Partida para França da Família Real, João Pedroso, 1865. Revista da Armada, Abril de 2014 cf. original no Palácio Nacional da Ajuda |
Adivinha-se qual seria o nome escolhido, se em vez de Afonso tivesse nascido uma menina. Mas haverá, muito mais tarde, uma Mafalda na Casa de Sabóia, sobrinha-neta de Maria Pia, que esta apadrinhará. Segundo as regras de etiqueta, os segundos filhos deviam ter como padrinho o avô materno.
Quando nasceu D. Afonso, em 1865, D. Luís e D. Maria Pia receberam pressões para que não convidassem Vítor Manuel por estar excomungado e por se recear uma reacção papal. D. Luís não se importou e convidou o sogro para apadrinhar o filho, mas Vítor Manuel, demonstrando igual cortesia, declinou o convite para não criar embaraços a Portugal [o padrinho veio a ser Napoleão III, para grande contrariedade da madrinha, Amélia de Beauharnais, que detestava o imperador dos Franceses, apesar de serem primos coirmãos].
Dois meses depois, os monarcas portugueses foram visitá-lo a Itália e levaram consigo o príncipe herdeiro. Maria Pia nutriu sempre um grande afecto pela família, o que foi crucial para as relações dos dois países. Apesar dos esforços papais para que as relações entre Portugal e Itália se rompessem, isso nunca aconteceu durante o reinado de D. Luís. O que se deve à união das duas famílias reinantes e à personalidade de Maria Pia. E também do rei, há que sublinhar- se, que sempre apoiou a esposa e estimava a família italiana.
Retrato do rei D. Luiz, Michele Gordigiani, 1865/68. Palácio Nacional da Ajuda |
A partir dos 18 anos e até à viuvez, aos 42 anos, Maria Pia impressionava pelo seu porte majestático, elegante e amável. O povo simples estava conquistado pela beleza, sorriso e fama de caritativa. Os mais selectos rendiam-se: "a soberana reúne todas as graças de mulher, dignidade e nobreza da rainha e os requintes da mais simpática amabilidade", escreve Benevides em 1879, "entre todas as damas das diversas classes sobressai e distingue-se sempre Maria Pia de Sabóia; é verdadeiramente rainha pela graça, majestade e elegância, como o é pela sua posição a consorte do chefe de estado". Segundo ainda este testemunho, "há muitos retratos de Maria Pia de Sabóia; não há, porém, nenhum que se possa dizer perfeito como semelhança".
Retrato da rainha D. Maria Pia, Michele Gordigiani, 1865/68. Palácio Nacional da Ajuda |
O mesmo afirma, muito mais tarde, Malheiro Dias, que considera que a rainha não teve a sorte de ter sido bem retratada por um pintor ou escultor genial, pois ninguém conseguiu captar "o seu inolvidável poder de ofuscação".
A princesa Rattazzi, que esteve em Portugal em 1876 e 1879 e publicou o seu livro em finais deste ano, descreve-a desta forma: "Naturalmente distinta, bem que um pouco caprichosa, encanta toda as pessoas que merecem o singular favor de querer a rainha agradar-lhes. Sem que se lhe possa chamar formosa, há na linha ondulante do seu corpo traços prestigiosos de uma beleza incontestável. De manto de corte suspenso do ombro, como geralmente o usa, em vez de partir da cintura, raras mulheres terão como ela o grande ar majestoso e imponente".
Também a nora, quando a conheceu em 1886, salienta no seu diário: "Nenhuma mulher tem um ar mais régio e mais imponente".
Quando os reis portugueses fizeram a sua primeira viagem ao estrangeiro, em 1865, Maria Pia estava já transformada, impressionando ambientes tão exigentes e cosmopolitas como o de Biarritz, onde então se encontrava a corte imperial francesa. Relata Prosper de Merimée: "Tivemos a visita do rei e da rainha de Portugal. O rei é um estudante alemão muito tímido; a rainha é encantadora.Lembra muito a princesa Clotilde, mas para melhor; é uma edição corrigida. Tem a tez de um rosa e de um branco raros, mesmo na Inglaterra. É verdade que tem os cabelos ruivos, mas de um ruivo muito escuro, agora na moda. É muito amável e polida".
Navios de guerra de propulsão mista e casco reforçado saindo do Tejo de madrugada junto à Torre do Bugio. Cf. original erradamente referido e datado no Museu de Lisboa |
Com o príncipe D. Carlos, que iam apresentar ao avô, e numerosa comitiva, os reis tinham saído de Portugal a 3 de Outubro. (1)
(1) Maria Antonia Lopes, Maria Pia de Sabóia (1847-1910), rainha de Portugal: um pilar da monarquia portuguesa e das relações Portugal-Itália
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