segunda-feira, 10 de junho de 2024

Retratos verdadeiros de Sant'António

Não existe uma imagem de Santo Antônio que lhe seja contemporânea e as mais antigas imagens que a ele se referem, apareceram a partir do final de 1200, são muito diversas uma das outras e não nos dão a possibilidade de reconstruir o seu aspecto físico. Para podermos imaginar como ele era, nos resta somente alguns rápidos passos literários.

Santo António de Lisboa proveniente do Convento de Jesus em Setúbal
(c. 1510-1540)
Museu Nacional de Arte Antiga

O autor da «Assídua» (a primeira biografia do Santo), referindo-se à pregação do Santo realizada em Pádua durante a quaresma do ano em que morreu diz: «Causa realmente maravilha o fato de ser ele aflito por uma certa natural corpulência e também por uma contínua doença, e que porém, pelo zelo assíduo das almas, ele não deixasse nunca de pregar, de ensinar e de ouvir as confissões até o pôr do sol e quase sempre em jejum». (1)

Desde o começo da nacionalidade portuguesa, que no alto desta colina (Olivais) existiu uma capela de invocação de Santo Antão. Em 1217-18, a mulher de D. Afonso II, D. Urraca, cedeu essa capela aos franciscanos, acabados de chegar a Portugal, que aqui se estabeleceram precariamente. Recorde-se, a propósito, que a Ordem dos Franciscanos, fundada em 1209, rapidamente se espalhou por toda a Europa.

Junto à capelinha de Santo Antão, fundaram os franciscanos um humilde eremitério. Em 1219, aqui veio pousar Frei Otto com quatro companheiros (Frei Berardo, Frei Pedro, Frei Acúrsio e Frei Adjuto) na sua caminhada para a missão de Marrocos e para a morte, pois são os primeiros franciscanos sacrificados à fé de Cristo, decapitados pelo sultão, Abu-Jacub.

Mártires de Marrocos, Francisco Henriques, 1508-1511
Mosteiro de São Francisco de Évora

Museu Nacional de Arte Antiga

Quando em 1220 as relíquias dos Cinco Mártires de Marrocos, trazidas por influência do Infante D. Pedro, filho de D. Sancho I, chegam ao Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, Santo António, que nesse ano tinha tomado a ordem sacerdotal, sente-se irresistivelmente atraído pelo espírito franciscano.

Deixa o opulento mosteiro crúzio para ir viver no pobre hospício dos Olivais, troca o hábito e a murça branca de cónego regrante de Santo Agostinho pelo burel franciscano e muda o nome de batismo – Fernando – para o de António e, em Julho desse mesmo ano, parte para Marrocos.

Verdadeiro Retrato de Santo António de Lisboa
(séc. xviii)
Santo António dos Olivais

Após a sua canonização, em 1232, este modesto convento dos Olivais de Coimbra, em memória do grande taumaturgo, mudou a invocação de Santo Antão para Santo António. (2)


(1) Assídua cf.Iconografia antoniana, Santo Antônio através dos séculos
(2) Santo António dos Olivais

Leitura relacionada:
Conrad de Mandach, Saint Antoine de Padoue et l'art italien, 1870
Santo António na literatura e na arte portuguesas
D. Carlos A. Moreira Azevedo, Variantes iconográficas nas representações antonianas, 2010
Isabel M. D. A. V. Santos, Do altar ao palco Santo António na tradição (...), 2014
Isabel M. D. A. V. Santos, Do altar ao palco Santo António na tradição (...) anexos, 2014
Cícero Moraes, Eis o rosto de Santo Antônio! 2014
Il vero volto di Sant’Antonio
New insights into the physical appearance of St Anthony of Padua
Questões político-sociais na Legenda Assídua

Sem comentários: