do Carmo, e onde se reuniram cerca de mil espécies, marcou o advento de uma nova época nos estudos que têm por objecto o passado e a evolução da cidade. De então para cá, o gosto pela Olisipografia não tem feito senão aumentar [...]

Comemorações do VIII centenário da tomada de Lisboa (1947)
EXPOSIÇÃO DE DOCUMENTOS E OBRAS DE ARTE RELATIVOS À HISTÓRIA DE LISBOA
SALA IV — LISBOA NA ÉPOCA DA RESTAURACÃO
fotografia original do Arquivo Municipal de Lisboa

SALA II — LISBOA MEDIEVAL

013 — São Vicente, estátua de pedra policromada

São Vicente, estátuas de pedra policromada (013 e 014) e madeira dourada (015).
Pertencem ao Ex.mo Senhor Ernesto de Vilhena.
Arquivo Municipal de Lisboa

014 — São Vicente, estátua de pedra policromada

015 — São Vicente, escultura de madeira dourada

SALA III — LISBOA NA ÉPOCA DA EXPANSÃO

028 — Chegada das relíquias de Santa Auta à igreja da Madre de Deus

Chegada das relíquias de Santa Auta, c. 1520-1525, retábulo de Santa Auta, painel direito (reverso).
Pertence ao Museu Nacional de Arte Antiga.
do Porto e não só...

029 — Chegada de São Veríssimo e das santas Júlia e Máxima à cidade de Lisboa

Santos Mártires Veríssimo, Máxima e Júlia, Desembarque em Lisboa, Garcia Fernandes.
Museu Carlos Machado

038 — Planta de Lisboa e arredores com a disposição do exércitos português e castelhano na batalha de Alcântara

Batalha de Alcântara, 1580, representação c. de 1595.
Biblioteca Nacional de Portugal

SALA IV — LISBOA NA ÉPOCA DA RESTAURACÃO

097 — Vista panorâmica da cidade de Lisboa no século XVII

D. João III e o núncio apostólico da Índia ou A partida de São Francisco Xavier, aut. desc. c. 1730.
Atribuído a Domingos da Cunha.
Pertence ao Museu nacional de Arte Antiga (depositado na Academia Nacional de Belas Artes).
 Wikipédia

Nota relativa aos dois quadros seguintes,
cf. Norberto de Araújo, Inventário de Lisboa, fasc. IV, 1946

As Salas da Sociedade Histórica, e entre elas, designadamente: o Salão Nobre, principal do palácio, correspondente à varanda e janela central da frontaria, com teto apainelado, em carvalho, ombreiras de mármore, silhares de madeira, chão de "parque" de "damas" (destina-se a Museu da Restauração, em organização); por cedência da Direcção Geral da Fazenda Pública encontram-se já no depósito da Sociedade Histórica, dois curiosos quadros (vindos do Palácio da Ajuda), pintura da segunda metade do século XVII, de cenários sensivelmente idênticos, que representam o Terreiro do Paço da Ribeira, no momento da aclamação de D. João IV (1 de Dezembro), e  juramento real e cortejo (15 de Dezembro), obra que  se supõe da autoria de José Avelar Rebêlo, pintor muito da simpatia de D. João IV.

098 — Vista do Terreiro do Paço no dia 15 de dezembro de 1640

O Terreiro do Paço no dia 15 de Dezembro de 1640.
Anónimo, século XVII.
Pertence à Sociedade Histórica da Independência de Portugal.
Arquivo Municipal de Lisboa e  Palácio Ducal de Vila Viçosa

099 — Vista do Terreiro do Paço no dias 1.° de dezembro de 1640

O Terreiro do Paço no dia 1 de Dezembro de 1640.
Anónimo, século XVII.
Pertence à Sociedade Histórica da Independência de Portugal.
Arquivo Municipal de Lisboa

100 — Vista panorâmica da cidade de Lisboa

Lisboa, Ex Voto, c. 1620.
Nossa Senhora de Porto Seguro Roga a seu Precioso Filho por esta Cidade e sua Navegação de Lisboa.
Pertence à Igreja de São Luís dos Franceses,  
do Porto e não só...

101 — Mosteiro de Santa Maria de Belém

Mosteiro dos Jerónimos e Torre de Belém, Filipe Lobo, 1657, ass: Philippus Lupus fecit MDCLVII.
Pertence ao Ex.mo Senhor D. João da Costa e Sousa de Macedo (Vila Franca).
MNAA

102 — Páteo das Comédias

Pátio das Comédias, anónimo, século XVII.
Pertence ao Ex.mo Senhor D. Caetano de Portugal.

Museu de Lisboa

105 — A entrada em Lisboa de Lord Montagu

A magnífica entrada do embaixador e almirante Montagu em Lisboa

"O Magnifique Entrada do Ambassador e Admiral Montagu em Lixboa" and "The Entrance of the Lord Ambassador Mountague into the Citty of Lisbone the 28 day of March 1662"
Dedication to Lord Montague in Latin in three lines in the lower margin: "... Dedicat Theodorus Stoop suae Matis. Regina Anglia Pictor" cf. British Museum
Rijksmuseum

SALA V — LISBOA JOANINA

152 — Lava-pés aos pobres por D. João V no Paço de Ribeira

Lava pés aos pobres por D. João V no Paço da Ribeira, c. 1748.
Wikipédia

155 — Vista do Rossio anterior ao terramoto

Lisboa, Rossio, Hospital de Todos os Santos, Francisco Zuzarte, 1787.
Pertence ao Ex.mo Senhor Dr. Celestino Costa.
Arquivo Municipal de Lisboa

156 — Uma vista do Terreiro do Paço

Paço da Ribeira e Terreiro do Paço, Francisco Zuzarte, 1740, reprodução de 1783.
Pertence ao Ex.mo Senhor José de Bragança.

172 — Um aspecto da cidade de Lisboa visto do palácio do Marquês de Abrantes

Panorâmica da Lisboa ribeirinha antes do Terramoto de 1755,
tomada a partir dos jardins do palácio do Marquês de Abrantes (onde hoje se encontra a embaixada de França).
Pertence ao Ex.mo Senhor Engenheiro Augusto Vieira da Silva.
Museu de Lisboa

187A - Aqueduto das Águas Livres

Aqueduto das Águas Livres [Ponte da Rabicha], desenho aguarelado, ass. Cleveley, séc. XVIII.
Pertence ao banco Epírito Santo e Comercial de Lisboa.
Catálogo da exposição de documentos e obras de arte relativos à história de Lisboa, MNAA, 1947

190 — A Ribeira Velha

Mercado da Ribeira Velha, faiança, 1.° quartel do séc. XVIII.
Pertence ao Ex.mo Senhor D. Fernando de Almeida.
Museu de Lisboa

SALA VI — LISBOA POMBALINA

251 — O terramoto de Lisboa

Alegoria ao Terremoto de 1755, João Glama Strobërle (1708–1792).
Pertence ao Museu Nacional de Arte Antiga.
Wikipédia

252 — Retrato do Marquês de Pombal

Marquês de Pombal, Louis-Michel van Loo e Claude-Joseph Vernet, 1767.
Pertence à Câmara Municipal de Oeiras.
Oeiras com História

258 — O atentado contra D. José I

Atentado de 3 de setembro de 1878 contra D José I, Vieira Lusitano.
Pertence ao Ex.mo Senhor Luis Roxo.
Imagem: Museu de Lisboa

SALA VII — LISBOA POMBALINA

322 — Placa representando o Pentecostes

337 — Bacia de barba

SALA VIII — LISBOA DE D. MARIA I

380 — Mercado da Praça da Figueira

Mercado da Praça da Figueira, Nicolas Delerive.
Pertence ao Ex.mo Senhor João de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres.
Arquivo Municipal de Lisboa

381 — Vista de Lisboa

Vista de Lisboa, ass. Detarge, 1797.
Pertence ao Ex.mo Senhor João de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres.
Arquivo Municipal de Lisboa

382 — Feira das bestas

A Feira das Bestas (à esquerda o Passeio Público, Conv. da Encarnação e S. Luís dos Franceses), Delerive, 1792.
Pertence ao Ex.mo Senhor João de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres.
Arquivo Municipal de Lisboa

383 — Vista de Lisboa

Vista de Lisboa, ass. Detarge, 1797.
Pertence ao Ex.mo Senhor João de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres.
Arquivo Municipal de Lisboa

385 — A rocha de Conde de Óbidos

Rocha do Conde de Óbidos, Alexandre-Jean Noël, 1789.
Pertence ao Ex.mo Senhor Dr. Ricardo do Espírito Santo Silva.
FRESS

386 — O baluarte de Alcântara numa noite de luar

Baluarte de Alcântara, Alexandre-Jean Noël, 1789
[obra idêntica, Clair de lune, em Amiens, Musée de Picardie].
Pertence ao Ex.mo Senhor Dr. Ricardo do Espírito Santo Silva.

FRESS

388 — Vista do Tejo

Rio Tejo e Torre de Belém, Alexandre-Jean Nöel, 1789.
Pertence ao Ex.mo Senhor Dr. Ricardo do Espírito Santo Silva.
Arquivo Municipal de Lisboa

389 — Cortejo no Tejo

Cortejo no Tejo (comemoração da abolição do imposto sobre o pescado), atribuido a Alexandre-Jean Nöel.
Pertence ao Museu Nacional de Arte Antiga.
Arquivo Municipal de Lisboa e Catálogo da exposição de documentos e obras de arte relativos à história de Lisboa

390 — Grande fachada ornamental em estilo barroco

Grande fachada ornamental em estilo barroco, Zuzarte, 1777.
Pertence ao Museu Nacional de Arte Antiga.
Catálogo da exposição de documentos e obras de arte relativos à história de Lisboa, MNAA, 1947

391 — Festa da coroação de D. Maria I

Cerimónia de Aclamação de Maria I de Portugal, na Praça do Comércio, em 1777.
Festa, Pompa e Ritual. A aclamação de D. Maria I
Wikipédia

391A - Vista do Terreiro do Paço

Desfile no Terreiro do Paço, J. Cyriaco, 1794.
Cortejo da Entrada do Embaixador Conde de Fernán Núñez, por ocasião dos esponsais da Infanta D. Mariana Vitória com D. Gabriel de Bourbon, 11 de Abril de 1785, José Caetano Cyriaco, 1794.
Pertence ao Museu Nacional dos Coches.
Wikimédia

400 — Verónica

SALA IX — LISBOA DAS INVASÕES FRANCESAS E LUTAS CIVIS

431 — Retrato de D. João VI

Retrato de D. João VI, Nicolas Delerive.
Pertence ao Palácio Nacional da Ajuda.
Google Arts & Culture

435 — Chegada de D. João VI a Lisboa

Alegoria ao regresso de D. João VI a Portugal, Domingos Sequeira.
Pertence ao Ex.mo Senhor Duque de Palmela.
Arquivo Municipal de Lisboa e Howling Pixel

436 — O príncipe D. João, mais tarde D. João VI, passando revista às tropas no Rossio

D. João, príncipe regente, passando revista às tropas no Rossio, Cyriaco, 1787.
Pertence ao Ex.mo Senhor Eng.° Henrique da Fonseca Chaves.
Arquivo Municipal de Lisboa

437— Vista do mosteiro de Santa Maria de Belém

Vista do Mosteiro de Santa Maria de Belém, Cyriaco, finais do séc. XVIII.
Pertence ao Ex.mo Senhor Eng.° Henrique da Fonseca Chaves.
Arquivo Municipal de Lisboa

438 — Junot passando revista às tropas no Rossio

Junot passando revista às tropas no Rossio, anónimo.
Pertence ao Ex.mo Senhor Eduardo Mendia.
Catálogo da exposição de documentos e obras de arte relativos à história de Lisboa, MNAA, 1947

439 — Retrato de D. João VI

Retrato de D João príncipe regente, Domingos Sequeira, c. 1802.
Palácio Nacional da Ajuda

SALA X — LISBOA DO ROMANTISMO

471 — O Baptisado de D. Carlos I

O baptizado de D. Carlos [na igreja de S. Domingos], P. van Elden.
Palácio Nacional da Ajuda

472 — Cortejo régio passando em frente da igreja de Santos

Casamento de D. Maria II com D. Fernando II em 1836.
Igreja de Santos o Velho, óleo sobre tela da autoria de Tony de Bergue, meados do século XIX.
Pertence ao Ex.mo Senhor Pedro Costa.
Arquivo Municipal de Lisboa

474 — Saltimbancos no Largo do Corpo Santo, em Lisboa

Lisboa, Largo do Corpo Santo, A. E. Hoffman, c. 1833.
Pertence ao Ex.mo Senhor Eng. Augusto Vieira da Silva.

475 — Casamento do rei D. Luís com D. Maria Pia de Sabóia

Ratificação do casamento do rei D. Luís e de D. Maria Pia, António Manuel da Fonseca.
Pertence ao Palácio Nacional da Ajuda.

476 — O cais de Santos

Rocha do conde d'Óbidos, Alfredo Keil, 1873.
Pertence ao Ex.mo Senhor Duque de Palmela.
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492 — Vista do Vale do Pereiro

Vista do Vale do Pereiro [Paisagem e animais], João Cristino da Silva, 1859.
Pertence ao Museu Nacional de Arte Contemporânea.
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503 — Largo do Chafariz de Dentro

Largo do Chafariz de dentro (Chafariz dos cavalos), Robert.
Pertence ao Ex.mo Senhor Eng. Augusto Vieira da Silva.
Museu de Lisboa

537 — Vista do convento de S. Bento da Saúde

Convento das Francesinhas e Palácio das Cortes, aguarela de Jan Lewicki, c. 1854.
Pertence à Assembleia Nacional.
Parlamento

541 — A chegada da rainha D. Maria Pia

Chegada a Lisboa de S.M. Maria Pia de Sabóia, João Pedroso, 1862.
Pertence ao Palácio Nacional da Ajuda.
As corvetas mistas na obra de João Pedroso, Revista da Armada


Imagens cf. referências no Catálogo da exposição de documentos e obras de arte relativos à história de Lisboa, MNAA, 1947

Leitura relacionada:
Catálogo da exposição de documentos e obras de arte relativos à história de Lisboa, MNAA, 1947
Exposição Histórica de Lisboa, Panorama n.° 32-33, 1947

Informação relacionada:
Álbum 49 (90 fotografias de Eduardo Portugal, mostrando o cortejo histórico de 1947 na avenida da Liberdade, em Lisboa)