domingo, 9 de abril de 2023

Almirante Marquês de Nisa, a Royal Navy

D. Domingos Xavier de Lima (1765-1802)

A 9 de Junho (de 1798) recebe ordens, pelo brigue Falcão, entretanto chegado aos Açores, para regressar a Lagos e avisar lorde Jervis que a esquadra estava disponível para cooperar com a Royal Navy (...)

Domingos Xavier de Lima (1765-1802), 7° Marquês de Nisa, Domenico Pellegrini, 1801.
Museu de Marinha



Esquadra do Oceano 1798-1800

 Tipo  Nome  Comandante  Guarnição 
 Peças 
 Nau  Príncipe Real   Chefe de divisão
 Conde de Puysegur 
 948   90 
 Nau  Rainha de Portugal    Chefe de divisão
 Thomas Stone  
 605   74 
 Nau  Afonso de Albuquerque   Chefe de divisão
 Donald Campbell  
 564   64 
 Nau  São Sebastião   Chefe de divisão
 Sampson Michell 
 564   64 
 Fragata   Benjamim   Capitão-tenente
 Jorge Thompson  
 111   26 
 Bergantim 
 Falcão  Capitão-tenente
 Miguel José de Oliveira Pinto 
 120  24

Nisa foi então a Cádis na Afonso de Albuquerque para se encontrar com Jervis; nesse encontro, realizado a 2 de Julho na nau britânica Ville de Paris, e a 5 de Julho já estava de volta a Lagos com as instruções para a comissão.

A frota portuguesa iria incorporar-se, como força auxiliar, sob as ordens de Nelson.

Nisa deveria ainda, segundo as instruções de Jervis, incorporar na sua esquadra o brulote Incendiary; entrar o mais rapidamente possível no mediterrâneo para se juntar a Nelson, evitar comunicar com as costas da Barbaria, Espanha ou Gibraltar e procurar obter informações sobre os movimentos de Nelson por navios de países neutros; navegar sempre ao largo de Maiorca, Livorno e Nápoles; depois de reunido com Nelson deveria tomar o comando da vanguarda da esquadra aliada, por ser o oficial mais graduado depois do comandante-chefe.

Nisa foi ainda informado por Jervis que no dia 6 de Junho tinha sido avistado, junto à costa napolitana, um grande comboio francês com tropas e escoltado por 8 naus e 5 ou 6 fragatas.

Os britânicos ignoravam ainda que o destino dessa força francesa era o Egipto onde Napoleão desembarcou e venceu os turcos na chamada batalha das Pirâmides; mas a sua campanha ficaria comprometida pela derrota e destruição da Armada francesa na batalha de Aboukir (ou do Nilo) pela esquadra britânica de Nelson em 1 de Agosto.

Jervis envia ainda uma carta a Nelson em que afirma, referindo-se aos navios portugueses; Envio esta pelo Marquês de Nisa que, eu espero, cedo vos auxiliará com quatro navios de linha bem manobrados, comandados e ordenados. O exercício que estes navios, no cruzeiro dos Açores, têm tido, melhorou os marinheiros no seu mister, os quais se encontram notavelmente sãos (...)

O Marquês concorda comigo que o melhor é experimentar os navios na vossa linha de batalha dois na divisão de estibordo, os quais serão comandados pelo marquês, e dois na de bombordo, comandados por Troubridge. Comuniquei este arranjo aos Lordes do Almirantado. Depois de abastecida, a esquadra portuguesa largou de Lagos a 13 de Julho em busca das forças de Nelson; no dia seguinte a nau inglesa Levianthan informou Nisa de que os franceses tinham tomado a ilha de Malta (...)

Não tendo encontrado Nelson em Nápoles, Nisa navegou para o Egipto onde, diziam, aquele se teria dirigido; mas também em Alexandria, onde chegou a 25 de Agosto, já o não encontrou; apenas ali estavam as 3 naus de Hood que ali ficaram de bloqueio depois da batalha naval de Aboukir.

A presença dos navios portugueses, pouco depois da batalha, terá levado Napoleão a pensar que estes tinham participado na batalha de Aboukir e a publicar, em Ordem do Exército que tempo virá que a nação portuguesa pagará com lágrimas de sangue o ultraje que está fazendo à República Francesa (...)

A 15 de Novembro a frota recebe ordens para apoiar um ataque a Livorno com tropas napolitanas. Quatro dias depois iniciaram-se os embarques das tropas largando a 22 com os navios ingleses; mas sendo mais veleiros, os portugueses atingiram o destino um dia mais cedo o que deixou Nelson irritado (...)

Rendida a guarnição da cidade e desem- barcadas as tropas regressam os navios a Nápoles, ficando a São Sebastião, a Benjamim e o Balão em patrulha ao largo do golfo de Génova.

O exército napolitano foi derrotado pelos franceses apesar de uma tentativa, apoiada por Nelson, de recuperar a Itália; o rei é obrigado a retirar para a Sicília. Nelson prepara em segredo esta retirada, mandando para bordo dos navios ingleses tudo quanto pode ser retirado dos palácios além dos tesouros régios e das jóias da rainha.

O Arsenal de Marinha sofre também uma pilhagem completa da parte dos britânicos (...)

A esquadra portuguesa recebe novas tarefas que dispersam os seus navios; a nau Afonso de Albuquerque é enviada na expedição a Tripoli, a São Sebastião segue de cruzeiro de bloqueio para a costa de Génova e a Rainha de Portugal dirigiu-se a Corfú e Trieste, para transportar os 70 refugiados eclesiásticos que haviam sido salvos em Nápoles (...)

Assinado o armistício a 14 de Maio foram entregues 200 prisioneiros feitos pelos portugueses e recebeu-se um valioso resgate, em dinheiro, pela libertação da fragata e os prisioneiros franceses que estavam em poder do Bei e que os ingleses haviam, sem sucesso, tentado já resgatar. Largando a 20, a nau chegou a Palermo a 31 de Maio.

O sucesso obtido em Trípoli levou D. Domingos a tentar idêntico acordo com a regência de Túnis. Para ali seguiu, a 20 de Junho de 1799, D. Rodrigo Pinto Guedes no brulote inglês Stromboli, mas só em Outubro atingiu Túnis; a habilidade diplomática de Pinto Guedes conseguiu obter uma paz com os tunisinos apesar da má vontade de Nelson como se demonstra pela carta muito secreta que enviou ao cônsul inglês naquela cidade:

O Marquês de Nisa manda o seu primeiro comandante, Dom qualquer coisa Pinto, para negociar uma trégua ou paz com Portugal. Este homem detesta o inglês. Peço-vos encarecidamente para entravar e não deixar progredir a sua missão, até que a do rei de Nápoles esteja cumprida. Tente, por todos os meios possíveis, impedir a paz com Portugal; faça ver ao bei que ambas as pazes ou tréguas devem ser assinadas ao mesmo tempo (...)


Os franceses, sitiados, chegaram ao último grau de necessidades e já se falava em capitulação e entrega, quando Nelson, para não deixar essa glória aos portugueses, fez render a esquadra portuguesa por navios ingleses.

Passados poucos dias Malta entregou-se ao próprio Nelson. (1)


(1) José Rodrigues Pereira, Academia de Marinha, Memórias, 2015

Informação relacionada:
O ilustre almirante Marquês de Nisa, Revista da Armada, 2004
D. Domingos Xavier de Lima, 7° Marquês de NIsa (1765-1802, Revista da Armada, 2007
Academia de Marinha, Memorias

Mais informação:
Navios da Real Marinha de Guerra Portuguesa I
Navios da Real Marinha de Guerra Portuguesa II
etc.

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