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Duque de Saldanha por John Simpson, após 1834 (MNSR). Imagem: Parques de Sintra |
Mas porque não figurava o conde de Saldanha entre os seus camaradas desde o dia 9 de julho do anno anterior em que a expedição liberal aportara á praia do Mindello?
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Vista da praia da Arnosa de Pampelido onde desembarcou o senhor Dom Pedro à frente do exército libertador. Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal |
Aprestava-se em França a expedição, quando, escolhido previamente o conde de Saldanha para chefe do estado maior do sr. D. Pedro, este, mandando-o chamar no dia 13 de janeiro de 1832, lhe communicava que o embaixador, de Hespanha promettia em nome do seu rei a neutralidade na futura guerra civil portugueza, sob a clausula de que Saldanha nao fosse à frente da expedição, e que, dado o caso contrario, Fernando VIl interviria com um exercito de quarenta mil homens [...]
E era exactamente a 24 de janeiro d'esse anno de 1833, no próprio dia em que Solignac, estreiando-se no commando salvador abandonava ao inimigo o importantíssimo monte do Crasto na Foz, que Palmella, repellindo da maneira mais nobre e mais digna certas arguições do nosso governo sobre o desempenho da sua commissão politica, declarava de Londres ao imperador ter occultado officialmente a lord Palmerston a fraqueza em que estava a causa liberal, e recordava ao mesmo imperador as suas próprias palavras dirigidas a elle Palmella: "A suspensão de armas para nos salvar deve ser dentro de trinta dias da data da minha escripta (16 de novembro)" [...]
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Carta topográfica das Linhas do Porto (detalhe), 1834. Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal |
O almirante Napier, que na guerra liberal quinhoeiro foi também de louros tão gloriosos, escreve que no dia 28 de janeiro desembarcavam na Foz os generaes Saldanha, Stubbs e Cabreira, e que, apesar de estar a causa já sem esperança obedeceram com presteza ao chamado, tomando então Saldanha o commando da linha esquerda, e estabelecendo o seu quartel general na Foz, a posição mais arriscada de toda a linha da defeza [...]
Mostrada logo a Solignac por Saldanha a urgência de occupar o montículo do Pinhal, onde se jogava a sorte da causa, Solignac respondeu-lhe que nao seria temeridade unicamente, mas loucura o emprehender tomar o montículo nas novas condições em que se achava defendido, e ordenou positivamente a Saldanha que o não tentasse fazer [...]
Na seguinte noite o desobediente general atacava à bayoneta, com quatro companhias, o piquete realista, desalojava-o e occupava o indispensável montículo [...]
Acceita a demissão de Solignac no dia 13 [de junho de 1833], era no dia 14 nomeado chefe do estado maior imperial o conde de Saldanha [...]
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É uma hora d'aquelle dia 5. O exercito sitiador ataca a linha esquerda do Porto (sobre Lordello) em todo o semi-circulo da defeza, desde o Carvalhido até á casa da fabrica do Antunes.
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Carta topográfica das Linhas do Porto, 1834. Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal |
Duas columnas realistas, saindo de seus entrincheiramentos, avançam, entre a quinta do Wanzeller e a casa do Plácido, no intento de cortarem as communicações do Porto com a Foz.
A primeira columna ataca o centro e a direita da fabrica do Antunes, o ponto visivelmente mais arremettido. O capitão Pedroso, de infantería 15, á frente da sua companhia e com parte da quinta, investe com tal denodo os realistas, de posse, no primeiro impeto, de parte da fabrica disputada, que os desaloja apesar da desproporção das forças, emquanto o valoroso brigadeiro Duvergier, seguido de algumas companhias do segundo regimento de infantería da Rainha, repelle a reserva da columna que primeiro tomara a posição; mas recebendo n'um braço o ferimento mortal que lhe ha de produzir a morte, é substituído por Zuppi, que, apesar de ver cair ferido também gravemente o bravo capitão Victoríno, sustenta a posição tenazmente [...]
O inimigo estava sendo ali protegido por um vivíssimo fogo dos seus reductos de Serralves e das baterias da margem esquerda do Douro; mas Saldanha, que dirigia pessoalmente o fogo nos pontos atacados "com a perícia e acerto que o distinguia", manda logo collocar em fogo cruzado e nos ângulos convenientes a única peça e o obuz de que as podia dispor, e por este modo auxilia as novas cargas de infanteria pelos flancos e em frente da fabrica, tornada a atacar pelos realistas por todos os lados.
Em presença d'aquelle movimento estratégico e repentino, combinado com o arrojo da execução, vê-se desanimar a linha do inimigo, estorcer-se como longa serpente, ceder, desistir, retirar-se, e proseguindo na idéa de cortar a linha da Foz, ir flanquear pela direita a quinta do Wanzeller [...]
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Carta topográfica das Linhas do Porto (detalhe), 1834. Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal |
Iam dar cinco horas quando os derradeiros tiros denunciavam o termo da batalha, começada na esquerda, seguida no centro e finalisada na extrema direita [...]
No mesmo dia 5 de julho, em que Saldanha ganhava tao brilhante victoría, estrelando o seu novo cargo de chefe do estado maior imperial, vencia também um combate naval nas aguas do cabo de S. Vicente o vice-almirante Napier, que vimos largar da barra do Porto com a expedição commandada pelo duque da Terceira.
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Clareia o crepúsculo d'aquelle dia 25 de julho, e lá está elle já, rodeado dos seus, no ponto mais fraco, e portanto mais serio, de toda a linha da defeza, junto á quinta Wanzeller, sereno o semblante, apurando o ouvido, pondo a alma nos olhos, na apparencia tranquillo como intrépido, no interior agitado como general que se desejasse multiplicar por todos os logares da lucta.
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Entrance of the river Douro, Edward Belcher, 1833. Imagem: ICGC Cartoteca Digital |
Commandantes, officiaes, soldados, quantos a distancia permittia que o vissem, tinham os olhos fitos n'elle, e d'elle recebia cada combatente um dos raios que partiam d'aquelle astro da victoria; confissão de todos os que militaram debaixo do seu commando.
Batem cinco horas. Restruge nos ares a primeira descarga geral da artilhería realista dos reductos de Serralves, do Crasto, do Verdinho, da Furada e de lodos os outros de ambas as margens do Douro. "Rainha e Carta", responde nos corações toda a linha liberal á mortifera salva que annnnciava o assalto.
Dera signal o campo inimigo. Á descarga geral das baterias principiaram a sair dos entrincheirammtos realistas quatro differentes colnmnas de todas as armas, acompanhadas de dezeseis bocas de fogo [...]
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Vencedora estava após horas successivas toda a linha esquerda do exercito liberal, desde a Foz até o centro, nas quatro posições capitães, fechos do férreo cinto que apertava o Porto [...]
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Vista da invicta cidade do Porto. Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal |
"Conde de Saldanha, tenente general dos reaes exércitos, chefe do meu estado maior. Tomando em consideração a perícia com que vos houvestes no memorável dia 25 de julho, repellindo consideráveis forças inimigas em seus successivos e desesperados ataques contra as principaes posições das linhas do Porto, pondo em pratica com a maior dexteridade e coragem as minhas ordens, dando disposições tão habilmente concebidas como energicamente executadas, carregando com poucos officiaes do estado maior e vinte lanceiros a força superior, que tentando occupar os postos avançados entre o Bomfim e Guellas de Pau, nao pôde resistir ao impeto de tão grande bravura, alcançando-se em resultado de tantas proezas uma completa victoria... por estes motivos hei por bem, em remuneração de tao distincto merecimento e de tao altos serviços, elevar-vos á dignidade de gran-cruz da muito nobre ordem da Torre e Espada do valor, lealdade e mérito [cf. Chronica Constitucional de Lisboa, 28 de agosto de 1833]."
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Oporto, Porto, published under the superintendence of the Society for the Diffusion of Useful Knowledge. Drawn by W B Clarke, engraved and printed by J Henshall Published by Baldwin & Cradock 47 Paternoster Row, 1833. Imagem: David Rumsey |
Não podera Saldanha até ali emprebender a guerra offensiva, mas fora obrigado a limitar-se á defensiva. É chegado o momento. Vae irromper. Batalha nenhuma dera ainda, em que a previdência, a estratégia, a barmonia das disposições lograssem occasião de attingir o alto ponto que vamos presencear [...] (1)
(1) D. António da Costa, História do Marechal Saldanha, Tomo I, Lisboa, IN, 1879
Tema:
Guerras Liberais (LeoT)
Guerras Liberais (AVM)
Mais informação:
Guerra Civil Portuguesa
António Avelino Amaro da Silva, O Caramujo..., Lisboa, Typ. Universal, 1863
Cronologia do Liberalismo
Um Portuense, O cerco do Porto, Porto, Typ. de Faria & Silva, 1840
Iconografia Portuense:
Cabral Moncada Leilões
do Porto e não só...
Porto de Agostinho Rebelo da Costa
Porto Património Mundial
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