Lisboa, representação invertida da topografia da cidade, baseada em gravura precedente de Pierre Aveline, c. 1750. Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal |
Havia editores franceses, ingleses e alemães, que publicavam séries ou colecções destas vistas de monumentos, edifícios e cidades de todo o mundo, contribuindo assim para a propaganda das belezas e dos aspectos pitorescos dos diferentes países; constituíam elas o bilhete postal ilustrado e popular daqueles tempos.
Em 1946, o ano em o artigo foi escrito, durante o Estado Novo, o tema da governação espanhola, entre 1580 e 1640, era sensível e frequentemente evitado, fosse pela debilitação do orgulho nacionalista, fosse para não incomodar a, também nacionalista, Espanha de Franco.
Praticamente só Leitão de Barros abordou o tema, no filme Frei Luís de Sousa, na cena do incêndio, quando Manuel de Sousa Coutinho lança fogo à sua própria casa, em Almada, de modo a não albergar Filipe II de Espanha.
Tiremos então partido desse hiato pictórico, no texto original do engenheiro Augusto Vieira da Silva, para aqui intercalar algumas imagens do período Filipino, onde o Paço da Ribeira se evidencia pelo torreão maneirista, de Fillipo Terzi, que a partir de 1581 substitui a arquitectura manuelina, de Diogo de Arruda.
Vista geral da cidade de Lisboa capital de Portugal antes do terremoto. Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal |
Umas dessas estampas são invertidas, a fim de que, quando introduzidas na câmara óptica, e com a margem inferior para baixo, se vissem os edifícios e os panoramas com o aspecto que eles naturalmente possuíam.
Os títulos, inscritos nas margens, superior ou inferior, eram também muitas vezes invertidos, de modo que, quando vistos, na câmara óptica, a sua leitura fazia-se ás direitas. Outras vezes, porém, as vistas eram direitas, de forma que introduzidas na câmara, mostravam os panoramas invertidos (da esquerda para a direita e vice-versa), o que não tinha inconveniente algum para os efeitos e fins que para o público se pretendiam obter com tais exibições.
Lisabona, Georg Balthasar Probst (1732-1801), c. 1730. Imagem: Swaen |
As vista ópticas da cidade de Lisboa, de que temos conhecimento, são geralmente cópias mui incorrectas, de estampas anteriores, panorâmicas e de edifícios, que se adaptavam ao formato e dimensões próprias para exibição nas câmaras ópticas.
Excepcionalnente encontram-se, sem serem destinadas a câmaras ópticas, algumas vistas de Lisboa invertidas, no que se refere aos seus lados direito e esquerdo, isto é, como o lado da foz do Tejo à direita do observador. Não sabemos explicar, senão por um equívoco do desenhador, o que levou este a praticar tal anomalia.
Lisboa amplissima lusitaniæ civitas, totius indiæ orientalis et occidental: emporium celeberrimum, 1619. Imagem: World Digital Library |
As numerosas vistas panorâmicas produzidas durante este período de dois séculos que estamos considerando, isto é, até ao terremoto de 1755, eram feitas mui rudimentarmente.
Lisbona, Giuseppe Longhi, 1670. Imagem: BLR |
Os desenhadores copiavam os edifícios principais e característicos, que colocavam nos seus respectivos locais, e o espaço restante era preenchido com casaria, telhados, fachadas e janelas, dispostas de uma maneira mais ou menos arbitrária.
Lissbona, representação invertida da topografia da cidade, Jeremias Wolff (1663-1724), segundo Friedrich Bernhard Werner (1690-1776). Imagem: Paulus Swaen |
Por isso o aproveitamento de tais estampas, como documento, para a história, deve ser feito mui criteriosamente, para não induzir em erros, como por várias vezes tem sucedido. (1)
(1) Vieira da Siva, Augusto, Iconografia de Lisboa, Revista Municipal n.° 32, Câmara Municipal de Lisboa, 1947
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Leitura adicional:
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