Formatura militar no Terreiro do Paço (detalhe), Dirck Stoop, após de 1662. Imagem: Museu da Cidade de Lisboa |
a) — O "Palácio Real da Ribeira" e a "Praça do Palácio" ou "Terreiro do Paço", onde o primeiro havia sido erigido pelo rei D. Manuel nos princípios do século XVI.
As primeiras vistas que se fizeram deste palácio existem em pergaminho, no "Livro das Horas de D. Manuel" (1517), no Museu Nacional de Arte Antiga, e na "Chronica de D. João I", por Fernão Lopes (1.° quartel do século XVI), no Arquivo Nacional da Torre do Tombo.
Em pintura a óleo conservam quatro quadros, todos dos meados do século XVII.
Lisboa, Terreiro do Paço, A entrada do Embaixador Francisco de Mello e Torres (detalhe), Dirck Stoop, 1662. Imagem: Museu da Cidade de Lisboa |
O primeiro é sobre tela, e devido ao pintor flamengo Dirck [Dirk] Stoop, então ao serviço do rei de Portugal D. João IV, está na embaixada de Portugal em Paris.
Um outro quadro, mui semelhante ao anterior, foi pintado pelo artista [Johannes, Johann] Lingelbach (1622-1674) [?], da escola holandesa, que se acha algures no estrangeiro.
Os dois restantes são de autor desconhecido, e tem por assunto a aclamação do rei D. João IV; pertencem ao Estado, e acham-se expostos no palácio Almada.
Lisboa, Terreiro do Paço, A entrada do Embaixador Francisco de Mello e Torres, Dirck Stoop, 1662. Imagem: Museu da Cidade de Lisboa |
Em azulejos foi pintado no século XVII, um aspecto do Terreiro do Paço e do Palácio, num grande painel que existia num prédio da Estrada de Benfica, mas cujo paradeiro desconhecemos.
Há ainda outros pequenos quadros em azulejo, onde está representado torreão do Palácio Real e o Terreiro do Paço, tais como um pequeno painel que foi encontrado num prédio da Costa do Castelo, actualmente no Museu da Associação dos Arqueólogos; outro no extinto convento das Trinas do Mocambo, guardado no Museu de Arte Antiga, etc.
b) — "O Palácio real de Alcântara e mosteiro das Flamengas", desenhados por Pier Maria Baldi (1668-1669), e só reproduzidos pela fototipia no século
Viaje de Cosme de Médicis por España y Portugal (1668-1669), Villa Realle D Alcantara, Pier Maria Baldi. Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal |
c) — "O Palácio do Corte Real", visto do lado do Corpo Santo. A primeira vista foi gravada por Dirck Stoop (1662).
O Palácio do Infante Dom Pedro em o Corpus Sancto em Lisboa, Dirck Stoop, 1662. Imagem: British Museum |
d) — "O Palácio do Corte Real e a Ribeira das Naus", vistos do lado do Tejo. A mais antiga gravura [publicada em livro] deve-se a Pieter Vander Aa (c. 1703).
Vista e perspectiva do palácio do irmão do rei, Louis Meunier, 1668. Imagem: British Museum |
e) — "A Igreja e Convento do Jerónimos". A mais antiga representação iconográfica foi gravada em cobre por Dirck Stoop (1662).
O convento de S.to Hieronymos Em Bellem, Dirck Stoop, 1662. Imagem: British Museum |
Do mesmo artista existe um quadro a óleo [View of Belem Monastery near Lisbon, c. 1660 - 1670], que está no Museu de Haia (Holanda) [Mauristhuis Museum].
Mosteiro dos Jerónimos e Torre de Belém, Dirck Stoop, c. 1660 - 1670. Imagem: Mauristhuis Museum |
Outro quadro a óleo, com assunto idêntico, foi pintado por Filipe Lobo (1650);
Mosteiro dos Jerónimos e Torre de Belém, Filipe Lobo, 1657 (?). Imagem: MNAA |
[Sobre os Jerónimos, também de Filipe Lopo existe um outro quadro, assinado Philippus Lupis Fecit 16--, vendido em pela Christie's em 4 de dezembro de 2013.]
Mosteiro dos Jerónimos e Torre de Belém, Filipe Lobo, 16--. Imagem: Christie's |
e) — "Igreja de S.to Amaro, à Junqueira". A primeira gravura, em cobre, é devida a Dirck Stoop (1662).
Vista de Santo Amaro e Perspectiva do lugar de Bellem, Dirck Stoop, 1662. Imagem: British Museum |
g) — "O Mosteiro da Madre de Deus"; a vista do edifício foi gravada por Dirck Stoop em 1662, e não voltou a ser reproduzida até ao fim do século XIX.
Vista do Convento da Madre de Deus, Dirck Stoop, 1662. Imagem: British Museum |
h) — "A Igreja e Convento da Graça". Foram representados num painel de azulejos que forma o silhar do refeitório do ex-convento de S. Bernardino [em Atouguia da Baleia], próximo de Peniche. Parece ser pintura do século XVII.
i) — "A Torre de S. Vicente, em Belém"; a primeira gravura que se fez desta obra arquitectural consta da colecção de Dirck Stoop (1662). É o monumento de Lisboa que tem sido objecto do maior número de produções iconográficas até à actualidade.
A torre E entrada da Barra de Bellem, Dirk Stoop, 1662. Imagem: British Museum |
j) — "A Casa dos Bicos e o mercado da Ribeira Velha"; estão representados num painel de azulejos do século XVII, que devia fazer parte do silhar duma sala. Pertence hoje a um particular [ao Museu da Cidade de Lisboa].
Painel de azulejos, A Casa dos Bicos e o mercado da Ribeira Velha, século XVII. Imagem: Museu da Cidade de Lisboa |
k) — "O Desembarque de D. Filipe II de Portugal no Terreiro do Paço, em 29 de Junho de 1619, desenho de Domingos Vieira Serrão, gravado a buril por Ioan Schorquens, para figurar nas duas edições do livro comemorativo da viagem daquele monarca a Portugal.
Chegada do D Filipe II de Portugal a Lisboa para uma viagem no Reino de Portugal, Ioam Schorquens, segundo Domingos Vieira Serrão, 1619. Imagem: Wikimedia |
l) — "A Viagem da Rainha D. Catarina, filha de D. João IV, para Inglaterra". Foram gravados por Dirck Stoop vários episódios dessa viagem, nos quais se acha representado o Terreiro do Paço (cerca de 1662).
O modo como sua Majestade D. Catarina embarcou de Lisboa para Inglaterra, Dirck Stoop, 1662. Imagem: British Museum |
m) — "Uma Tourada no Terreiro do Paço", de que a primeira vista é devida a Dirck Stoop (1662).
Touros Reays nas Festas do Casamento da Raynha da Gran Bretanha Em Lisboa, Dirck Stoop, 1662. Imagem: British Museum |
n) — Vistas de "Cerimónias da Inquisição", de que julgamos terem sido gravadas as primeiras por Pieter Vander Aa (c.1705) [Les royaumes d’Espagne et de Portugal representés en tailles-douces trés exactes, dessinées sur les lieux mêmes qui comprennent les principales villes]; uma delas mostra uma procissão saindo do edificio da inquisição no Rossio; a outra é a representação dum "Auto de Fé no Terreiro do Paço".
Lisboa, Rossio, Palácio dos Estaús, Procissão do Auto de Fé, Pieter Vander Aa, rep. c. 1707. Imagem: Histórias de Lisboa, Tempos Fortes |
São estes os edifícios e cenas em praças públicas de Lisboa que só com duas excepções (alíneas b, g), maior número de vezes foram representados em estampas antigas, até aos fins do século XVIII, isolados das vistas panorâmicas da cidade.
Lisboa, Terreiro do Paço, Maneira de queimar os que foram condenados pela Inquisição, Pieter Vander Aa, rep. c. 1707. Imagem: Histórias de Lisboa, Tempos Fortes |
Com respeito a vias públicas da antiga cidade de Lisboa, além das já citadas vistas do Terreiro do Paço, mencionaremos:
a) — "A antiga Rua Nova", iluminura em pergaminho do Livro de Horas de D. Manuel (1517), existente no Museu Nacional de Arte Antiga, que não tornou a ser reproduzida senão no século XIX [v. 4.ª parte desta série].
b) — "O Rossio". A mais antiga representação desta praça, isolada das vistas panorâmicas é do século XVII, e está num painel de azulejos que existia num prédio na Estrada de Benfica; ignoramos o seu paradeiro.
Lisboa, Rossio, Hospital de Todos os Santos, Francisco Zuzarte. Imagem: Arquivo Municipal de Lisboa |
Outro painel de azulejos mostra o Rossio e o Chafariz do Neptuno; é da mesma época que o anterior; estava situado numa sala do extinto Convento das Trinas, e acha-se actualmcnte no
Rossio, Chafariz de Neptuno e Hospital Real de Todos os Santos, Painel de azulejos da 1.ª metade do século XVIII (?). Imagem: Wikimedia |
As gravuras eram geralmente estampadas a preto, e algumas vezes a sépia ou a sanguínea. O empenho, porém, de as valorizarem, e o intuito do seu aproveitamento, depois de emolduradas, para ornamentação de salas, levou muitos artistas a iluminá-las ou colori-las com tintas muito vistosas, e por vezes bastante diferentes das cores naturais dos objectos representados; as colorações feitas à mão variavam de estampa para estampa.
Por isso se encontram no mercado, ou nas colecções, muitas vistas antigas de Lisboa, quer com a sua cor de estampagem, quer com as cores berrantes com que as coloriam. Algumas águas-tintas foram estampadas a cores, ou iluminadas à mão.
As gravuras publicadas até ao terremoto de 1755, ou são estampas isoladas para quadros; ou formavam colecções ou álbuns associados a vistas doutras terras; ou encontravam-se em livros acompanhando, ilustrando e documentando ou textos, onde se lhes faz alusão, ou a sua descrição.
Acrescentaremos que, exceptuando o manuscrito de Francisco de Olanda: "Da fabrica que fa1ece ha Çidade Lysboa", não existe outro trabalho antigo exclusivamente sobre Lisboa, com ilustrações da cidade, quer nacional, quer estrangeiro.
Alguns autores e editores dos séculos XVII e XVIII organizaram colecções de estampas então já conhecidas, ou álbuns com ou sem um pequeno texto descritivo impresso, ou inseriram-nas em livros, quer intercaladamente no texto, quer reunidas no fim dos volumes.
Essas estampas ou eram tiradas com as matrizes em cobre de gravuras anteriores, ou produzidas em novas matrizes copiadas de estampas anteriores. (1)
(1) Vieira da Siva, Augusto, Iconografia de Lisboa, Revista Municipal n.° 32, Câmara Municipal de Lisboa, 1947
Artigos relacionados:
Da fábrica que falece à cidade de Lisboa
Delícias ou descrições de Lisboa
Panorâmica de Lisboa em 1763
Leitura adicional:
Lisboa do século XVII "a mais deliciosa terra do mundo"
A entrada pública do Núncio Giorgio Cornaro em Lisboa (1693)
O Terramoto de 1755, a Torre do Tombo e Manuel da Maia
A genealogia das imagens de Lisboa...
Saudades da Lisboa Desaparecida
Histórias de Lisboa, Tempos Fortes
O Paço Real da Ribeira - XVI-XVIII
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