domingo, 1 de novembro de 2020

George Landmann em Portugal (1808-1810)

Tendo ingressado em 16 de Abril de 1793, como cadete, na Royal Military Academy (Londres), instituição onde o seu pai, Isaac Landmann (1741-1826?), era professor de artilharia e fortificação, George Thomas Landmann embarcou para Portugal em Maio de 1808, quando havia já sido promovido a capitão dos Royal Engineers (1 de Julho de 1806), integrado nas forças do General Spencer (1760-1828), que vinham juntar-se às tropas de Sir Arthur Wellesley (1769-1852), futuro duque de Wellington [...]

Lt. Colonel George Thomas Landmann (1779–1854).
Greenwich Industrial History

Em Portugal, Landmann não só supervisionou com competência obras de engenharia militar — nomeadamente a construção de duas pontes de barcas e uma ponte provisória, respectivamente em Abrantes, Punhete, hoje Constância, e Vila Velha de Rodão, em Dezembro de 1808 —, fez reconhecimentos, inspecções, e elaborou relatórios, como comandou o pequeno corpo dos Royal Engineers durante as batalhas da Roliça e do Vimeiro, de que deixou detalhado registo, como já atrás dissemos, na segunda parte das suas memórias, que ficariam incompletas [...]

Em 1809 Landmann deixou Portugal e passou a Espanha, onde os seus bons serviços foram reconhecidos e lhe valeram comissões no exército espanhol. 

Em Dezembro de 1810, após uma estada de alguns meses em Inglaterra por motivo de doença, foi nomeado agente militar na Península e regressou uma vez mais a Lisboa, para entregar despachos a Wellington no Cartaxo. 

Seguidamente dirigiu-se para Espanha, onde viria a ser ferido em combate no dia 7 de Janeiro de 1811. Em Março do ano seguinte, muito debilitado, retornou a Inglaterra, na companhia do embaixador espanhol, para não mais voltar à Península Ibérica. (1)

É só no segundo volume de Recollections of My Military Life que encontramos o relato do que Landmann viu e sentiu em Portugal ao tempo da invasão deste país pelas tropas de Junot, pois o primeiro diz respeito ao período entre 1806 e 1808, quando o autor esteve colocado em Gibraltar. 

De notar que o estilo de narrativa adoptado poucos anos antes em Adventures and Recollections, e que fora muito bem acolhido pelo público — vivo, bem-humorado, rico em episódios acontecidos com figuras gradas do meio militar e da aristocracia ingleses, aos quais Landmann tinha acesso graças às suas origens e profissão —, se mantém, e constituiu, aliás, uma das principais razões do êxito da obra, como podemos concluir da leitura de excertos de recensões críticas favoráveis vindas a lume na imprensa periódica britânica e reproduzidos pela editora Hurst and Blackett em anúncios publicitários que inseriu noutros títulos que deu posteriormente à estampa [...]

Seguindo uma organização cronológica, Landmann oferece-nos uma narrativa que, embora centrada na vivência pessoal do memorialista, se alarga a um colectivo — o exército britânico em campanha em Portugal —, fornecendo-nos o retrato de um eu compartilhado, por assim dizer [...]

Ao contrário de muitas narrativas sobre a Guerra Peninsular escritas por compatriotas seus, não encontramos, na de Landmann, longas tiradas sobre as atrocidades cometidas pelo inimigo napoleónico. Recollections of My Military Life fala-nos, essencialmente, do oficialato inglês a que o autor pertencia, e representa, nessa medida, um contributo para o reconstituir da história geral do quotidiano do exército britânico em Portugal ao tempo da primeira invasão francesa. 

Ao registar pela escrita, para além de cenas que tocaram a sua sensibilidade, os grandes momentos vividos, especialmente os rememorados com particular satisfação pessoal — o facto de Arthur Wellesley ter seguido as suas sugestões quanto à estratégia a adoptar para atacar as forças francesas na Roliça, o sabor das vitórias alcançadas sobre o inimigo, o reconhecimento do valor dos mapas que desenhou, o jantar com o futuro duque de Wellington em Santo António do Tojal, a participação num grandioso pequeno-almoço público oferecido por Junot em Lisboa em Setembro de 1808 —, George Landmann procura também, claro está, autopromover-se, subtrair-se ao esquecimento e inscrever o seu nome nesse período crucial da história da Europa. (2)


(1) Maria Zulmira Castanheira, A primeira campanha do exército britânico em Portugal ao tempo da Guerra Peninsular, recordada pelo militar inglês George Thomas Landmann... Revista de estudos anglo-portugueses n.° 18, 2009
(2) Idem

George Landmann:
Historical, military and picturesque observations on Portugal v. 1, 1818
Historical, military and picturesque observations on Portugal v. 2, 1818
Recollections of My Military Life v. 2. 1854

RTP Arquivo:
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Revista de estudos anglo-portugueses:
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