domingo, 15 de outubro de 2017

Arte Namban * אמנות נאנבאן * S. Francisco Xavier e os kurofune

Segundo fontes japonesas, dois Nambanjin [Bárbaros do sul] chegaram às costas da ilha de Tanegashima, no sul do Japão, em 1543. Três anos depois, Jorge Álvares escreveu um primeiro relatório sobre o Japão, depois da chegada dos Portugueses, que contém a descrição de plantas, animais e vulcões existentes no país, assim como descrições dos Japoneses e dos seus costumes.

Nanban Six-Fold Screen Depicting the Arrival of a Portuguese Ship (kurofune).
Imagem: Christie's

Jorge Álvares encontrou Francisco Xavier em 1547 em Malaca e apresentou-lhe Anjiro (Yajiro) que tinha vindo do Japão com os Portugueses. Este encontro parece ter sido decisivo na ida de Francisco Xavier e outros missionários para o Japão (Matsuda, 1965: 4).

D. João III e o núncio apostólico da Índia, ou A partida de São Francisco Xavier em 1541, aut. desc. c. 1730.
Imagem: Wikipédia

... chegou o padre a Malaca o derradeyro dia de Mayo do mesmo anno de 49. & se deteve ahy alguns dias pelo mao aviamento que se lhe deu, mas em fim despois de passar ahy em Malaca muytos trabalhos, se embarcou em dia de São João do mesmo anno ao Sol posto em hum junco pequeno de hum Chim, que se dezia o Necodà ladrão, & ao outro dia pela menham se fez á vella, & se partio [...]

Dia de S. João a tarde, do ano de 1549 nos embarcamos em Malaca, pera virmos a estas pares, em um navio de hum mercador gentio China, o qual se offereceo ao capitão de Malaca de nos trazer a Japão. (2)

Detail of a Nanban Six-Fold Screen Depicting the Arrival of a Portuguese Ship (kurofune)
Imagem: Christie's

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Executado numa estrutura leve de engradado em madeira, coberta por sucessivas folhas de papel de forma a obter uma superficie uniforme onde o artista desenvolve o seu tema utilizando, neste caso, cores vibrantes, enquadradas por grandes superficies em ouro. Debruado a seda, é rematado por moldura lacada protegida por ferragens em cobre.

Biombo Namban, painéis  da esquerda (1593-1601).
Imagem: Museu Nacional de Arte Antiga

O reverso liso decorado com esquirolas metálicas, demonstra que se destinava a espaços de cerimonial. Este [O] par atribuido ao pintor Kano Domi, descreve visualmente da esquerda para a direita, episodios das actividades religiosas e comerciais dos portugueses no Japão.

Detalhe do templo cristão em biombo Namban (1593-1601).
Imagem: Museu Nacional de Arte Antiga

Aos pintores da escola de Kano a quem cabia retratar o quotidiano, não podia escapar o espanto e a curiosidade que causava a chegada do barco negro a Nagasaki [...] (3)

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Francisco Xavier realizou a maior parte das suas viagens por mar, onde terão ocorrido alguns dos seus mais notáveis milagres. Citando Lorenzo Ortiz na sua magnifica obra San Francisco Javier, Príncipe del Mar (1682):

"Todos los casos de su prodigiosa vida son raros, todos tiernos, todos admirables que los que le sucedieron en el mar navegando, o en bien y alivio de los que de él dependían. Fuera del mar raras son sus profecias, sus milagros, sus conversiones, su poder y los efectos de su caridad" [Lorenzo Ortiz, San Francisco Javier, Príncipe del Mar, ed. Ignacio Arellano, Pamplona, 2004].

S. Francisco Xavier no Japão Nau Santa Cruz.
Transformação da água salgada do mar em água doce (viagem de Malaca para Sancião na China, 1552).
Imagem: Museu de Marinha

O milagre da transformação da água salgada em água doce durante uma viajem por mar em 1552 é seguramente um dos milagres que mais contribuíram para a designação de Francisco Xavier, “o Milagre dos Milagres”, e sobretudo para o seu epíteto de “O Príncipe do Mar”. Este milagre que foi testemunhado por sessenta inquiridos durante os processos de 1616-1617 foi colocado no topo dos milagres incluidos na "Relatio Super Sanctitate et Miraculis Patris Franciscis Xaverii" em 1619. (4)

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Para os americanos, a expedição de [Matthew Calbraith] Perry ao Japão [1853-1854] foi apenas um pequeno passo numa expansão aparentemente invetável a oeste que, por fim, se extenderia a todo o Pacífico para abranger o exótico "Oriente". Para os japoneses, por outro lado, a intrusão dos navios de guerra de Perry foi traumática, confusa, fascinante e, finalmente, devastadora.

Durante quase um século antes de 1630, o Japão, de facto, empenhou-se a estimular as relações com os navios [kurofune] comerciais europeus e os missionários cristãos [...]

Na viagem de 1853 [310 anos depois da chegada dos portugueses], a frota de Perry consistia em duas fragatas a vapor (Mississippi e Susquehanna) e duas chalupas, com um total de 65 armas e um pouco menos de 1.000 homens.

Representação do USS Powhatan nas expedições militares e diplomáticas de Perry em 1853 e 1854.
Namban foi uma das formas de arte que floresceram no período Edo (c. 1603-1868). No caso da imagem acima, atente-se nas características pictóricas expressas na representação do navio, em meados do século XIX, comparando-as com as dos biombos do início do período. A regressão representativa extende os seus limites permitindo que a fragata a vapor seja representada com os castelos de prôa e popa, característicos da "Nau do trato" (entre outros anacromismos, persistências e derivas nativas do estilo), revelando a intemporalidade cultural do termo "kurofune".
Imagem: MIT Visualizing Cultures

Quando voltou no ano seguinte, sua armada cresceu para nove embarcações, com o novo navio comandante Powhatan juntando-se aos dois outros navios de guerra a vapor de rodas laterais. (5)


(1) Nambanjin: sobre os portugueses no Japão
(2) Afonso Rodríguez, Notas biográficas e estudo das referências documentais..., 2013
(3) MatrizNet
(4) Maria C. Osswald, S. Francisco Xavier no Oriente – aspectos de devoção e iconografia
(5) Black Ships & Samurai

Leitura relacionada:
Peregrinaçam de Fernam Mendez Pinto, Em que da conta de... [1583], ed. 1614
Daniela de Carvalho, Nambanjin: sobre os portugueses no Japão, 2000
12 January 1614, first edition of the book The peregrination of Fernão Mendes Pinto 31 years after his death, by friar Belchior Faria...
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