Há três dias que ando metido na ria, com a barba por fazer, sujo como um ladrão de estrada e fora de toda a realidade. Afigura-se-me que vivo num país estranho — amplidão, água e sonho. Pelo areal os palheiros da Costa Nova, S. Jacinto e da Torreira... Que me importa! (1)
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| Companha da Costa Nova, ex-voto ao Senhor Jesus dos Navegantes, séc. xix Offerecido ao Senr. Jesus, Por Jese Carlos Fernandes Parraxo MMI/Centro de Religiosidade Marítima Google Arts & Culture |
A barra de Aveiro
A barra de Aveiro era extremamente móvel, tomando sempre o rumo do Sul; em apenas duas décadas, desde a tentativa da sua fixação perto da Vagueira por João Iseppi, arquitecto hidráulico italiano que dirigiu as obras no início dos anos oitenta (1780-1781), o cordão dunar tinha avançado mais de 4 km para Sul, estando a barra próxima de Mira e a cerca de 24 km da cidade de Aveiro (...)
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Extracto do Mappa geral Hydrographico da embocadura do Vouga, e da Ria ou Lago do mesmo nome. |
Reinaldo Oudinot apresentou uma memória sobre as causas do assoreamento dos rios e da costa portuguesa e discutiu o modo de diminuir essas causas aplicadas aos portos, tendo abordado o caso mais grave de todos, o do porto e barra de Aveiro.
António Rangel de Quadros, guarda-mor da Alfândega de Aveiro, embora não fosse membro da Sociedade, apresentou, em Março de 1801, um plano para a abertura da barra de Aveiro, ano em que D. Rodrigo de Sousa Coutinho iniciou o processo de projecto. (2)
A Costa Nova
A abertura da Barra Nova de Aveiro em 3 de Abril de 1808, barra artificial, foi, pela sua má localização, a causa do assoreamento da orla marítima da praia de São Jacinto, verdadeira calamidade que obrigou as Companhas de Ílhavo a transferir os seus assentos para as areias ao Sul do paredão da Barra, pois ali se tornava impraticável o exercício da pesca.
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| Mappa da Ria de Aveiro para intelligencia do plano da abertura da nova barra por Luiz Gomes de Carvalho, 1813 Biblioteca Nacional de Portugal |
Desta emergência do abandono da Costa Velha pelas Companhas dos pescadores de Ílhavo surgiu, para estas, a imperiosa necessidade de procurarem sítio adequado onde pudessem trabalhar.
ré.
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| Preparando as redes na Costa Nova ed. Faustino António Martins (F A
Martins/FAM/Martins e Silva/MS), fotografia original de Paulo Guedes & Saraiva, Ílhavo n° 15, década de 1900. Delcampe |
O ilhavense Luís dos Santos Barreto foi o primeiro arrais a deixar a assoreada Costa do Norte e a estabelecer-se na Costa do Sul, assento da sua Companha, cujo local já tinha de antemão escolhido e que designou com o nome de Costa Nova, que, afinal, era um Enclave, pois esta zona não pertencia a Ílhavo.
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| Planta das Obras da Barra de Aveiro pelo Sarg.to Mor do R Corpo de Eng.os Luiz Gomes de Carvalho, 1876 planta aguarelada realizada pelo engenheiro Silvério Augusto Pereira da Silva A Barra da Laguna de Aveiro no Século XIX cf. AMORIM, I. (2008). Porto de Aveiro: entre a terra e o mar |
Toda a orla marítima entre Ovar e Mira era pertença territorial e exclusiva do concelho de Ovar. Só em 1855, um decreto de 24 de Outubro, anexou ao domínio dos concelhos da Feira, Ovar, Estarreja, Aveiro, Ílhavo e Vagos, a faixa litoral marítima confinante com a terra firme pertencente a cada um destes seis concelhos. (3)
A Gafanha
O Padre João Vieira Rezende, na sua Monografia da Gafanha (1944), diz que Gafanha é "tôda a região arenosa dos concelhos de Ílhavo e Vagos com cêrca de 25 quilômetros de comprimento por 5 de largura, abracada do Norte ao Sul (lado poente) pelo rio Mira e do Norte ao Sul (lado nascente) pelo rio Boco, afluentes da Ria-de-Aveiro, e confinando pelo Sul com uma linha que, saindo dos Cardais de Vagos, vai fechar ao Norte do lugar do Pogo-da-Cruz, freguesia de Mira.
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| Aveiro.Vista da ria, tirada da ponte da Gafanha, ed. Alberto Malva e Roque Sucessores (M&R/MIR) n° 764, c. 1905. Delcampe |
Pela identidade da sua origem, topografia, condigôes de vida, costumes, etc, consideramos como uma continuagão da Gafanha a duna situada naqueles dois concelhos, entre o Oceano e a Ria." (4)
A Vagueira
Em 1863 obstruiu-se a barra
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| Praia da Vagueira, Ponte sobre a Ria, ed. Supercor. Aveiro e Cultura |
Para o sul da Costa Nova, próximo da antiga barra da Vagueira, hoje totalmente obstruída, existe o porto de pesca do Arião (Areão) onde se exerce unicamente a pesca costeira (1886)... (6)
(1) Raul Brandão, Os Pescadores, Paris, Ailland e Bertrand, 1923
(2) O Programa de Obras Públicas para o Território de Portugal Continental, 1789-1809, vol. I
(3) Ramalheira, Como nasceu a praia da Costa Nova
(4) Henrique Souto, Comunidades de pesca artesanal na costa portuguesa... 1998
(5) Revista de Turismo n° 95 e 96, junho de 1920
(6) Arthur Baldaque da Silva, Estado actual das pescas em Portugal: comprehendendo a pesca maritima... 1886
Mais informação:
Cátia Martins, A Barra da Laguna de Aveiro no Século XIX Impactos da Ação Antrópica na Dinâmica Lagunar
Inês Amorim, Aveiro e sua provedoria no séc. xvii: 1690-1814i
Alfredo Pinheiro Marques, A arte-xávega da Beira Litoral e as suas embarcações, Revista da Armada n° 555, setembro-outubro de 2000







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