quarta-feira, 30 de julho de 2025

Sopa de Arroios por Henri l`Évêque

Na epocha em que foi erigido o padrão (ou cruzeiro de Arroios) era o sitio um arrabalde de Lisboa, que tirava o nome, segundo referem alguns auclores antigos, de umas hervas que alli cresciam em abundancia, a que chamavam arroyos, e das quaes falia o auctor da Luz da Medicina como planta medicinal. Com o andar dos tempos foi crescendo a cidade por fóra da sua velha cêrca de muros, até abranger dentro em si aquelle sitio, que se povoou de casaria; e cujo nome ficou ao largo acima referido, á rua que n'elle termina, lendo começado no terreiro de Santa Barbara, e á calçada, que vae d'aquelle largo até ás barreiras do Arco do Cego.

À l'approche de l'armée de Masséna sur Lisbonne, les habitants des provinces quittent leur maison pour se réfugier, escortés des anglais dans la capitale, 1810,
Henri l'Évêque
MutualArt

Do mesmo largo d'Arroyos parte a estrada de Sacavém, que conduz ao norte da Estremadura do reino. E celebre o largo d'Arroyos na historia moderna de Lisboa pelas scenas populares de que foi theatro, por occasião da invasão franceza em 1810. (1)

No anno de 1837 o município de Lisboa no douvavel intuito de desobstruir a capital de tudo que a pejasse, embaraçando o transito, mandou desfazer este monumento, que era um specimen bastante valioso da esculptura porlugueza no primeiro quartel ou metade do século XVI. Por este critério, os futuros munícipes de Lisboa mandarão talvez remover, senão todos, a maior parle dos monumentos, que adornam as nossas praças. Felizmente, o vandalismo não chegou a ponto de destruir o padrão de Arroyos, limitando-se a mandal-o remover para a visinha parochial de S. Jorge, onde se póde contemplar actualmenle.

Sopa de Arroios, população portuguesa deslocada durante a Guerra Peninsular em 1810,
des. Domingos António de Sequeira,  grav. Gregório Francisco de Queiroz, 1813.
Biblioteca Nacional de Portugal

O Largo de Arroyos foi o scenario de um d’esses episodios lancinantes que o illustre pintor Sequeira perpetuou com o seu lápis e que um discípulo de Bartolozzi, o nosso compatriota Gregorio Fernandes de Queiroz, reproduziu n’uma bella e grande gravura que é hoje muito apreciada. Ahi se vê o padrão de Arroyos, lai qual elle era, com o seu competenle resguardo. (2)


(1) Ignacio de Vilhena Barbosa, Monumentos de Portugal... Lisboa, Castro Irmão, 1886
(2) Boletim de architectura e de archeologia da Real Associação dos Architectos Civis e Archéologos Portuguezes, 1876

Ligações adicionais:
Campaigns of the British Army
Costume of Portugal
Henri l'Evêque, c. 1814
Henri l'Evêque, c. 1814

Artigos relacionados:
Henri l`Évêque, Cacilhas no início da década de 1800 (I de II)
Henri l`Évêque, Cacilhas no início da década de 1800 (II de II)
Henri l’Évêque, artista viajante, primeiras impressões
Henri l'Évêque (1769-1832)

Mais informação:
A freguesia de São Jorge de Arroios da cidade de Lisboa, por Pedro Garcia Anacleto
A Travessa das Freiras da "Sopa de Arroios"
Travessa das freiras a Arroios
O largo de Arroyos e a sua sopa
Museu de Lisboa: Luís Gonzaga Pereira (1796-1868), Igreja de N. Senhora da Conceição em Arroios
Museu de Lisboa: Luís Gonzaga Pereira (1796-1868), Bica de Arroios
Museu de Lisboa: Luís Gonzaga Pereira (1796-1868), Pallacio do Conde de S. Miguel em Arroios

segunda-feira, 3 de março de 2025

Embarcação de pesca local (memória descritiva)

Memória descritiva de embarcação de pesca local, do tipo chata, de construção em plástico reforçado a fibra de vidro (PRFV), para operar na Costa Continental Portuguesa em regime diurno, produzido pela Gilmarine – Fabricação de Navios, Lda, com sede em Cascais.



Apesar de ser a típica embarcação para operação em águas marítimas pelos marítimos das comunidades da Trafaria, Costa da Caparica e Fonte da Telha, muitas destas embarcações também estão habilitadas com licença de pesca para a zona rio Tejo, onde realizam pesca de forma cumulativa à pesca em águas marítimas. (1)

Índice

1 Introdução;
2 Carga máxima;
3 Estrutura;
4 Sistema de propulsão e governo;
5 Sistemas eléctricos e hidráulicos;
6 Meios de salvamento;
7 Meios de protecção contra Incêndios.

1 Introdução

A presente Memória Descritiva refere-se a uma embarcação de pesca local de tipo aberto, de construção em Plástico reforçado com fibra de vidro (PRFV) a operar na Costa Continental Portuguesa, em regime diurno e com as seguintes características de projecto:

Comprimento Fora a Fora: 6.42 metros;  
Boca Máxima: 2.64 metros;
Pontal: 0.92 Metros;
Imersão de Projecto: 0.30 metros;
Deslocamento Leve: 900 Kg;
N.° de Tripulantes: 5 Tripulantes;
Max. Potência do Motor Principal: 44 KW (60CV).
Tonelagens: GT = 2.0973 - NT = 0.6292


2 Carga máxima

As cargas máximas para a qual a embarcação foi concebida são:

Peso Leve da Embarcação: 800Kg;
Peso da tripulação: 5 x 75 Kg = 375 Kg;
Peso do Motor Principal: 120 Kg;
Peso do Combustível: 50 L x 0.805 = 40.25 Kg;
Peso das Artes: 500 Kg;
Peso do Pescado: 1000 Kg; .
Total: 2735.25 Kg


3 Estrutura

A embarcação é de construção monolítica em PRFV com duplo fundo estanque (que assegura a flutuabilidade em caso de alagamento).


O reforço estrutural é composto de três longitudinais no fundo e um cavername com três cavernas de célula frechada e quatro anteparas simples separadas de 0.70 Metros.

Chata em plástico e fibra de vidro
Gilmarine, Fabricação de Navios, Lda.
EC Marginal Cascais, apt. 1117, 2751-902 Cascais

A zona de proa tem um pequeno castelo também em PRFV para a guarda de material e a zona da popa tem duas anteparas longitudinais separando a zona do motor do espaço destinados ao governo da embarcação e do espaço destinado ao gerador hidráulico, este a estibordo.

Toda a borda está protegida por um talabardão em aço inoxidável, assim como o fundo, que é totalmente chapeado, uma vez que após a faina a embarcação é rebocada para seco pela praia.

Com o mesmo fim a proa recebe um reforço no local do olhai por onde é feito o reboque A estrutura do casco na secção mestra tem uma espessura de aproximadamente 8 mm na obra morta e de 10 mm na obra viva distribuidas da seguinte maneira:

Camada exterior de "Gel Coat";
Primeira camada do estratificado em" Mat" 300 g/m2; - "Mat" 300 + "Rov" 500 + "Mar 300;
Na obra viva: 4 * "Mat" 450 + 3* "Rov" 500 intercalados;
Na obra morta: Coremat 2rnm + "Mat" 300 + "Rov" 500 + "Mat" 300;
3 Longitudinais de PRFV com 3* "Rov" 500 + 3 * "Mar 450 intercalados;
Cavernas de construção semelhante aos longitudinais;
Duplo fundo em PRFV de 10 mm de espessura aproximadamente.


4 Sistema de propulsão e governo

A propulsão é efectuada com o recurso a um motor de explosão fora de bordo a gasolina, com 44 KW (60 Cv), alimentado por um ou vários depósitos transportáveis.

O governo da embarcação é efectuado através da rotação no eixo vertical do próprio motor com o recurso a um punho, no qual ainda esta instalado o sistema se aceleração e reversão do sentido de rotação do hélice.


5 Sistemas eléctricos e hidráulicos

O sistema eléctrico da embarcação é constituido por uma bateria de chumbo do tipo marítima que é alimentada pelo gerador (alternador) do motor principal no caso deste estar equipado com arranque eléctrico, caso contrario este sistema é inexistente.

O sistema hidráulico é constituido por uma bomba hidráulica accionada por um motor autónomo a gasolina e por um alador hidráulico localizado a vante do parque de trabalho.


6 Meios de salvamento

A embarcação será dotada de todos os equipamentos prescritos e aprovados pelas Autoridades Marítimas:

Uma bóia circular;
Um colete salva-vidas para cada tripulante (5).


7 Meios de Protecção Contra Incêndios

A embarcação tem como sistema de protecção incêndios um extintor de CO2 de 2 Kg no castelo de proa, em local de fácil acesso. (2)

ooOoo

Cronológicamente, sucede a embarcação aqui descrita à sua predecessora em madeira, das décadas de 1980 e 1980, pela qual foi modelizada (v. imagem abaixo).

Graziela Pena TR-1367-L
Costa da Caparica. Vila piscatória recheada de encantos pitorescos, ed. Borges Garcia n° 206
postal  circumlado em 1993
eBay


(1) Marco Pais Neves dos Santos, Pesca comercial nas águas interiores não marítimas do estuário do rio tejo, contributos para o seu melhor conhecimento, melhoria da sustentabilidade socio-económica e proteção do ambiente estuarino, Sintra, junho de 2022
(2) Idem, cf. cedência de Joaquim Gil Sousa Piló, Presidente do Sindicato Livre dos Pescadores e Profissões Afins, em 18 de março de 2020