Terreiro do Paço, vista panorâmica de Lisboa (detalhe), painel de azulejos proveniente do antigo palácio dos condes de Tentúgal, Imagem: Wikipédia |
As principais de que temos notícia, nenhuma delas assinada nem datada, são as seguintes:
Em tela:
a) — Um quadro que representa a tomada de Lisboa aos mouros já existia no l.º quartel do século XVII na igreja de S. Crispim, onde foi visto por António Coelho Gasco, que escreveu o seu livro entre os anos 1627 e 1683. Pertence à Câmara Municipal de Lisboa.
b) — Da mesma época deve ser um quadro atribuído ao pintor português Amaro do Vale (entre 1615 e 1619) [ou a Domingos Vieira Serrão (1570-1632) e Simão Rodrigues (c. 1560-1629)], com uma vista panorâmica da cidade, e que parece ser um ex-voto dum português. É pertença do governo Francês, e acha-se patente na Igreja de S. Luís Rei de França, em Lisboa.
Lisboa, Ex Voto, Nossa Senhora de Porto Seguro Roga a seu Precioso Filho por esta Cidade e sua Navegação de Lisboa, Igreja de São Luís dos Franceses, c. 1620. Imagem: do Porto e não só... |
c) — Quadro que representa a partida de Lisboa para a India, em 1541, de S. Francisco Xavier, devido ao jesuíta português Domingos da Cunha (1598-1644), ou com menos probabilidade ao pintor português Simão Gomes dos Reis. A vista panorâmica que constitui o fundo do quadro é mui semelhante à anterior. Consta que este quadro proveio do Noviciado da Cotovia, depois Colégio dos Nobres, e está actualmente num corredor da Academia de Belas Artes.
D. João III e o núncio apostólico da Índia, ou A partida de São Francisco Xavier, aut. desc. c. 1730. Imagem: Wikipédia |
d) — Vista panorâmica da cidade tirada do poente para nascente, do jardim do palácio que foi do marquês de Abrantes, junto à igreja de Santos-o-Velho. Deve ser do 1.° quartel do século XVIII, e pertence a um particular.
Em azulejos:
a) — Vista panorâmica num silhar que esteve numa casa do Largo de S. Tiago [Palácio dos Condes de Tentúgal], e que deve ser aproximadamente do ano 1784. Estava distribuída por 10 painéis, e actualmente reconstituída formando um silhar corrido, como era na sua origem, está exposta no
b) — Num silhar da capela da portaria do extinto convento de S. Vicente de Fora está uma vista panorâmica, representando a conquista de Lisboa, em 1147. Deve ser do mesmo tempo que a anterior.
Até épocas muito próximas das nossas, exceptuando o Paço Real da Ribeira, e um ou outro palácio ou casa solarenga, não possuía Lisboa palácios de arquitectura sumptuosa, como existiam noutras capitais, bem que o seu recheio em mobiliário, tapeçarias e cerâmica primasse pela variedade e riqueza.
Rua Nova dos Mercadores em 1521, Livro de Horas de D. Manuel, iluminura atribuida a António de Holanda. Imagem: MNAA |
As igrejas, se não possuíam fachadas monumentais, como certas catedrais do estrangeiro, apresentavam por vezes aspectos arquitectónicos que impressionavam os artistas, como se pode ainda ver nalgumas que resistiram ao cataclismo do 1.° de Novembro de 1755.
Rua Nova dos Mercadores, aut. desc., século XVI. Imagem: Society of Antiquaries of London |
Mas sendo em geral pobre a sua fachada, o seu interior era quase sempre ornado com mármores e abundante obra de talha dourada que lhes dava um aspecto de riqueza.
Rua Nova dos Mercadores, aut. desc., século XVI. Imagem: Society of Antiquaries of London |
As vias públicas, exceptuando o Terreiro do Paço, o Rossio, e a antiga Rua Nova, consistiam geralmente em estreitas e tortuosas artérias, nalgumas das quais mal podiam passar dois coches que se cruzassem. (1)
(1) Vieira da Siva, Augusto, Iconografia de Lisboa, Revista Municipal n.° 32, Câmara Municipal de Lisboa, 1947
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