terça-feira, 6 de dezembro de 2022

Polacos da Serra

Finalmente um pouco de paz! Bem fez o Póvoas, que foi para as Caldas da Rainha tomar águas sulfurosas para restabelecer-se do susto que lhe mete o tal punhado de rotos que veio das ilhas!

Ah, não sabe ele a têmpera da nossa genica, nem tão-pouco do que é capaz a populaça do Porto e de Villa-Nova! Acho que os corcundas andam desvairados à nossa volta, instigados por um bando de fidalguetes de dois dias e convencidos pelos tratantes dos frades, que só desejam beber-nos o sangue...

Perspetiva do Convento da Serra do Pilar (detalhe), no dia 14 de outubro de 1832,
Joaquim Vitorino Ribeiro.

Museu Militar do Porto (fb)

E tantos infelizes por essas terras afora, de espingarda às costas e um saco com alguns cartuchos, seguidos por guerrilhas maltrapilhas de mulheres descalças que, de gigas à cabeça, esperam avidamente arrebatar o produto do saque… Felizmente, muitos vão sendo os soldados de 1ª linha que vêm das bandeiras da usurpação para o nosso exército, e garanto que todos eles são bem recebidos pelo Senhor Duque.

Os ataques às nossas baterias têm sido constantes, e não há dia em que D. Pedro não faça a ronda a todas elas, para ver os andamentos e garantir a perfeição das obras de defesa.

Ainda na terça-feira passada, dia 4, soube que Sua Majestade Imperial tinha ido ao Convento da Serra, bem cedinho, com o Sá Nogueira, o Pimentel e o Batista Lopes, examinar as baterias, as fortificações e os entrincheiramentos. E, graças ao Céu, tudo estava já bem adiantado.

Recordaçoes e uniformes do exercito liberal 1832-1834 (detalhe), AHM.
Portuguese Civil Wars (fb)

Foi a Providência divina... É que, logo depois, no sábado, começou um ribombar do arco da velha por aquelas bandas! Irra! Foram três dias a malhar o ar! Vou ficar mouco de tantos estouros de artilharia, homessa!

Tudo começou no dia 8, pouco depois das 8 da manhã, quando apareceu o inimigo que, do lado de Grijó, pela estrada da Bandeira, se dirigia em força sobre Villa-Nova.

Bernardo de Sá, seguindo ordens, foi para o Alto da Bandeira, onde já se encontrava um fogo muito vivo.

O nosso Batalhão 6º de Infanteria começou a sua retirada, tendo o Major Marcelli ficado gravemente ferido.

Minutos depois, o Governador Bernardo de Sá Nogueira foi atingido por uma bala de fuzil que lhe quebrou o braço direito. Aqui se viu o sangue-frio e a coragem deste homem, pois, sustentando com o braço são o que acabara de ser ferido, continuou impassivelmente a conduzir, a pé, a coluna, na melhor ordem, e na presença do inimigo que a seguia, por espaço de meia-légua, indicando os pontos que deviam ser ocupados, de maneira a flanquear a sua marcha, até que passou a Ponte das Barcas, a qual foi imediatamente levantada.

General Bernardo de Sá Nogueira de Figueiredo (1795-1876), Marquês de Sá da Bandeira.
Academia Militar

Mas os ataques continuaram.

Eu, que estava na bateria da Vitória, por volta das 10 horas da manhã, vi chegar o Senhor D. Pedro com o Estado-Maior e, logo ali, foram-nos ordenados diversos tiros sobre o inimigo da outra parte do rio, onde uma corja de 4 a 5 mil miguelistas vinham tentar ocupar o Convento da Serra.

Isto durou horas a fio! A verdade é que os corcundas conseguiram entrar pelo sítio da Eira, precipitando-se sobre as trincheiras. Pelos vistos, o nosso Major Fontoura, que conduzia o Batalhão de Voluntários de Villa-Nova, deixou que o inimigo entrasse com confiança e, depois, zás… rompeu o seu fogo, à queima-roupa, sobre eles.

Foi ajudado pela conduta briosa do Major Bravo (Comandante do Posto da Serra), do Major Moreira e do Tenente Santos. Eu nem queria acreditar que tal vitória tinha sido possível, já que eramos muito menos.

Modelos dos fardamentos militares dos voluntários
(Batalhão Móvel da Serra do Pilar),
António Cunha, 1835.
RTP Arquivos
Acho que é para sempre memorável o sangue-frio e a valentia com que neste ataque se conduziu o tal Batalhão de Voluntários de Villa-Nova (apesar de ser composto por mancebos que jamais tinham ido ao fogo…), bem como o nobre patriotismo que, por esta ocasião, se desenvolveu nos heroicos habitantes de Villa-Nova, os quais, abandonando as suas casas e famílias, correram ao Convento a pedir armas e, em número de trezentos valentes, foram ajudar a combater os inimigos.

E os oficiais e os marinheiros do Açor, — um brigue-escuna ancorado junto à Praia de Villa-Nova —, foram igualmente muito importantes, ao impedir que o inimigo entrasse nas casas daquela vila.

Até as nossas mulheres já não receiam o estampido dos tiros, nem estremecem com o assobio das balas, antes acodem às trincheiras a distribuir alimento aos soldados, a animá-los e a enchê-los de bênçãos e elogios!

Ontem, domingo, dia 9, voltou a haver tiroteio no Convento. O Bernardo de Sá Nogueira ficou internado no Quartel da Batalha, mas sempre a dar ordens e a despachar editais...

Disseram-me que lhe amputaram o braço! Um homem daqueles não merecia isto! Tem ele uma alma a que não perturbam os padecimentos do corpo!


E, ainda durante o dia de hoje, não deram os rebeldes descanso à Serra do Pilar. Mas acabaram por desistir da empresa. E logo os nossos mandaram tocar os sinos a anunciar a vitória… Sei que, do lado de Villa-Nova, os miguelistas lançaram algumas bombas, das quais só três atingiram o Porto. E, curioso é que, a única que fez estragos foi cair precisamente na casa da filha do grande miguelista Visconde de Peso da Régua, ali para os lado da Sé...
 
As Festas da Liberdade no Porto — Veteranos da Liberdade que tomaram parte no préstito in O Occidente, 1883.
Hemeroteca Digital

Outra, atingiu de raspão a mais formosa das madres de Santa Clara, quando todas elas vieram à janela para melhor ouvir os sinos da Serra, que pensavam tocar a anunciar a vitória dos corcundas…Terá sido castigo? Já não escrevo mais hoje, pois ainda caio de sono...

Mas antes de dormir, ainda vou demolhar o bico em vinho fino e regalar-me com um queijo Chester que comprei há dias na Rua das Hortas...


João Pataco, soldado liberal (1)

sábado, 26 de novembro de 2022

Croniques d'Engleterre

Le Recueil des Croniques et Anchiennes Istories de la Grant Bretaigne, à présent nommé Engleterre, est une chronique écrite par Jean de Wavrin, chevalier et écrivain du XVe siècle. Écrites en moyen français, elles ont pour ambition de dresser une histoire de l’Angleterre, royaume dont Wavrin déplore qu’il n’a pas d’histoire à l’époque où il écrit (...) (1)

Chronique d'Angleterre, Jean de Wavrin
English ships at Lisbon, and an audience of the English.

British Library (Wavrin)

Le volume III reste plus centré sur la guerre de Cent Ans que sur l'histoire anglaise proprement dite, même s'il s'ouvre sur l'accession au trône de Richard II dans des conditions difficiles. Très rapidement, il n'est question de la guerre qui reprend en Flandres, avec la rébellion des Gantois contre leur duc Philippe, alors que l'alliance entre la France et l'Écosse fait peur aux barons anglais, qui craignent une attaque sur deux fronts.

Chronique d'Angleterre, Jean de Wavrin
Portuguese and English armies defeating a French vanguard of the King of Castile.

British Library (Wavrin)
 

La seconde partie du volume est largement consacrée à la grande préparation de Charles VI d'un débarquement en Angleterre, une opération que son oncle Jean de Berry fait finalement annuler par son refus d'y apporter son concours. En parallèle, les aventures portugaises de Jean de Gand, prétendant au trône de Castille, sont également relatées (...) (2)

Chronique d'Angleterre, Jean de Wavrin
Chapel Ardente of the King (Fernando) of Portugal.

British Library (Wavrin)
 

Les événements de la guerre de Cent Ans sont connus de Jean de Wavrin, mais il s'est aidé des Chroniques de Jean Froissart4, la chronique la plus complète sur la guerre au XIVe siècle. Jean de Wavrin écrit également dans une atmosphère très particulière, celle de la cour de Bourgogne, où la production historique est foisonnante, notamment grâce au mécénat très actif de Philippe le Bon, qui est la figure du prince idéal pour tous ces chroniqueurs. Les liens avec les chroniques de Georges Chastelain, Enguerrand de Monstrelet et Mathieu d'Escouchy5 par exemple sont donc très importants.

Chronique d'Angleterre, Jean de Wavrin
King of Portugal (João I) fighting at Juberotes (Aljubarrota).

British Library (Wavrin)

Enfin, il ne faut pas non plus mettre de côté les apports personnels de Jean de Wavrin, qui a été un véritable acteur de la guerre de Cent Ans dans les armées françaises et bourguignonnes, prenant part à des batailles, parfois même sous l'étendard anglais (du temps où les Bourguignons étaient alliés).

Chronique d'Angleterre, Jean de Wavrin
Lancaster dining with the king of Portugal.

British Library (Wavrin)

Il a donc puisé dans sa propre expérience, et sur le témoignage de personnes qui se trouvaient sur place. Pour son récit de la guerre des Deux Roses, ont suspecte une connexion proche des cercles dirigeants de la dynastie des York, peut-être Anthony Woodville, le frère de la reine Élisabeth (...) (3)

Chronique d'Angleterre, Jean de Wavrin
Philippa of Lancaster and John of Portugal.

British Library (Wavrin)


(1) Wikipédia cf. Marchandisse A., « "Jean de Wavrin, un chroniqueur entre Bourgogne et Angleterre.., Le Moyen Âge, no 112,‎ 2006, p. 507-527
(2) Wikipédia
(3) Idem

Artigos relacionados:
Croniques de Froissart
O cerco castelhano de 1384
O Meijão Frio
A ribeira do arrabalde descontra Coina

Leitura relacionada:
British Library (Wavrin)
Froissart’s Chronicles
Chroniques (de Froissart), Book Three, about 1480–1483 (Getty)
The online Froissart

domingo, 20 de novembro de 2022

Croniques de Froissart

Les Chroniques de Jehan Froissart sont des chroniques médiévales écrites au XIVe siècle en moyen français par Jean Froissart ; elles constituent un récit en prose de la guerre de Cent Ans. Les Chroniques s'ouvrent sur les événements qui ont précédé la déposition d'Édouard II en 1326 et couvrent la période allant jusqu'à 1400 (...) (1)

Chroniques de Froissart,
Siege by the Spaniards of Lisbon in 1383.

GALLERIX

Froissart entreprend en 1388 un long voyage dans le midi de la France (livre III). Il traverse des villes et villages fortifiés jusqu'à arriver à Orthez, dans le Béarn, à la cour du comte Gaston Fébus. Cette partie des chroniques, connue sous le nom du Voyage en Béarn, est beaucoup plus intime.

Chroniques de Froissart,
The Portuguese Embassy.

Getty Museum Collection

Le manuscrit met en scène le chroniqueur dialoguant, durant ce voyage, avec Espan de Lyon, un ami de Gaston Fébus. Le texte décrit également les guerres entre Portugal et Castille et leurs alliés respectifs, mais il laisse la place à des anecdotes diverses : histoires d'adultère, de revenants, de passages souterrains cachés, d'homicides tragiques et cas de possession diabolique (...) (2)


Chroniques de Froissart,
The King of Portugal and John of Gaunt Consulting.

Getty Museum Collection

Lors de mon séjour en Béarn, auprès du noble comte de Foix, j'ai été informé de plusieurs affaires concernant le Portugal et la Castille ; quelques temps plus tard, je revins en Hainaut, à Valenciennes, pour m'y reposer un peu. J'ai alors entrepris de poursuivre l'histoire que j'avais commencée à rédiger.

Chroniques de Froissart,
The Battle of Aljubarrota.

J'ai réalisé alors que je ne pouvais pas me mettre au travail, en ayant seulement à ma disposition la version des hommes du roi de Castille ; il me fallait donc entendre la version des Portugais, si je voulais des informations justes et fiables, comme j'avais eu la version des Espagnols et celle des Gascons, à l'hôtel du comte de Foix et lors de l'aller-retour accompli pour ce voyage. Je ne ménageai pas mes efforts et me rendit à Bruges, en Flandres pour voir les hommes de Lisbonne et les autres portugais (...) (3)

Chroniques de Froissart,
The Battle of Aljubarrota.
Getty Museum Collection

À son arrivée, il apprit qu’un chevalier Portugais, vaillant homme et sage, et du conseil du roy de Portugal, nommé Jean Ferrand Portelet, était depuis peu à Middelbourg en Zelande. Portelet qui allait alors en Prusse à la guerre contre les infidèles, s’était trouvé à toutes les affaires de Portugal : aussitôt Froissart se met en marche avec un Portugais ami du chevalier, va à l’Écluse, s’embarque et arrive à Middelbourg, ou son compagnon de voyage le présente à Portelet.

Chroniques de Froissart,
John of Gaunt Inviting Guests to his Daughter's Marriage to the King of Portugal.

Getty Museum Collection

Ce chevalier gracieux, amiable et acointable, lui raconta, pendant les six jours qu’ils passèrent ensemble, tout ce qui s’était fait en Portugal et en Espagne depuis la mort du roi Ferrand jusqu’à son départ de Portugal. (4)


(1) Wikipédia
(2) Wikipédia cf. Peter Ainsworth, Jean Froissart et la Guerre de Cent Ans, Art de l’enluminure, vol. 31,‎ 2009, p. 2-17
(3) Jean Froissart, Chroniques de Jean Froissart. Vol. 11. Les affaires du Portugal : 1385-1387, Paleo, 2012
(4) Mémoires sur la Vie de Jean Froissart, par M. de la Curne de Ste-Palaye, Verdière, 1829

Artigos relacionados:
Croniques d'Engleterre
O cerco castelhano de 1384
O Meijão Frio
A ribeira do arrabalde descontra Coina

Leitura relacionada:
Croniques de Froissart (Hathi trust)
Croniques de Froissart (Internet archive)
Froissart’s Chronicles
Chroniques (de Froissart), Book Three, about 1480–1483 (Getty)
The online Froissart

quinta-feira, 6 de outubro de 2022

Sarah Affonso

Sarah Affonso (1899-1983)

(...) muitas vezes de malinha na mão e dizia com um ar muito natural: — Venho cá passar uns dias. (1)

Autorretrato (detalhe), Sarah Affonso, 1927.
MNAC

Sarah Affonso, embora ao primeiro golpe de vista nos recorde imediatamente a pintura mole de Columbano, possui, entretanto, qualidades suas que deve lutar por conservar ou desenvolver. Os retratos que apresenta são tecnicamente bem feitos — academicamente falando.

Possuem, entretanto, um quê de impalpável que só consegue fixar nas obras de arte quem tem alma para sentir. Desses retratos ressalta ainda uma qualidade que não se assimila: o carácter. Há um certo à-vontade que só obtêm aqueles que têm um pensamento superior a nortear-lhes o pincel (...)

D. Sarah Affonso devia — que nos seja permitido dar conselhos — fazer as malas, meter-se no Sud-Express e desembarcar em Paris (Sarah Affonso esteve em Paris, em 1923-1924 e em 1928-1929).

Nessa cidade entregar-se-ia ao estudo dos pintores modernos e antigos, clássicos e bizarros. Veria tudo com olhos de ver, examinaria sem parti-pris, abriria a sua alma às mil almas de artista que, por intermédio da arte, pudesse conhecer (...) (2)

 
Retrato de Manuel Mendes por Sarah Affonso, 1930.
MNAC/Casa Comum

Uma exposição de quinze quadros pequenos (de Matisse), com aquelas flores da Primavera, que são brancas, azuis e encarnadas, que se chamam anémonas. Vi essa exposição e fiquei tão maravilhada que, como havia na rua umas barraquinhas com essas flores, comprei um ramo e fui para casa fazer um quadro.

Meninas, Sarah Affonso, 1928.
MNAC

A pintura dele era uma pintura por camadas, para tirar um tom, por exemplo roxo, ele dava uma camada de encarnado transparente e depois por cima uma camada de azul, mas de um azul flou.

Uma técnica criada por ele. Com duas cores, dava uma terceira. O que se aprende a ver um quadro! O que eu aprendi com Matisse! Aquela liberdade de construção, sem parar nas coisas. Eu não tinha era cultura para ir mais longe. (3)

Fernanda de Castro e Antoninho Gabriel por Sarah Affonso, 1928.
MNAC/Flickr

Havia a Brasileira do Chiado, onde os artistas se juntavam e nunca entrava uma mulher. Um dia entrou uma, uma moça nova, desempoeirada, era a Sarah Affonso. Foi a primeira mulher que entrou na Brasileira, que teve essa coragem (...) (4)

Autorretrato, Sarah Affonso, 1927.
MNAC

— Era eu sozinha. Fazia aquilo por desafio, tinha vindo de Paris de forma que trazia um encanto dentro de mim, uma certeza de certas coisas, e porque é que eu não hei-de entrar na "Brasileira"? (...) Como as mulheres não entravam, eu entrei. (5)



(1) Ao fim da memória,  Memórias (1906-1939), Porto, Verbo, 1986, p. 200
(2) Mario Domingues, Os trabalhos dos alunos da Academia de Belas Artes, Revista Portugueza, 1923 cit. em Emília Ferreira, Forte, para resistir, Sarah Affonso, um percurso ímpar no modernismo português, 1999
(3) Mário Domingues cit. em Emília Ferreira, idem
(4) Ana Rita Luís Henriques, Fred Kradolfer (1903-1968), cit. em A. Santos Silva, Ofélia Marques (1902-1952)...
(5) Maria José Almada Negreiros, Conversas com Sarah Affonso, cit. em A. Santos Silva, idem 

Artigos relacionados:
Sarah Affonso, postais da Costa a Manuel Mendes (1930-1931)
Sarah Affonso por Mário Domingues e com Fernanda de Castro

RTP Arquivos:
Sarah Afonso: Biografia do Centenário 1899-1999

Mais informação:
Arte e Género, Mulheres e Criação Artística, Faculdade de Belas-Artes
Emília Ferreira, Forte, para resistir, Sarah Affonso, um percurso ímpar no modernismo português, 1999
Maria João Gomes Pedro, Sarah Affonso, vida e obra, 2004 (3 vols.)
Sarah Affonso (Google Arts & Culture)
Sarah Affonso (MNAC)
Sarah Affonso (Centro de Arte Moderna Gulbenkian)
Sarah Affonso (Fundação Mário Soares e Maria Barroso/Casa Comum)
Almanak Silva: Mariazinha africanista



Sobre o percurso de Sarah Affonso, ver (cf. A. Santos Silva, Ofélia Marques (1902-1952)...);
CONDE, Idalina, «Sarah Affonso, mulher (de) artista», in Análise Social, vol. XXX (131-132. 2º-3º), p. 459-487;
CONDE, Idalina, «Reencontro com Sarah Affonso», in LEANDRO, Sandra, SILVA, Raquel Henriques da (coord.), Mulheres Pintoras em Portugal: de Josefa d’Óbidos a Paula Rego, p.129-161;
NEGREIROS, José de Almada, «Sarah Affonso», in CASTRO, Zília Osório de, ESTEVES, João Gomes (dir.), Dicionário no Feminino (séculos XIX-XX), p. 850-851;
PEDRO, Maria João Gomes, Sarah Affonso – vida e obra, vol. I. 

sábado, 1 de outubro de 2022

Casa Museu Manuel Mendes

Em 1977 foi adquirido pelo Estado português o espólio bibliográfico e artístico de Manuel Mendes à viúva do escritor, Berta Mendes. Dava-se assim um primeiro passo garantindo a concentração de uma importantíssima documentação relativa à História recente do país e à crítica de arte dos meados do século XX.

Retrato de Manuel Mendes (detalhe) por Sarah Affonso, 1930.
MNAC/Casa Comum

A colecção de arte moderna, incluída neste espólio, pela completude geracional e recorrência de temas e retratados,configura um conjunto também ele de grande unidade.

Retrato de Manuel Mendes por Dórdio Gomes, 1965.
MNAC/Casa Comum

Com esta importante aquisição salvaguardava-se um património marcante de uma dispersão que seria a todos os títulos lesiva.

Retrato de Manuel Mendes por Abel Manta, c. 1950.
MNAC/Casa Comum

Depois de um inventário sumário realizado pelo Instituto Português de Museus, em 1992, a integra­ção no Museu do Chiado deu-se em 1997 (...) (1)

O Segundo Modernismo, o Novo Classicismo e o Estado Novo

O Novo Classicismo, de raiz picassiana estilizada, marca o desenho de grande qualidade que Almada Negreiros praticou ao longo dos Anos 30, por vezes acrescido de delicados sombreados que estabelecem subtis transições luminosas ou de deformações amaneiradas das formas, como sucede em A sesta, 1939 obra de contido erotismo.

Retrato de Manuel Mendes por Sarah Affonso, 1930.
MNAC/Casa Comum

Sarah Afonso, mulher do artista, seguiu igualmente, nesta década, este novo classicismo modernizado, estilizado e sintético, como evidencia o seu Auto-retrato, c. 1930.

O Novo Classicismo foi, aliás, marca do estilo Art Déco internacionalizado ao longo desta década, e obteve vasta repercussão em Portugal: António Soares evidenciou-o com elegante cunho mundano no seu exemplar Retrato da Irmã do Artista, 1936 em cujo fundo avultam discretas lembranças cubistas fragmentadas.

Retrato de Berta Mendes por Carlos Botelho, 1932.
MNAC/Casa Comum

Carlos Botelho constitui uma exceção neste universo, revificando o exemplo expressivo de Van Gogh, sob uma ótica de idêntica estilização elegante, no Retrato de Berta Mendes, 1932, retomado por Abel Manta sob um naturalismo cézanniano, enquanto Jorge Barradas procurou renovar a arte religiosa sob uma ótica decorativa na sua Anunciação, 1936, estilizando livremente o exemplo igualmente oitocentista dos Nabis (...) (2)

Retrato de Berta Mendes por Abel Manta, 1934.
MNAC/Casa Comum

Casa Museu Manuel Mendes (nunca aberta ao público e hoje extinta), no Restelo. (3)


(1) Colecção Manuel Mendes (MNAC)
(2) O modernismo feliz: art déco em Portugal (MNAC)
(3) Moda & Moda, Museu do Chiado, A Sedução do retrato

Artigos relacionados:
Retratos som Bá e Manuel Mendes, Ofélia e Bernardo Marques
Retratos com Bá e Manuel Mendes
Sarah Affonso, postais da Costa a Manuel Mendes (1930-1931)
Retratos com Guida Lami e Bá e Manuel Mendes, Cândida e Bento Caraça
Sarah Affonso, postais da Costa a Manuel Mendes (1930-1931)
Ofélia

RTP Arquivos:
Manuel Mendes: o Melhor de Todos Nós
... depoimento do político José Magalhães Godinho sobre o pensamento do escritor Manuel Mendes, lamentando este não ter vivido para assistir ao 25 de Abril; busto de Manuel Mendes do escultor Barata Feyo; fotografias de homens das Letras; retrato do escritor pintado por Dórdio Gomes; Casa Museu Manuel Mendes no Restelo...

Mais informação:
Catálogo da exposição da colecção de artes plásticas de Manuel Mendes, Fundação Mário Soares, 30 de novembro de 2000 - 22 de fevereiro de 2001 (MNAC)
Casa Museu Manuel Mendes (Google search)
Colecção Manuel Mendes (MNAC)
Manuel Mendes (Fundação Mário Soares e Maria Barroso/Casa Comum)

Século XX português: Os Caminhos da Democracia (Fundação Mário Soares e Maria Barroso)
Obras editadas na Biblioteca Cosmos

sexta-feira, 23 de setembro de 2022

Ofélia

Ofélia Marques (1902-1952)

E vou até à Calçada dos Caetanos (hoje Rua João Pereira da Rosa), no Bairro Alto, entre o Conservatório e a Rua do Século, a antiga Rua Formosa. Aí moraram Ramalho Ortigão, Oliveira Martins, António Ferro e Fernanda de Castro. E estes chamaram-lhe "o soviete dos Caetanos", onde tudo se partilhava, desde o sal e o pão até ao teatro, à poesia e à arte. Vejamos como e porquê.

Rua do Século (antiga Rua Formosa), Lisboa Velha de Roque Gameiro.
(à direita o acesso antigo à Calçada dos Caetanos).
roquegameiro.org

No primeiro andar, moraram meus tios-bisavós, Vitória e Joaquim Pedro, tendo o andar sido arrendado depois da morte de minha tia ao jovem casal Ferro, que aí instalou a família, teve um teatrinho e animou um centro intelectual onde outrora se encontravam os "Vencidos da Vida"; no segundo andar viveram Ofélia e Bernardo Marques, Fred Kradolfer, José Gomes Ferreira e a sua primeira mulher, Ingrid, e nas águas-furtadas Ramalho Ortigão, que indicou a casa a Oliveira Martins quando este veio para Lisboa, em 1888.

As placas na fachada do n° 6 da Calçada dos Caetanos
(hoje Rua João Pereira da Rosa), no Bairro Alto.
getLISBON

Quando os Ferros arrendaram a casa em 1922, ainda moravam no 2.º andar as senhoras Campos, que tinham sido aias dos príncipes D. Luís Filipe e D. Manuel. E sobre esse tempo, Fernanda de Castro confessa em Ao Fim da Memória (Verbo, 1986):

"Não tínhamos cheta, ninguém tinha um tostão. Fazia-se café e chá, o Leitão de Barros trazia coisas de casa, eu comprava seis bolos de arroz que cortava em fatias e servia em pratas da Índia. Era deslumbrante! As reuniões literárias, as leituras de peças e de poemas eram um encanto (...) Ninguém pensava em dinheiro, havia então essa superioridade de espírito, os valores dominantes eram os da honradez, os de não nos aproveitarmos das coisas públicas." (1)

Um dia, porém, grande reboliço no meu prédio, e o António chegou a casa dizendo: — “Sabes quem vem cá para cima? O Bernardo e a Ofélia, o José Gomes Ferreira e a Ingrid.” (...) A verdade é que, pela escada, subiam e desciam moços carregados com móveis, malas e caixotes, cavaletes e estiradores.

Retrato, Ofélia Marques, c. 1930.
Museu Amadeo de Souza Cardozo

Habituada ao silêncio um pouco lúgubre do prédio, onde, no 2.° andar, moravam apenas, nos últimos meses, as duas criadas, muito velhas e muito surdas das senhoras Campos (aias da realeza, dos príncipes D. Luís Filipe e D. Manuel), o contraste era de molde a provocar verdadeira estupefacção nas pessoas que vinham a minha casa e nos que subiam às águas furtadas (...)

As senhoras Campos morreram uma após a outra, e as criadas, tão velhas ou mais do que elas, morreram por sua vez e a casa ficou triste, vazia, povoada apenas por recordações, saudades e, quem sabe?, por invisíveis presenças. Foi então, Bernardo, que vocês chegaram, expulsando os fantasmas com a vossa alegria, também, o casal Ingrid Hestnes (1904-1947) e José Gomes Ferreira muito bem-vinda jovialidade, num prédio onde perdurava um «silêncio um pouco lúgubre» (...)

— Deus me livre! Era só o que me faltava (pintar mais)! Uma vez pintei um retrato da mulher do Olavo, caí na asneira de o mandar para uma exposição do SNI, e veja lá o que me aconteceu: deram-me logo o Prémio Souza-Cardoso e nunca mais me deixaram em paz!

Retrato de Luísa d'Eça Leal, Ofélia Marques.
(Prémio Amadeo de Souza-Cardozo, 1940)
Fundação Calouste Gulbenkian, Biblioteca de arte


Encomendas, telefonemas, entrevistas, um horror! Deixem-me em paz, que é o que eu quero; quando pinto ou quando desenho é para mim, para me divertir, e não quando eles querem! Então e a minha liberdade?

Um dia perguntei-lhe a rir: — Ó Ofélia, isso não dá com as suas ideias ditas avançadas. O seu talento não é só seu, deve pertencer a todos, beneficiar todos. Como explica a sua atitude egoísta que me parece paradoxal? E ela, sem se desmanchar, com um sorrisinho ao canto do olho:
Que é que você quer, benefício do péssimo estado de coisas.

Criança, Ofélia Marques, c. 1940.
Centro de Arte Moderna Gulbenkian

A senhora Dona Ofélia morreu! Fiquei tonta, desmoralizada e perguntei-lhe: O quê?! Quando? Como? A Jacinta, com muitas pausas e muitas hesitações, acabou por me dizer: Foi a Maria que a encontrou. Ela tem as chaves da casa e quando entrou à hora habitual e levou o café à senhora, viu logo que ela estava morta, porque estava gelada e não respirava (...)

O António acabava de acordar e a Jacinta já lhe dera a triste notícia. Assim que me viu, perguntou-me, ansioso:
Então?! É verdade?! Está morta? Não há nada a fazer? Não a levaram para o hospital? Disse-lhe que não, que a família dela já lá estava, assim como o médico e alguns amigos.

O António, completamente transtornado, dizia inexplicavelmente:
A culpa foi minha, devia ter compreendido, devia ter compreendido! Contou-me então que na véspera, ao voltar do S.N.I (...) encontrara a Ofélia sentada num dos degraus da escada, tão visivelmente transtornada que a levara para dentro de casa e estivera a conversar com ela até perto das 3 horas da manhã.

Então, com visível esforço, ela levantou-se, despediu-se e subiu as escadas, deixando a impressão de sentir-se terrivelmente só e infeliz. E continuou, aterrado: - Então vão ter que lhe fazer uma autópsia. Que horror! E para quê? Não foram os comprimidos que a mataram, foi a solidão! (...) nessa altura, ela e o Bernardo já estavam separados há imenso tempo (...)

Não teve pois nada que ver com o Bernardo o suicídio da Ofélia, assim como não teve nada que ver com Ofélia o suicídio do Bernardo, ocorrido algum tempo depois (1962) e com o qual algumas pessoas sensacionalistas tentaram estabelecer ligação (...) (2)


A Ofélia tinha a loucura da praia e você, Bernardo, fingia ter o mesmo amor, o que estava longe de ser verdade. Então, em qualquer pedacinho de papel branco, desenhava o mar, a praia, as barracas dos banhistas, o homem dos barquilhos e punha por baixo uma enorme interrogação.

Costa da Caparica, Quinta de Santo António (vivenda Engrácia?), década de 1930.
A partir da esquerda: Berta Mendes, Fernando Lopes Graça
(1906-1994), Ofélia Marques (1902-1952), Bernardo Marques (1898-1962), Manuel Mendes (1906-1969)
, Bento de Jesus Caraça, e Cândida Caraça (e os cães Anica e Maigret).
Casa Comum

A Ofélia recebia o bilhete e apressava-se a responder, desenhando a Estação do Cais do Sodré, o comboio e um enorme relógio em que o número 12 estava sublinhado duas ou três vezes, limitando-se a escrever por baixo: Domingo. Assim, no Domingo seguinte, ao meio dia em ponto, lá estavam os dois no Cais do Sodré (...)

A Ofélia tinha um gato. Lembra-se, Bernardo, do nome que ela lhe pôs? “O Pintam”. Quando eu lhe perguntei a razão desse nome bizarro ela respondeu-me, com naturalidade: — “Todos o acham medonho, mas olhe que não é tão feio “como o pintam!” (...)

(...) um belo dia, ninguém sabe como nem quando nem porquê a vida meteu-se irremediavelmente de permeio entre vocês os dois. Você, Bernardo, saíu de casa, mal ou bem a Ofélia refez a sua vida, a Ingrid e o José Gomes desapareceram, assim como o Fred Kradolfer, cuja passagem por sua casa tinha sido relativamente efémera.

Retrato de Raúl Hestnes Ferreira, Ofélia Marques, 1936.
(Colecção da família de José Gomes Ferreira)
Silêncios e Memórias

No 2.° andar da Calçada dos Caetanos ficou só a Ofélia com o seu gato e a sua fiel Maria, que vinha todos os dias algumas horas ajudá-la no serviço da casa. Para onde fora a alegria, o entusiasmo, o bom humor que até então enchiam de sol o velho casarão pombalino? Não morreu ninguém, mas a casa estava de luto.

As janelas fechadas, o silêncio total porque os gatos não fazem barulho. A Ofélia saía todos os dias e voltava tarde, muitas vezes depois da meia noite. Andava pálida, sem alegria mas também sem tristeza visível: indiferente.

A si, Bernardo, passei anos sem o ver (...) Um dia vieram dizer-me:
— “Sabe, o Bernardo casou.” —“Casou?! Com quem?” Só alguns meses mais tarde você me apresentou a Maria Elisa. Já não me lembro bem nem quando nem onde.

Retrato imaginado enquanto criança,
Fernanda de Castro.
Ofélia Marques (1902-1952), CAM, Gulbenkian

Além do gato havia uma Maria, espécie de mulher-a-dias do casal Bernardo-Ofélia e esta Maria era a mãe daquela criança triste, de grandes olhos negros que a Ofélia desenhou e pintou em alguns dos seus melhores trabalhos (...) (3)


(1) Guilherme d’Oliveira Martins, O soviete dos Caetanos, DN 15 de março de 2021
(2) Fernanda de Castro, Ao fim da memória, cit. em A. Santos Silva, Ofélia Marques (1902-1952)...
(3) Fernanda de Castro, Cartas para além do tempo, cit. em A. Santos Silva, Ofélia Marques (1902-1952)...

Artigos relacionados:
Retratos som Bá e Manuel Mendes, Ofélia e Bernardo Marques
Retratos com Bá e Manuel Mendes
Sarah Affonso, postais da Costa a Manuel Mendes (1930-1931)
Retratos com Guida Lami e Bá e Manuel Mendes, Cândida e Bento Caraça

Mais informação:
Manuel Mendes, revista Ler, Um álbum inédito de desenhos de Ofélia Marques
Manuel Mendes, Ofélia Marques e os seus amigos quando jovens, revista Eva nº 1149, Natal de 1967
Emilia Ferreira, Desenhos do silêncio (cf. catálogo da Exposição sobre Ofélia Marques, em 2002, na Casa da Cerca, Centro de Arte Contemporânea)
Ana Luísa Vilela, Fabio Mario da Silva e Maria Lúcia Dal Farra, O feminino e o moderno, 2017
Andreia Filipa Santos Silva, Ofélia Marques (1902-1952): mulher artista no modernismo português. A menina Ophelia Cruz que é hoje Ofélia Marques
Ofélia Marques, biografia (Centro de Arte Moderna Gulbenkian)
Ofélia Marques, trabalhos (Centro de Arte Moderna Gulbenkian)

quinta-feira, 25 de agosto de 2022

Praia do Bom Sucesso por Tony de Bergue

Tony François de Bergue é um pintor, litógrafo e gravador francês nascido em 1820. Recebe a sua formação artística na École Royale des Beaux-Arts, em Paris, onde é aluno de Léon Cogniet. É junto a este mestre que desenvolve o amor pelos temas de marinhas. Nas aulas de Nicolas Gosse, pratica a pintura de género e a pintura histórica.

Voilier près d’un village côtier, Tony de Bergue (1820-1893).
MutualArt

Expõe pela primeira vez no Salon (de Paris) em 1847, depois em 1861 com um quadro de género, Rembrandt peignant la leçon d'anatomie. Prossege numa carreira de pintor de género e de marinhas durante o Second Empire (...)

As suas viagens ao sul da França, a Espanha e a Portugal, nomeadamente em 1874 (1854), permitem-lhe o registo de cenas de portos e enseadas mediterrânicas. O seu toque, preciso e minucioso nas obras da sua juventude, alarga-se e liberta-se com o correr dos anos.

Como Ziem, interessa-se cada vez mais aos efeitos de luz, e se continua a restituir com fidelidade o aparelho dos navios que pinta, o tratamento dos marinheiros, das águas marinhas e das enseadas torna-se mais maleável e rápido. Ao fio dos anos, começa a pintar cada vez com mais frequência ao ar livre.

Paysage méditerranéen au deux-mâts, Tony de Bergue (1820-1893).
MutualArt

No início, o seu atelier encontra-se na margem direita, em Paris, rue du Petit-Lion-Sauveur (Souvenirs de Schaunard), depois instala-se em Asnières. Morre em 1893 (...) (1)

Em 1848 Tony de Bergue aparece registado como residente em Barcelona. A razão da sua vinda estaria relacionada com a presença dos seus familiares Carlos, Luis e sobretudo Michel de Bergue que residiam em Barcelona desde 1840 (...)

Em princípios de 1854 realizou os retratos dos Reyes de España para a Capitanía General de Barcelona e no mês de maio dedica-se a pintar uma Paisaje de Montserrat para um coleccionador inglês e uma vista geral do dito mosteiro. Posteriormente, em julho de 1854 deslocar-se-ia a Lisboa onde lhe é pedido para realizar o retrato do seu monarca e dos principais personagens da sua corte.

Boats on the Shore of a Small Coastal Town, Tony de Bergue (1820-1893).
MutualArt


Pinta então o retrato miniatura do comerciante Henrique de Teixeira Sampaio e, anos depois, participará na exposição de Lisboa (exposição da Sociedade Promotora das Bellas Artes) com as obras Un catalán dormido e El interior de una iglesia (capela do mosteiro dos Jerónimos).

Mais tarde instala-se em Paris onde colabora na revista Le tour du monde em 1861, correspondente a uma viagem que fez Olivier Merson em 1857 através de España e Portugal (v. M. Olivier Merson, Voyage dans les provinces du nord du Portugal, 1861)... (2)

View of the Tagus with Convent of Bom Sucesso and Belem Tower on the background, Tony de Bergue (1820-1893).
(signed with anagram Gueber Nyto).
Cabral Moncada Leilões
/MutualArt


Sempre existiu uma certa confusão com os nomes e apelidos deste artista porém trata-se sem dúvida do mesmo pintor que indistintamente se menciona como Antoine de Vergue, Antonio de Bergue, Tony de Bergue, Estanislao o Stanislas de Bergue, Tony François de Bergue, Antoine Debergue (e ainda, como acima, Gueber Nyto), onde Tony viria a ser um diminuitivo ou apodo de Estanislao. (3)


(1) Les Atamanes
(2) Fernando Alcolea
(2) Idem

Artigos relacionados:
A dispersão dos quadros da herança do rei D. Fernando
Uma exposição no tempo... 1947

Leitura relacionada:
Olivier Merson, Le tour du monde, Voyage dans les provinces du nord du Portugal, 1861