sexta-feira, 7 de abril de 2017

Alcântara (a ponte, propriamente dita)

Esta ponte tem a infausta celebridade de dar o nome á batalha que junto d'ella pelejaram as tropas de Dom Antonio, prior do Crato, contra o exercito invasor de Filippe II de Castlella, commadado pelo duque de Alba.

Ponte de Alcântara, desenho de Nogueira da Silva, 1862.
Imagem: Hemeroteca Digital

Esses poucos defensores da independencia nacional succumbiram ao poderio da esquadra e das armas hespanholas, que só depois d'esta victoria se apossaram de Lisboa, começando n'esse dia, 25 de agosto de 1580, o seu tyrannico dominio de Portugal, durante sessenta annos de oppressão e de inauditas extorsões. 

Foi já descripta esta memoravel batalha, com os toques e colorido que pedia tal quadro, pela magica penna do sr. Rebello da Silva, a pag. 49 e subsequentes d'este volume do "Archivo" (e também com mais desenvolvimento na Historia de Portugal nos seculos XVI e XVII por L. A. Rebello da Silva t. II pag. 530).

Ponte de Alcântara, Batalha de Alcântara, 1580, representação c. de 1595.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

N'aquelle tempo a ponte d'Alcantara estava solitaria, porque ficava n'um arrabalde despovoado pertencente á freguezia d'Ajuda. Foi-se ella successivamente cobrindo de habitações, hortas e residencias nobres, eté que se formou um bairro, e depois do terremoto uma parochia.

Em 1743 alargou-se a ponte e foi-lhe foi posta uma imagem de S. João Nepomuceno, de pedra, estatura colossal, obra do esculptor italiano João Antonio de Padua, que além de muitas outras de estatuaria que d'elle existem ainda em Portugal, fez a esculptura da capella-mór de S. Domingos de Lisboa, as imagens da capella-mór da Sé de Evora e os pulpitos da egreja do collegio de Santo Antão.

S. João Nepomuceno,
João A. de Pádua, 1743.
Imagem: Wikimedia

Padua era comtudo um esculptor mediocre, e as obras que fez devem muito á habilidade de Pedro Antonio Luques, seu ajudante e debastador [...]

Lisboa, porta da cidade junto à ponte de Alcântara e estátua de S. João Nepomuceno.
Imagem: Arquivo Municipal de Lisboa

Quando ultimamente se fez a circumvallação de Lisboa, cortou-se parte da cortina da ponte para recuar mais a porta da cidade que alli ha.


(1) Archivo Pittoresco, n.° 23, 1862

Artigos relacionados:
Romantismo e Patuleia na Quinta da Rabicha
Geração de 70 e Quinta da Rabicha

Leitura adicional:
Archivo Pittoresco, n.° 7, 1862
A. Vieira da Silva, A Ponte de Alcântara e suas circunvizinhanças...
Os limites de Lisboa 
Leonor Albuquerque, Estudo da Paisagem do Vale de Alcântara
José Azevedo, A memória na cidade e os baluartes de Alcântara...
Paixão por Lisboa

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