terça-feira, 1 de junho de 2021

Lisboa e Tejo de Carlos Botelho

... a Costa do Castelo, do Cais das Colunas à Calçada do Marquês de Tancos, o Jardim de S. Pedro de Alcântara, Sé, Largo de S Cristóvão. e pinta ainda gaivotas no Tejo e palmeiras em Alfama, dando lhe uma luminosidade. e um silêncio expectante de cidade despovoada. mas que vive por si própria.

Domingo, Carlos Botelho.
MNAC/Google Arts

Carlos Botelho recriou, com a sua obra, uma cidade com corpo e espírito para que se tornasse um testemunho vivo da tradição, pois como o autor dizia "o meu modelo é Lisboa, cidade que infelizmente parece estar em vésperas de se perder".

Percorrendo. um a um, os seus pitorescos quadros, nota-se que exprimem uma vontade de fazer reviver Lisboa e de a tornar mesmo nova Da vastíssima obra deste artista, que também 1a a Câmara Municipal de Lisboa apresentou, grande parte dela, (Exposição retrospectiva de Carlos Botelho sobre motivos de Lisboa, notas críticas e bibliográficas de Selles Paes, Palácio Galveias, abril de 1959) isolei um conjunto de trabalhos. que abrange um periodo de 15 anos, dividi-o em três partes

Ramalhete de Lisboa, Carlos Botelho, 1935.
Wikipédia

Do primeiro, 1930-1935, salienta-se a visão cubista do Zimbório da Estrela, e. o Jardim de S. Pedro de Alcântara. pequeno quadro cheio de interesse, pelos seus negros e cinzentos.

Do segundo penodo fazem parte a Sé, com uma perspectiva diferente daquela que é habitual. pois nele insere-se um conjunto de casario, mar e recantos românticos. que torna ainda mais belo aquele monumento românico.

A cor começa aqui a tornar-se mais clara, como se a cidade estivesse na sua adolescência.

Aspecto de Lisboa no inverno (Ramalhete de Lisboa), Carlos Botelho.
Lisboa, Revista Municipal (n° 8, 9 e 10) 1984

Ao terceiro período. composto pelos últmos cinco anos. dizem respeito Largo de S Cnstovão, Largo do Chão de Loureiro, Quintalinho no Castelo e Rossio, cujas cores começam a aparecer um pouco esbatidas.

Ao longo deste espaço de tempo — 15 anos — verifica-se que Botelho evoluiu de uma maneira vertiginosa no sentido de escuro/claro no colorido de toda a sua obra,  é então a partir de 45 que a cor canta nas suas telas, cada vez mais aberta e franca quer os seus quadros representem as horas frescas da manhã, ou os dias ensombrados.

Ruas de Lisboa antiga avistando-se o Tejo ao fundo, Carlos Botelho.
Lisboa, Revista Municipal (n° 8, 9 e 10) 1984

... num outro quadro começam a aparecer os azuis e rosas pálidos. e a nota de vida aqui é dada por uma criança que esta sentada na escadaria. Nos restantes. a presença da criança aa lugar a vendedeiras e um gato como nota de vida fugidia, esgueirando-se pelos becos; e. através de um miradouro. observa-se uma excelente imagem de jogos de telhados de todos os feitios, num colondo cada vez mais claro.

Quanto á estrutura da obra. em geral. ela apresenta também evolucão. Nos primeiros quadros ele amontoa tudo como numa manta de retalhos, são peças compósitas, são uma espécie de antologia que nos dá uma visáo panorâmica de conjunto.

Bairro antigo de Lisboa com vista parcial da outra margem do rio Tejo, Carlos Botelho.
Lisboa, Revista Municipal (n° 8, 9 e 10) 1984

Nos quadros posteriores ele apresenta pormenores, como seja. um estendal.

E é essa que vai ser a sua última fase. que o conduz a uma concepçáo abstracta.

Exposição de Carlos Botelho

Para completar este trabalho, falta ainda dizer alguma coisa sobre o temperamento do artista. A tendência através de tudo manifestada pelo tema dominante da sua arte, faz-nos crer num pintor calmo e sereno, como serenas são as intenções reflectidas nos processos empregues, sem contudo esconder a sua emoção. Mas também a tristeza e a melancolia. estão patentes naquelas figuras humanas.

Carlos Botelho

Carlos Botelho. com a simplicidade de processos e efeitos. criou um universo plástico onde o simbólico representa a mais bela das cidades... (1)



(1) Lisboa, Revista Municipal (n° 8, 9 e 10) 1984