sexta-feira, 17 de junho de 2016

Os festejos de 24 de julho de 1874

Para ampliar a commemoração histórica, que se comprehende no capitulo antecedente, darei em seguida o programma da primeira grande commissão organisada em Lisboa para os festejos de 24 de julho e a relação d'esses festejos, relativa a 1874, e copiada de Diário de Noticias n.° 3:037, do dito anno. 

Sede do Diário de Noticias, fundado em 1864, na antiga rua dos Calafates no edifício da Typographia Universal in Edição comemorativa do cincoentenário do Diario de Notícias
Imagem: Hemeroteca Digital

Á falta de informação mais minuciosa e completa, quando menos far-se-ha idéa do modo como o povo liberal relembra tamanho facto histórico, e aqui ficará tal registo.

Programma dos festejos do dia 24 de julho, anniversario da entrada do exercito libertador em Lisboa

1.° No dia 23 de julho, celebrar-se-ha na egreja dos Martyres, pelas 11 horas da manhã, uma missa commemorativa, por aquelles portuguezes que succumbiram nas lactas politicas, travadas no paiz, e que terminaram em 1834.

2.° Ao romper da aurora no dia 24 de julho, subirão ao ar 6 girandolas de foguetes em cada uma das freguezias da captal, içando-se a bandeira nacional por essa occasião nas torres das respectivas egrejas.

Estandarte Liberal, Bandeira nacional de Portugal de 1830 a 1910.
Imagem: Wikipédia

3.° A uma hora da tarde haverá um solemne Te-Deum na egreja de Santa Justa e Rufina (S. Domingos) findo o qual, a grande commissào encamínhar-se-ha ao tumulo do duque da Terceira, e sobre elle deporá uma coroa.

4.° Convidar-se-hão as philarmonicas de Lisboa para ao romper do dia 24, tocarem o hymno nacional na praça de D. Pedro, junto da estatua, percorrerem as ruas da cidade, e fixarem-se nas primeiras praças e largos mais importantes, durante a noite.

5.° O passeio do Rocio será gratuitamente franquiado nessa noite, onde tocarão 3 bandas de musica.

Illuminação do Passeio Publico, litografia A. S. Castro, 1851.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

6.° Dar-se-ha no dia 24 um jantar aos presos das cadeias civis de Lisboa.

7.° Serão convidados todos os habitantes da capital a illuminarem exteriormente as suas casas na noite de 24 de julho.

8.° Solicitar-se-ha da empresa dos theatros espectáculos gratuitos na mesma noite.

Antigo Circo Price, demolido para a abertura da avenida da Liberdade, desenho do natural por Casellas in O Occidente 1883.
Imagem: Hemeroteca Digital

9.° Pedir-se ha ao governo de sua magestade que declare de grande gala o dia 24 de julho para sempre.

10.° O ex.mo duque de Loulé, presidente da grande commissão eleita em reunião popular de 14 do corrente mez, será encarregado de dar conhecimento do presente programma a sua magestade el-rei, significando-lhe o desejo que a commissâo tem de que o chefe augusto do Estado e e toda a família real assistam ás solemnidades religiosas dos dias 23 e 24 de julho.

Nuno J. S. de M. R. de M. Barreto (1804-1875), 1.° duque de Loulé.
Imagem: Wikipédia

11.° Rogar-se-ha ao em.mo patriarcha, que presida aos actos religiosos dos dias 23 e 24.

12.° Serão convidados pela imprensa o ministério, os membros do corpo legislativo, os veteranos da liberdade, os ajudantes do imperador e do duque da Terceira, os tribunaes, a imprensa, a ex.a camara municipal de Lisboa, todas as auctoridades, as corporações e as associações, para assistirem ás solemnidades dos dias 23 e 24, ou fazerem-se n'ellas representar.

13.° A commissão dará conhecimento d'este programma aos ex.o presidente do conselho de ministros e ministro do reino.

Lisboa, 17 de julho de 1872. — João António dos Santos e Silva, Joaquim Possidonio Narciso da Silva, José Ribeiro da Cunha, João Manuel Gonçalves, António de Nascimento Rozendo, Visconde dos Olivaes, Manuel José Mendes, Manuel Patricio Alvares, José Baptista d'Andrade.

Palacete Ribeiro da Cunha, em estilo neomourisco desenhado por Carlos Affonso, 1877.
Imagem: Olhai Lisboa

Começaram e terminaram os festejos commemorativoa de 24 de julho mais concorridos e mais brilhantes que nunca, sem que occorressem desordens, nem desaguisados em tão numerosos ajuntamentos como os que se viram; nem que cousa alguma viesse empanar-lhes o vivo esplendor.

O povo demonstrou, nas suas manifestações espontâneas, pacificas e enthusiasticas, que ama a liberdade e a deseja manter: e um povo assim, é digno d'ella. Registaremos aqui, pois, mais esta pagina de affirmação aos sentimentos liberaes que tão enraizados estão na capital, como em todo o reino.

Apesar de se haver combinado que só se lançariam ao ar foguetes quando desse a salva no castello de S. Jorge, durante a noite de 23 para 24, e em diversos pontos da cidade, se ouviram vivas á liberdade e o estalar amiudado, e quasi sem interrupção, do fogo festival, principalmente no Rocio, onde alguns grupos queimaram fogo de sala.

Ao romper da aurora, deu o castello a salva costumada e de todos os largos e praças subiram aos ares girandolas sem conta, tocando as philarmonicas em algumas praças e por diíterentes ruas, e as bandas regimentaes ás portas dos respectivos quartéis.

Vista oriental de Lisboa tomada do jardim de S. Pedro de Alcântara, 1844.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

Muito antes de nascer o dia, já estavam na praça de D. Pedro IV, e em volta do monumento, onde tinham accendido os fogachos de gaz, milhares e milhares de pessoas. Tinham vindo alli, para a alvorada as musicas de infanteria 11 e de caçadores 6, depois vieram a dos bombeiros e da viuva Roxo.

Inauguração da estátua de D Pedro IV em 1870.
Imagem: Wikipédia

A sociedade Recreio Artístico, que tinha concedido um baile campestre a favor dos veteranos da liberdade, aliás muito concorrido, cumpriu o que promettera. Foi tocar a alvorada para o campo de Sant'Anna, onde vimos reunidas mais de 1:000 pessoas.

Acabado o toque a sociedade seguiu para o Rocio, executando hymnos nacionaes, acompanhando a aquella multidão, onde se notavam muitos veteranos.

No caes de Sodré e Corpo Santo, fizeram a alvorada a banda de ex alumnos da casa pia e a philarmonica Seixalense e outra, que percorreram todo o Aterro, comprimentando-se, e eram também seguidas de numeroso povo, que dava vivas e lançava foguetes.

Pode-se dizer que, pelo movimento das ruas, uma parte importante da população viera saudar jubilosa o despontar do dia em que se commemorava uma grande data.

Desde as oito horas da manhã até ás 11 distribuiu-se, em varias freguezias, bodo aos pobres, constando de pão, carne, arroz, toucinho e esmolas de 100, 200 e 500 réis ; e notaremos os das commissôes voluntariamente organisadas em S. Paulo, S. João da Praça, Mercês, S. José, Pena, Esperança, calçada de Santa Anna, Anjos e Soccorro.

N'esta ultima freguezia havia duas commissôes. Na Encarnação havia também duas, uma da freguezia que deu esmola de 1:000 réis a 41 veteranos e outra na Rua dos Calafates. Os bodos foram distribuidos na presença das respectivas commissôes, por damas ou por meninas, tocando durante o acto as philarmonicas, que obsequiosamente se prestaram a isso.

Em algumas freguezias a abundância dos donativos deu logar a augmentar o bodo. Durante a distribuição do bodo na rua dos Calafates tocou uma orchestra, composta de professores e organisada por influencia de um dos membros da commissão.

Eram quasi três horas da tarde quando chegou á ponte dos vapores do Terreiro do Paço, a bordo do Lusitano a grande commissão de Almada com a camara municipal d'aquelle concelho, e muitos cidadãos liberaes que a acompanhavam. 

Praça do Comércio e Rio Tejo, Francesco Rocchini (1822 - 1895), c. 1868.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

Na ponte esperavam estes cidadãos a grande commissão de Lisboa, representada pelo seu presidente e muitos de seus membros, vereadores do municipio de Lisboa, veteranos da liberdade, e outras pessoas, levando a bandeira da commissão lisbonense o vogal Francisco de Almeida e da associação dos veteranos o sr. Silva, empregado na alfandega e fundador da mesma associação.

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António da Silva, o veterano da bandeira, fundador da associação.
Imagem: Archive.org

Logo que a commissão desembarcou, subiram ao ar algumas girandolas de foguetes, tanto de bordo do "Lusitano", como da praça, onde se tinham agglomerado milhares de pessoas. 

As duas commissôes, levando na frente duas philarmonicas a dos bombeiros e Primeiro de Dezembro e logo após as bandeiras indicadas, seguiram pela rua do Ouro em direcção do Rocio, onde pararam para fazer continencia á estatua do imperador D. Pedro IV.

D'ahi seguiram para a egreja de Santa Justa, entre os repetidos vivas á liberdade, e aos veteranos, que se soltavam durante o transito.

Os veteranos, parte uniformisados, parte á paizana, mas todos sob a direcção do seu presidente, não seriam menos de 200.

O vasto templo de Santa Justa, preparado para o Te-Deum pela solicitude dos procuradores e andador da irmandade do Santíssimo, sob a direcção do sr. Rosa Araújo, ostentava as suas melhores e sumptuosas galas, com superabundância de armações de custo, numero admirável de luzes e profusão de flores naturaes.

No throno e nos altares viam-se mais de 700 lumes. O templo estava completamente cheio. Vimos alli representadas todas as classes.

A imprensa também teve a condigna representação, achando-se alguns jornalistas juntos com a grande commissão, e outros no corpo da egreja.

As associações operarias e algumas escolas egualmente tinham alli delegados seus, como o grémio popular, que era representado pelo seu presidente o sr. Silva e Albuquerque.

A commissão da Pena mandou áquella solemne ceremonia as 33 meninas, que vestira de manhã, e que, durante o acto, estiveram de velas accesas e com ramos de perpetuas e laço azul e branco.

Por volta das três horas e meia chegaram, um após outro, el-rei D. Luiz e D. Fernando, os quaes foram recebidos, á porta da egreja, pelo ministério, membros da grande commissâo e veteranos, com as respectivas bandeiras, arcebispo de Mytelene, collegiada, irmandade do Santíssimo, altos funccionarios militares e civis.

As Festas da Liberdade no Porto — Veteranos da Liberdade que tomaram parte no préstito in O Occidente, 1883.
Imagem: Hemeroteca Digital

El-rei trajava o uniforme de general. Sua magestade a rainha não pôde concorrer a Lisboa por incommodo de saúde. Logo que suas magestades tomaram assento nas cadeiras de espaldar, que lhes estavam proparadas no altar-mór, lado do Evangelho, debaixo de riquíssimo docel, entoou o Te-Deum o sr. arcebispo a grande instrumental.

D. Luis I (1838-1889), rei de Portugal de 1861 a 1889.
Imagem: Palácio Nacional da Ajuda

Em frente da egreja, fazia a guarda de honra uma força de 100 homens da municipal, com capitão e dois subalternos e a musica.

A policia do largo e das ruas circumvisinhas era feita por uma força de cavallaria municipal commandada por um subalterno e guardas civis.

A entrada e saida de el-rei estalaram muitas girandolas de foguetes. O Te-Deum que era o de Marcos de Portugal, sob a regência do sr. Monteiro de Almeida, com 21 vozes e 42 instrumentistas, terminou ás 4 horas e 20 minutos.

Depois da ceremonia religiosa, el-rei dirigiu-se, em carruagem que o conduzira ao arsenal da marinha, onde o esperava o estado maior, e ahi montou a cavallo para a revista.

El-rei D. Fernando voltou para as Necessidades e em seguida regressou a Cintra, d'onde viera de propósito na véspera.

As quatro e meia, sua magestade o generalissimo do exercito, saía do arsenal em direcção á praça do Commercio, montando um soberbo cavallo baio e era seguido por um luzido estado maior, do qual faziam parte os ajudantes de campo, generaes (Jaula e D. Luiz de Mascarenhas; coronéis Folque e Cunha, e officiaes ás ordens, D. Francisco de Almeida, D. Manuel de Mello e Vito Moreira, e dos generaes Barreiros, Palmeirim, barão de Rio Zêzere, Mancos de Faria, Luiz Maldonado, Moraes Rego, Tavares de Almeida e Castello Branco e respectivos ajudantes de campo.

A divisão achava-se formada na praça do Commercio. O aspecto de todos os corpos em parada e o quadro que offerecia toda a divisão formada em columnas era deveras brilhante. Ao entrar elrei na praça as tropas apresentaram armas e as bandas tocaram o hymno real.

Finda a revista o generalissimo tomou pela rua do Oiro, seguido por toda a divisão para fazer a continência á estatua do imperador. El-rei e o seu estado maior collocaram-se sob as tribunas que se levantaram no theatro de D. Maria, para ver o desfilar de todas as tropas.

Na tribuna do centro não havia pessoa alguma da família real, e nas lateraes viam-se o ministério, parte do corpo diplomático estrangeiro, camará municipal, a grande commissão dos festejos, muitas damas, etc.

A força da guarda municipal que estivera ás portas do templo de S. Domingos, veio postar se em linha em frente de el rei, abrindo assim largo caminho para o desfilar das tropas.

A divisão passou em continência, como dissemos ; a artilheria e infanteria em columnas de divisões e a cavallaria a três. A marcha na continência em geral foi boa, havendo apenas um incidente que alterou o bom andamento da artilheria, por lhe ter caído uma parelha de muares na rua do Oiro.

Algumas divisões de caçadores e infanteria não tinham sufficiente espaço para estenderem bem em linha, indo algumas filas á rectaguarda por causa da grande massa de povo que se agglomerava em todos os pontos.

A divisão retirou pela rua Augusta e alguns corpos não seguiram para quartéis pelo itinerário indicado, por ter o sr. general commandante ordenado, á ultima hora, que seguissem o que lhes fosse mais conveniente.

A divisão compunha-se do regimento de artilheria n.° 1, com 6 metralhadoras, 36 canhões Krupps e 6 pecas de montanha, uma brigada de cavallaria com 6 esquadrões, commandada pelo sr. infante D. Augusto, levando ás suas ordens os srs. D. João de Mello e visconde de Seisal, e duas brigadas de infanteria.

A força de toda a divisão era de 5:210 praças, 567 cavallos, 388 muares e 48 bocas de fogo. Artilheria n.° 1 levava 510 homens, lanceiros da rainha 280 cavallos, e cavallaria n.° 4, 287; caçadores n.° 2, 430 homens; caçadores n.° 5, 578; infanteria n.° 1, 590; infanteria n.° 2, 600; infanteria n.° 5, 680; infanteria n.° 7, 625 e infanteria n.° 16, 630.

D. Carlos I em visita ao regimento de Lanceiros 2, foto de Joshua Benoliel, 1907.
Imagem: Palácio Nacional da Ajuda

Estes corpos não apresentaram maior força por terem alguns destacamentos e grande numero de praças licenciadas.

O estado de asseio de todos os corpos, e a maneira como elles se apresentaram em parada, magnificamente armados e equipados, satisfez todos os espectadores e até os mais escrupulosos em cousas militares.

A força de artilheria ia imponente. Quarenta e oito bocas de fogo, como as que nós apresentámos, é força respeitável em qualquer parte da Europa.

A cavallaria ia toda bem montada e em força quasi completa. Parte do corpo diplomático estrangeiro finda a passagem das tropas foi felicitar o sr. ministro da guerra pela maneira brilhante como se apresentou a divisão.

Os corpos da guarnição de Belém chegaram á noite a quartéis, e a banda de caçadores da rainha, depois da parada, marchou em seguida para Queluz, indo em char-á-bancs a expensas de sua magestade.

Os navios durante o dia estiveram embandeirados em arco.

Lisboa — Vista do Tejo, década de 1900.
Imagem: Delcampe

Viram-se, em todo o dia, innumeros homens com perpetuas ao peito, assim como muitas damas com ramos de egual flor.

Ao pôr do sol salvou o castello e lançaram-se mais girandolas.

A concorrência que fora extraordinária aos actos públicos do dia, e que se tornara notável á tarde, por occasião da revista e continência militares, tornou-se assombrosa á noite.

Não nos lembra vêr, em época alguma do anno, nas occasiões festivas, que dâo movimento ás massas populares, a affluencia d'este anno ás ruas de Lisboa.

A illuminação foi geral e deslumbrante em muitas partes.

A mais vistosa de todas era a da praça de D. Pedro, que se compunha de quatro grandes pyramides com 1:200 bicos de gaz, terminando com fachos, que illuminavam perfeitamente a praça e a estatua.

As pyramides pela frente e rectaguarda, estavam ligadas por festões, que tinham no centro duas estrellas, que também lançavam bastante luz por muitos bicos de gaz.

O edifício do theatro de D. Maria e os demais em volta da praça viam-se egualmente illuminados. Eram do mesmo modo brilhantes as illuminaçôes das rua dos Calafates, que, desde a travessa da Queimada até á rua das Salgadeiras, tinha um sem numero de bandeiras nas janellas e cruzando a rua bandeiras, festões, lustres e balões; a do largo do Camões, que tinha illuminação em volta do monumento com 200 lumes de gaz, afora os da estrella central; as do Corpo Santo que tinha dois arcos; cães do Sodré e Aterro, que tinha outros dois. onde se lia a data de "23 de julho de 1833", bandeiras, festões, mastros com escudos e estandartes.

Theatro D Maria II, Nogueira da Silva (desenho), Coelho Junior João Pedrozo (gravura), 1863.
Imagem: Archivo Pittoresco, Hemeroteca Digital

Ali a illuminação era a balões em prodigiosa quantidade. Em outros largos e praças havia illuminações mais ou menos vistosas. A estação dos vapores Burnay, no Aterro, tinha grande numero de lanternas de cores, na frente da barraca. Seria difficil enumerar todos os edifícios particulares, além dos públicos, que apresentaram as suas fachadas illuminadas com lanternas ou gaz.

Entre outros, notaremos todos os hotéis do Chiado, sobresaindo o "Gibraltar", que hoje está no palácio Ouguella; os escriptorios da "Correspondência de Portugal" e de outras redacções; todo o edifício da Typographia Universal e escriptorios do "Diário de Noticias" e "Diário Popular"; companhia de vapores e outras; confeitaria na rampa de Santos; fabrica de gelo dos srs. Ferreira & C.a; as casas de vários cônsules e ministros estrangeiros, etc.

O Terreiro do Paço estava segundo o costume, mas em frente do caes das Columnas fundeara o vapor "Lynce", que illuminou graciosamente e durante a noite queimou alguns fogos de bengala.

O castello de S. Jorge exterior e interiormente tinha bonita illuminaçâo.

Nos coretos erguidos nos differentes pontos notámos: Caes do Sodré, philarmonicas Verdi, da Ponte Nova, e Capricho, do Barreiro; Corpo Santo, ex-alumnos da casa-pia; Ribeira Nova, Seixalense;
praça de D. Luiz, defronte da fabrica, fanfarra de curiosos; fim do Aterro, banda da guarda municipal; rua dos Calafates, philarmonica 24 Julho; rua do Currião, Timbre dos Artistas; largo do Camões, Alumnos de Minerva; Campo de Sant'Anna e largo do Tabellião, Recreio Artístico; largo da rua dos Canos, Xabreguense; largo da Esperança e Caes de Santarém, também philarmonicas; e no Rocio as bandas de infanteria de caçadores 6, e por vezes varias philarmonicas, sendo ali mais permanentes as Primeiro de Dezembro, de Aldeia Gallega, e dos bombeiros, que levava muitas figuras e apresentou-se bem uniformisada.


Barra de Lisboa vista do Caes do Sodré.
Imagem: Internet Archive

Repetimos: o modo como correram os festejos de 24, fazem o maior elogio do povo lisbonense. É agradável deixar isto registado. E cabe-nos, com egual satisfação, mencionar que, na ordem e organisação da commemoraçào solemne, pertence bom quinhão de louvor á boa vontade e ao zelo da grande commissão, e especialmente á sua commissão executiva.


(1) Aranha, Pedro Wenceslau de Brito, Esboços e recordações, Lisboa, Typographia Universal, 1875, 246 págs.

Leitura relacionada:
Maria Isabel da Conceição João, Memória e Império, Comemorações em Portugal (1180-1960), Lisboa, Universidade Aberta, 1999
O dia de hontem na Piedade

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