Em 1781, com apenas 15 anos, D. Domingos embarcou como Voluntário exercitante na nau Nossa Senhora do Pilar, navio-chefe da esquadra do coronel do mar Bernardo Ramires Esquível, constituída pelas naus Nossa Senhora do Pilar, e Santo António e a fragata Nossa Senhora do Bom Despacho (ou Cisne) (...)
Domingos Xavier de Lima (1765-1802), 7° Marquês de Nisa, Domenico Pellegrini, 1801. Museu de Marinha |
Após dois meses de cruzeiro com tempos muito duros, a frota regressou a Lisboa a 15 de Setembro, fundeando na Junqueira; D. Domingos iniciava, com apenas 15 anos a sua carreira naval, habituando-se a olhar de frente os mares, muitas vezes procelosos da costa de Portugal.
Em 18 de Junho de 1782 D. Domingos, que dera provas das suas capacidades para a vida naval, foi promovido a Tenente de mar.
Em Dezembro desse ano foi criada a Academia Real dos Guardas-Marinhas para a formação académica, científica e profissional dos oficiais da Armada Real Portuguesa; alguns Tenentes de mar, entre eles D. Domingos, foram mandados frequentar aquele estabelecimento de ensino a fim de melhorarem os seus conhecimentos académicos e profissionais. (1)
Foi a partir de 1777 que Martinho de Melo e Castro inicia a sua linha de actuação para tornar Portugal numa Potência Marítima de nível coerente com o seu império ultramarino.
Martinho de Mello e Castro (1716 -1795). Comissão Cultural da Marinha |
Sob a sua direcção foram mandadas construir 6 naus e 22 fragatas e mandadas modernizar mais seis naus no dique do Arsenal.
Procedeu-se também nesse período (1777-1800) à modernização das infraestruturas da Marinha de que destacaremos a criação do Arsenal da Marinha, em substituição dos estaleiros da Ribeira das Naus, e a construção do seu dique; a criação ou modernização dos Arsenais de Goa, Baia e Rio de Janeiro; a construção do Real Hospital da Marinha e da Real Fábrica de Cordoaria; a criação da Sociedade Real Marítima e militar e Geográfica para o Desenho, gravura e Impressão de Cartas Hidrográficas, Geográficas e Militares.
Vue du port de Lisbonne, Alexandre-Jean Noel, 1796. Cabral Moncada Leilões |
Procedeu-se também à criação do Corpo de Oficiais da Armada Real — com a definição dos seus postos, quadros e vencimentos — e das Brigadas Reais de Marinha e de Artilharia da Marinha, da Junta da Fazenda da Marinha, da Academia Real dos Guardas-Marinhas e da Companhia Real dos Guardas-Marinhas (...) (2)
Terminados os estudos na Academia, D. Domingos retoma a sua carreira de oficial embarcando na nau Nossa Senhora do Bom Sucesso, em 7 de Abril de 1783; o navio destinava-se à missão de guarda-costas sob o comando do capitão-de-mar-e-guerra José da Silva Pimentel (...)
No ano de 1784 D. Domingos tem o seu baptismo de fogo. Nesse ano a Espanha preparou uma frota para atacar Argel, então um importante ninho de piratas, e cujo comando foi atribuído a D. António Barceló.
Portugal participa na expedição com uma esquadra de duas naus e duas fragatas comandada pelo coronel do mar Bernardo Ramires Esquível – naus Santo António e São José (74 peças), navio-chefe e Nossa Senhora do Bom Sucesso (64) e fragatas Golfinho e Nossa Senhora do Livramento (44) e Nossa Senhora das Necessidades (ou Tritão) (44) – levando a bordo 640 praças dos regimentos de Marinha e de Artilharia da Corte.
Em 23 de Maio foram mandados apresentar na nau 13 oficiais, onde se incluía D. Domingos Xavier de Lima (...)
Celestino Soares descreveu a saída desta esquadra; suas Majestades e altezas foram ver sair a barra, não só porque estes navios eram dos melhores da época, e tinham sido preparados com esmero; senão porque a sua oficialidade e equipagem haviam sido escolhidos e da maior confiança, esperando-se daquele conjunto de apuros, que ele desse em resultado crédito à nação Portuguesa, tendo de concorrer com as esquadras espanhola, napolitana e maltesa (...)
A esquadra combinada – espanhola, portuguesa, maltesa e napolitana – ficou assim constituída por 8 naus, 10 fragatas e mais 107 embarcações menores, nomeadamente lanchas-bombardeiras com que se faziam os ataques às muralhas da cidade.
Ao final de oito ataques contra a cidade o comandante-chefe, de acordo com os seus aliados resolveu dar a expedição por concluída. Não tendo atingido os objectivos que se propunha, esta expedição foi um fracasso para os cristãos e um incentivo aos corsários argelinos que se tornariam ainda mais atrevidos e belicosos.
A 23 de Julho os navios cristãos levantaram ferro e, com vento travessão, dirigiram-se a Cartagena; Portugal foi a única nação aliada da Espanha que não aceitou a indemnização pelos danos sofridos e as despesas havidas durante a campanha (...)
Saindo de Cádis a 28 a esquadra recolheu ao Tejo, chegando o navio-chefe a 20 de Setembro e os restantes nos dois dias seguintes. Por decreto de 28 de Setembro de 1784 os oficiais que participaram na expedição foram promovidos ao posto imediato; assim, D. Domingos foi promovido a Capitão-tenente ainda antes de completar os 19 anos.
Em 1785 D. Domingos Xavier de Lima embarcou na fragata Nossa Senhora das Necessidades (ou Tritão) comandada pelo CMG Francisco Betencourt Perestrelo, que foi mandada, juntamente com a fragata Nossa Senhora do Bom Despacho (ou Cisne), efectuar um cruzeiro de guarda-costas de 15 de Julho a 6 de Novembro (...)
Em 30 de Março de 1786 embarcou D. Domingos na nau Nossa Senhora do Bom Sucesso (CMG António Januário do Vale) que, com as fragatas Princesa do Brasil e Nossa Senhora do Bom Despacho (ou Cisne) se destinavam a um cruzeiro de guarda-costas (...)
Figura 4 - Nau Nossa Senhora da Conceição. Óleo de Alberto Cutileiro. Museu de Marinha.
Em 18 de Fevereiro de 1787 foi mandada aprontar a nau Nossa Senhora do Monte do Carmo (ou Medusa), para integrar a esquadra de guarda-costas sob o comando do coronel do mar José de Melo Breyner; D. Domingos foi mandado integrar a sua guarnição.
A 20 de Março o navio passou mostra de armamento com 579 homens de guar- nição; no mesmo dia armaram os restantes navios da esquadra: fragata Nossa Senhora do Bom Despacho (ou Cisne) (330 homens), São João Baptista (229), cúteres União (110) e Coroa (109).
Em 23 de Março, pelas 17h45, Suas Majestades e altezas subiram a bordo do navio-chefe, recebendo uma salva de todos os navios da esquadra, com as guarnições nas vergas saudando com 9 vivas.
No dia seguinte, pelas 09h00 a esquadra fez-se de vela com vento NNW e foi fundear em São José de Ribamar; a Nossa Senhora do Monte do Carmo (ou Medusa) ficou fundeada frente ao cais Belém. A 28 de Março, pelas 07h30 largou a esquadra com ventos de Leste, levando, de conserva, o navio da Carreira da Índia e mais cinco navios mercantes com destinos diversos (...)
Em 26 de Fevereiro de 1789 o coronel do mar José de Melo Breyner foi nomeado comandante da Esquadra do Estreito, embarcado na nau Nossa Senhora da Conceição; D. Domingos foi também nomeado para embarcar naquele navio que passou mostra de armamento em 7 de abril com 758 homens a bordo.
Em 11 de Abril a esquadra, composta, além da nau, pelas fragatas Nossa Senhora da Vitória (ou Minerva) (44 peças) e Nossa Senhora da Graça (ou Fénix) (54), brigues Galgo (20), Lebre (24) e Coroa (20) estava fundeada em linha entre a Junqueira e o Bom Sucesso; a 14 os monarcas visitaram o navio-chefe e a Nossa Senhora da Vitória (ou Minerva) tendo passado à fala junto de todos os outros navios e recebendo a habitual salva de 21 tiros.
Em 18 de Abril de 1789 largaram para o Estreito com vento NNW moderado e água de vazante, onde permaneceram até 31 de Agosto de 1789. Em 26 de Maio, durante um cruzeiro a esquadra libertou o navio francês Le Désir, que um corsário argelino levava como presa; trazido para Lisboa foi entregue ao cônsul francês em 22 de Junho.
Este foi o último embarque de D. Domingos Xavier de Lima como oficial de guarnição. Esteve embarcado em 8 navios durante sete anos (descontado o ano de frequência da ARGM) e dos quais navegou, fora da barra de Lisboa mais de 30 meses.
O seu valor como marinheiro, aliado aos seus conhecimentos profissionais, de que já dera inúmeras provas no serviço a bordo, levaram à sua promoção a Capitão-de-fragata a 16 de Dezembro de 1789; ia completar 24 anos!!! O seu primeiro comando foi a fragata São João Príncipe do Brasil, navio de 40 peças lançado ao mar no Arsenal da Marinha em 18 de Dezembro de 1789, juntamente com a nau D. Maria I Coração de Jesus e o brigue Falcão.
Em 18 de Março de 1790 D. Domingos foi nomeado seu comandante e o navio passou mostra de armamento a 8 de Maio com 329 homens a bordo. Em 15 do mesmo mês largou com a esquadra do Tenente-general Bernardo Ramires Esquível – nau D. Maria I, fragatas Fénix, São João Príncipe do Brasil, brigue Galgo e cúter União – iniciando um cruzeiro no Estreito. Os monarcas que tinham ido a bordo despedir-se dos navios, assistiram em Caxias à saída dos navios (...) (3)
(1) José Rodrigues Pereira, Academia de Marinha, Memórias, 2015
(2) Idem
(3) Idem, ibidem
Informação relacionada:
O ilustre almirante Marquês de Nisa, Revista da Armada, 2004
D. Domingos Xavier de Lima, 7° Marquês de NIsa (1765-1802, Revista da Armada, 2007
Academia de Marinha, Memorias
Mais informação:
Navios da Real Marinha de Guerra Portuguesa I
Navios da Real Marinha de Guerra Portuguesa II
etc.
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