quinta-feira, 20 de setembro de 2018

Almeida Garrett por Bulhão Pato: no eremitério

Um dia de manhã a governanta, colossal nas formas, mas expedita e intelligente no seu lavor domestico, entrou no quarto e, entregando uma carta, disse:

— Veiu trazel-a agora um criado do sr. Garrett.


Palácio da Ajuda e torre do relógio, Francesco Rocchini (1822 - 1895), c. 1868.
Biblioteca Nacional de Portugal

O dono da casa interrompeu o trabalho e abriu a carta. Era longa. No fim da leitura voltou-se para mim, com ar prasenteiro, e disse-me:

— Uma boa nova; o Garrett vem passar o resto da primavera e o verão comnosco.

Fiquei pulando de contente. Viver com o grande poeta debaixo dos mesmos tectos, aprecial-o no trato intimo, ouvir-Ihe, da própria boca, os episódios da sua vida tão aventurosa, tão cortada de lances notáveis, era o máximo a que podia aspirar a minha imaginação juvenil e ardentemente impressionavel por tudo quanto era litterario. 

Raimundo António de Bulhão Pato (1828-1912).
Hemeroteca Digital

Preparou-se para o nosso hospede o quarto mais amplo e mais commodo que havia no eremitério.

Garrett mandou o seu saco de noite, uma pasta com manuscriptos, e o estojo de toilette, peça esta que, á primeira vista, podia parecer uma caixa de instrumentos cirúrgicos e juntamente uma botica portátil: tal era a quantidade de ferros cortantes em forma de canivetes, escalpellos e bisturis; as tesoiras de todas as dimensões, as pinças, as esponjas, de todos os tamanhos, e a enorme quantidade de frascos que encerravam finissimas essências combinadas pelos mais imaginosos e mais famosos perfumistas de Londres e Paris.

O dono da casa, vendo o estojo aberto diante do espelho, contemplou-o, como eu contemplava as notas, isto é, com os olhos arregalados de pasmo, e, passados alguns momentos, voltando-se para mim, disse com ar solemne:

— Ora veja o meu amigo de quantas cousas pôde precisar um homem n'este mundo!


Alexandre Herculano (1810-1877)
Wikimedia Commons

O auctor do "Fr. Luíz de Sousa" veiu para a Ajuda. Entravam os primeiros dias de maio.

O dono da casa dera liberdade plena aos seus hóspedes, para que os seus hospedes lh'a deixassem a elle também. Levantava-se às mesmas horas, almoçava e sentava-se á mesa do trabalho, como de ordinário. 

Garrett preguiçava, mas aquellas horas de preguiça eram como as de Byron. De quando em quando do "dolce far niente", que os italianos entendem por fazer aquillo de que se gosta, saia uma flor delicada e perfumadíssima, que iria enlaçar-se na graciosa grinalda das "Folhas Caídas".

Garrett, n'essa época, estava na força da vida, tinha quarenta e oito annos, mas havia muito que lhe chamavam velho.

As gerações do romantismo literário em Portugal reunem-se na casa da Ajuda em 1849:
Almeida Garrett (1799-1854), Alexandre Herculano (1810-1877) e Bulhão Pato (1828-1912).

Como os poetas tem de ser calumniados em tudo, a elle até o calumniavam na idade, e auctorisavam a calumnia com o longo catálogo das suaa obras.

Não se lembravam de que o cantor de D. Branca, como o cantor de Leandro e Hero, balbuciára ainda na infância a lingua sonora dos immortaes! 

Ás tardes discorriamos, com o dono da casa, pelo aprasivel Valle das Romeiras, onde Rebello da Silva passava uma temporada com Julio Caldas, e augmentada a romagem com mais dois companheiros, alargávamos, não raro, o passeio até ás proximidades de Carnaxide e Linda a Pastora. 

Luiz Augusto Rebello da Silva (1822-1871)
Wikipédia

Se eu fosse stenographo e houvesse transcripto as conversações dos três, que escutava em silencio durante aquellas tardes, em vez d'estas paginas incolores teria o leitor o livro mais elegante, mais espirituoso, mais variado e original da litteratura portugueza! 

Foi n'um d'esses passeios que Almeida Garrett delineou uma viagem monumental. 

O plano era o seguinte: 

Comprar-se um macho possante, para transportar bagagem e barraca de campanha. 

O auctor do "Monge de Cister" daria três ou quatro mezes de ferias á "Historia de Portugal".

Rebello da Silva acompanhava. Correríamos a Beira, o Minho e Traz-os-Montes a pé, e a pequenas jornadas. Os três escreveriam um livro: na própria phrase de Garrett:

Chafariz de Guimarães, Augusto Roquemont, 1847.
Imagem: Desde o tempo do barroco

"Far-se-há chronica de quanto virmos e ouvirmos".

A viagem não se realisou, principalmente, pelo aspecto que foram tomando as cousas politicas. 

Que bella chronica, que sumptuoso livro perdeu Portugal!

Findou a primavera, correu o verão, e só nas entradas do inverno é que Almeida Garrett regressou a Lisboa. 

N'esse inverno, entre outras cousas, escreveu o capitulo de um romance, que deve existir entre os manuscríptos que legou o poeta.

A leitura do capitulo foi pretexto para um jantar.

Garrett morava então na calçada do Salitre. O fino tacto do grande escríptor respirava em todas as cousas que o cercavam. 

Não era uma casa aquella — era um sanctuarío da arte!

Casa na rua Saraiva de Carvalho antiga rua de Santa Isabel onde faleceu Almeida Garrett.
[Casas onde, em Lisboa, residiu Almeida Garrett]
O Occidente, 30 janeiro 1899

A intuição, o gosto do seu espirito delicadíssimo, revelava-se no que apparentemente parecia mais insignificante.

Constavam os convivas de A. Herculano, Rebello da Silva, Lopes de Mendonça, Carlos Bento, D. António Jorge da Cunha Menezes e eu. 

D. António de Menezes tinha intelligencia fina e coração nobilissimo. 

Muito moço; alto, elegante, mas franzino e débil de compleição; os olhos claros; o olhar limpído, as pestanas longas. O vago ideal d'aquelles olhos fazia-nos scismar quando attentavamos n'elles.

A extrema pallidez do rosto prenanciava, já então, a terrível enfermidade que havia de arrebatal-o na flôr da vida. 

Na belleza das feições, que tinham os primores e mimos feminis, respirava, ao .mesmo tempo, a virilidade da sua alma e o valor áo seu animo provado já no campo da batalha. 

As mãos eram finas, mãos de rasa, como dizem os ingleses. 

Corria-lhe nas veias fidalguissimo sangue. Seu pae represratava os Menezes de Africa, sua mae era D. Anna Mafalda da Cunha, irmã do conde da Cunha, D. José; varonia das mais provadas, das mais antigas e mais íllustres âe Portugal.

Hoje, até para um homem das minhas idéas, faz bem ver um aristocrata de velha rocha.

É uma cousa artística. 

Desenjoa-sse a gente das gorduras de certos viscondes, que estoiram as luvas, por mais elastica que seja a pellica, com os nós das mãos ossudas e habituadas a puxar pelo cabo da enxada nativa, socia inseparável da sua linfancia. 

Uma tradicção viva do passado em face d'este presente é cousa agradavel: faz-nos lembrar que já tivemos uma sociedade legahneitte constituida: sociedade de gente limpa e gente branca. 

A distríbuiçao de fitas, de conmendas, de gran cruzes, de títulos, é o symptoma mais decisivo de que este systema que nos rege está a cair a pedaços. 

Todos os íntemacíonaes do mundo — dos republicanos já se não falla (ao que parece, os republicanos são ultra-conservadores em presença dos que proclamam a liquidação social) —, todos os intemacionaes, digo, a noya seita que apavora o espirito e faz tremer as carnes do burguez rotundo e do banqueiro anafado, annunciam menos um novo génesis social do que esta ambição de tratamentos, de distincçoes, de gerarchia, de que toda a ge&te ri, mas que quasi toda a gente quer. 

Quando a corrupção chega a lavrar no gosto, na lingua e nas idéas de uma sociedade, essa sociedade está irremediavelmente perdida.

Por exemplo: 

A um canteiro, que pôde ser um artífice de bastante merecimento chama-se hoje um esculptor.

Aquelle que dentro de um troço de mármore vè o Moisés, a Psyche, ou as Graças, como o designaremos? Que nome se ha de dar a Miguel Angelo, a Pradier, a Canova e a Thorwaldsen?

Ao café pediram todos, com viva instancia a leitara do capitulo. 

O poeta accedeu de boamente. 

Garrett lia com primor. Tinha uma voz masculina, cheia, poderosa, quando se exaltava na tribuna: um pouco áspera talvez; mas, assim que o assumpto o pedia, modificava as inflexões e conseguia todos os effeitos da declamação correcta. Nada de enphatico, de piegas, de amaneirado. 

Selo postal Almeida Garrett, 1957.
Delcampe

Declamava, como escrevia, com o mais apurado gosto e a maior naturalidade. Começou a leitura. 

Recordo-me bem que o romance principiava de modo original. O primeiro capitulo era a descripção da morte da heroina. 

Descripção admirável, como elle as fazia! Depois da leitura começou a discussão em que entraram: A. Herculano, Rebello da Silva, Lopes de Mendonça e Carlos Bento. 

A discussão era sobre o desfecho. O poeta tinha dois meios de resolver o problema, mas não lhe agradava nenhum. 

Depois de longo debate combinou-se um terceiro.

Carlos Bento tinha, n'esse tempo, grande enthasiasmo pelas letras, e, alem de ser conversador como ha muito poucos, possuia gosto finíssimo.

A politica, em que tem andado mettido de pés e cabeça — parece incrível — ainda não conseguiu acabar-lhe com isso!

Na entrada da primavera do anno seguinte o poeta voltou para o eremitério. 

Casa de Alexandre Herculano na Ajuda, Largo da Torre, Alberto Carlos Lima, década de 1910.
 Arquivo Municipal de Lisboa

Sentia-se na força da inspiração. Os versos, com o ardor dos vinte annos, desatavam-se de dia a dia. Ao mesmo tempo gisava as scenas do seu grande romance "Helena", de que ha pouco sairam os primeiros capítulos, formosos quadros, que deixam o leitor suspenso em ardente curiosidade.

Ah! porque descaiu mortal a mão do artista!

Parece que o poeta presentia já a morte quando, com sorriso melancólico, me recitava estes lindos e apaixonados versos:

Bem o vés, o alaúde caía-me
D'estas mãos que não tem já poder;
E o som derradeiro fugiu-me 
Do hymno eterno que ergui ao nascer.
Ai! por ti, por ti só, á memoria
Vem saudades do tempo da gloria !

Uma fragata inglesa a chegar ao Tejo frente à Torre de Belém, com uma fragata portuguesa ancorada ao largo pela sua popa, Joseph, ou Giuseppe, Schranz, depois de 1834.
Cabral Moncada Leilões

Oh! os poetas, os poetas!... Só elles têm alma de pagar as volúveis carícias da mulher com a immortalidade! (1) 


(1) Bulhão Pato, Sob os Ciprestes, 1877

Mais informação:
Arquivo Municipal do Porto: Documentos com referência a Garrett, Almeida. 1799-1854, escritor
Casa onde nasceu Almeida Garrett Archivo Pittoresco, 4.º Ano, n.º 7, 1861
XXIV Anniversário da morte d'Almeida Garrett, O Occidente, 15 dezembro 1878
Centenário de Almeida Garrett, O Occidente, 30 janeiro 1899
Casas onde, em Lisboa, residiu Almeida Garrett
Almeida Garrett na Hemeroteca Digital de Lisboa

Artigos relacionados:
O partido setembrista, Lisboa 1836
Manoel da Silva Passos, Lisboa 1836
O retiro de um velho romântico
Almeida Garrett
Garretismo
Os pincéis do Neogarretismo prévio



Internet Archive (referências biográficas):
Domingos Manuel Fernandes, Biographia politico-litteraria..., 1873
Teophilo Braga, Historia do romantismo em Portugal... Garrett, Herculano, Castilho, 1880
Francisco Gomes de Amorim, Garrett, memórias biográficas, Tomo I, 1881
Francisco Gomes de Amorim, Garrett, memórias biográficas, Tomo II, 1884
Francisco Gomes de Amorim, Garrett, memórias biográficas, Tomo III, 1884
Alberto Bessa, Almeida Garrett no Pantheon dos Jeronymos, 1902
Alfredo de Pratt, O divino poeta, 1903
Latino Coelho, Garrett e Castilho, estudos biográficos, 1917

Internet Archive:(bibliografia):
Catão [1821], 2.a ed. 1830
Teophilo Braga, Obras completas de Almeida Garrett, Volume I, 1904
Teophilo Braga, Obras completas de Almeida Garrett, Volume II, 1904
...

Biblioteca Nacional de Portugal:
Bicentenário de Almeida Garrett
Roteiro bio-bibliográfico
Obras em formato digital
A Enciclopédia de Garrett Enciclopedista
Modernidade e Romantismo em Almeida Garrett
Viagens na Minha Terra: caminhos para a leitura de uma "embaraçada meada"
Modos de cooperação interpretativa na leitura escolar do Frei Luís de Sousa
A Question of Timing: Madalena's role as 'uma mulher à beira duma crise de nervos'
Catão em Plymouth
O Camões garrettiano
Um Auto de Gil Vicente and the Tradition of Comedy
Iconografia

Obras digitalizadas de Garrett, Almeida

Biblioteca Nacional de Portugal (bibliografia):
Hino Patriótico (poema), Porto 1820, folheto impresso [Recuper. por Teófilo Braga, in Garrett e os Dramas Românticos, Porto 1905]
Proclamações Académicos, Coimbra 1820, folhetos mss. [Reprod. in O Patriota, nº 67 (15 Dez.), Coimbra 1820]
Ao corpo académico (poema), in Colecção de Poesias Recitadas na Sala dos Actos Grandes da Universidade [...], Coimbra 1821 [Recuper. por Martins de Carvalho, in O Conimbricense, Ano XXVII, nº 2823 (14 Ag.), Coimbra 1874]
O Dia Vinte e Quatro de Agosto (ensaio político), Lisboa Ano I (1821)
O Retrato de Vénus (poema), Coimbra Ano I (1821) [Incl.: Ensaio sobre a História da Pintura]
Catão. Tragédia, Lisboa Ano II (1822) [Incl.: O Corcunda por Amor, farsa, co-autoria de Paulo Midosi]
Aos Mortos no Campo da Honra de Madrid. Epicédio, folheto [reprod. do Jornal da Sociedade Literária Patriótica, 2º trim., nº 18 (13 Set.), Lisboa 1822, vol. II, pp. 420-423]
Oração Fúnebre de Manuel Fernandes Tomás, Lisboa 1822, opúsculo [Colig. in Discursos e Poesias Fúnebres [...], Celebradas para Prantear a Dor e Orfandade dos Portugueses, na Morte de Manuel Fernandes Tomás, Lisboa 1823]
Camões. Poema, Paris 1825
Dona Branca, ou A Conquista do Algarve (poema), Paris 1826
Da Europa e da América e de Sua Mútua Influência na Causa da Civilização e da Liberdade (ensaio político), in O Popular, jornal político, literário e comercial, vol. IV, nº XIX (Mai.), Londres 1826, pp. 25-81
Bosquejo da História da Poesia e da Língua Portuguesa, in Parnaso Lusitano ou Poesias Selectas dos Autores Portugueses Antigos e Modernos, vol. I, Paris 1826 [Incl.: introdução A Quem Ler]
Carta de Guia para Eleitores, em Que se Trata da Opinião Pública, das Qualidades para Deputado e do Modo de as Conhecer (ensaio político), Lisboa 1826, opúsculo Adozinda. Romance (poema), Londres 1828 [Incl.: Bernal Francês]
Lírica de João Mínimo, Londres 1829
Lealdade, ou a Vitória da Terceira (canção), Londres 1829, folheto Da Educação. Livro Primeiro. Educação Doméstica ou Paternal, Londres 1829
Portugal na Balança da Europa. Do Que Tem Sido e do Que Ora Lhe Convém Ser na Nova Ordem de Coisas do Mundo Civilizado (ensaio político), Londres 1830
Elogio Fúnebre de Carlos Infante de Lacerda, Barão de Sabroso, Londres 1830, folheto Carta de M. Cévola, ao futuro editor do primeiro jornal liberal que em português se publicar (panfleto político), Londres 1830 [Pseud.: Múcio Cévola, 2ª ed. transcrita in O Pelourinho, nº V, Angra [1831?, com o título Carta de M. Cévola, oferecida à contemplação da Rainha, a senhora Dona Maria segunnda]
Relatório dos decretos nº 22, 23 e 24 [reorganização da fazenda, administração pública e justiça], Lisboa 1832, folheto [Reprod. in Colecção de Decretos e Regulamentos [...], Lisboa 1836]
Manifesto das Cortes Constituintes à Nação, Lisboa 1837, folheto [Reprod. in Diário do Governo, nº199 (24 de Ag.), Lisboa 1837]
Da Formação da Segunda Câmara das Cortes. Discursos Pronunciados nas Sessões de 9 e 12 de Outubro, Lisboa 1837
Necrologia [do conselheiro Francisco Manuel Trigoso de Aragão Morato], in O Constitucional, nº 272 (13 Dez.), Lisboa 1838 [Relatório ao] Projecto de lei sobre a propriedade literária e artística, in Diário da Câmara dos Deputados, Vol. II, nº 35 (18 Mai.), Lisboa 1839
Discurso do Sr. Deputado pela Terceira, J. B. de Almeida Garrett, na Discussão da Resposta ao Discurso da Coroa, Lisboa 1840 [Discurso dito do Porto Pireu, em resposta a José Estevão] Mérope, tragédia.
Um Auto de Gil Vicente, drama, Lisboa 1841.
Discurso do Sr. Deputado por Lisboa J. B. de Almeida Garrett na Discussão da Lei da Décima , Lisboa 1841, folheto
O Alfageme de Santarém, ou a Espada do Condestável, Lisboa 1842
Elogio Histórico do Sócio Barão da Ribeira de Saborosa, in Memórias do Conservatório Real de Lisboa, Tomo II (8), Lisboa 1843
Memória Histórica do Conselheiro A. M. L. Vieira de Castro, biografia, Lisboa 1843, folheto [Anón., sobre o ministro setembrista António Manuel Lopes Vieira de Castro]
Romanceiro e Cancioneiro Geral, Lisboa 1843 [Incl.: Adozinda (2ª ed.) e outros «romances reconstruídos»]
Miragaia, Lisboa 1844, folheto impresso [de Jornal das Belas Artes] Frei Luís de Sousa, drama, Lisboa 1844 [Incl.: Memória. Ao Conservatório Real, lida na representação do drama no teatro da Quinta do Pinheiro em 4 de Julho 1843]
O conselheiro J. B. de Almeida Garrett [Autobiografia], in Universo Pitoresco, nº 19-21, Lisboa 1844 [Carta sobre a origem da língua portuguesa], ensaio literário, in Opúsculo Acerca da Origem da Língua Portuguesa [...] por dois sócios do Conservatório Real de Lisboa, Lisboa 1844
O Arco de Santana. Crónica portuense, romance, vol. I, Lisboa 1845 [Anón.]
Os Exilados, À Senhora Rossi Caccia, poesia, Lisboa 1845, folheto [Reprod. in Revolução de Setembro, nº 1197 (31 Mar.), Lisboa 1845, p. 2, anónimo e título A Madame Rossi Caccia, cantando no baile de subscrição a favor dos emigrados]
Memória Histórica do Conde de Avilez, biografia, in Revolução de Setembro, nº 1210 (15 Abr.), Lisboa 1845
Flores Sem Fruto (poesia), Lisboa 1845
Da Poesia Popular em Portugal, ensaio literário, in Revista Universal Lisbonense, Tomo V, nº 37 (5 Mar.) – 41 (2 Abr.), Lisboa 1846; [cont. sob título:]
Da Antiga Poesia Portuguesa, in id., Tomo VI, nº 9 (23 Jul.), 13 (20 Ag.), Lisboa 1846
Viagens na Minha Terra, romance, 2 vols., Lisboa 1846
Filipa de Vilhena, comédia, Lisboa 1846 [incl.: Tio Simplício, comédia, e Falar Verdade a Mentir, comédia]
Parecer da Comissão sobre a Unidade Literária, in Revista Universal Lisbonense, nº 16 (10 Set.), Lisboa 1846, vol. VI, sér. II, pp. 188-189 [dito Parecer sobre a Neutralidade Literária, da Associação Protectora da Imprensa Portuguesa, assinado por Rodrigo da Fonseca Magalhães, Visconde de Juromenha, A. Herculano e João Baptista de A. Garrett]
Sermão pregado na dedicação da capela de Nª Srª da Bonança, folheto, Lisboa 1847 [raro, reproduzido com o título Dedicação da Capela dos Srs. Marqueses de Viana (...) in Escritos Diversos, Lisboa 1899,
Obras Completas, vol. XXIV, pp. 281-284, redac.: Lisboa 1846]
Memória Histórica da Excelentíssima Duquesa de Palmela, Lisboa 1848 [folheto]
Memória Histórica de J. Xavier Mouzinho da Silveira, Lisboa 1849 [separ., reprod. de A Época. Jornal de indústria, ciências, literatura, e belas-artes, nº 52, tom. II, pp. 387-394]
O Arco de Santana. Crónica Portuense, romance, vol. II, Lisboa 1850
Protesto Contra a Proposta sobre a Liberdade de Imprensa, abaixo-assinado, folheto, Lisboa 1850 [Subscrito, à cabeça, por Herculano e mais cinquenta personalidades, contra o projecto de «lei das rolhas» apresentado pelo governo]
Necrologia de D.ª Maria Teresa Midosi, in Diário do Governo, nº 221 (19 Set.), Lisboa 1950
Romanceiro, vols. II e III, Lisboa 1851
Cópia de uma Carta Dirigida ao Sr. Encarregado de Negócios da França em Lisboa, Lisboa (19 Agosto) 1852 [litogr., sobre o tratado de comércio e navegação com o governo francês, que assinou como ministro dos negócios estrangeiros]
O Camões do Rossio, comédia, Lisboa 1852 [co-autoria de Inácio Feijó]
Folhas Caídas, poesia, Lisboa 1853
Fábulas – Folhas Caídas, poesia, 2ª ed., Lisboa 1853

quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Almeida Garrett (notas biográficas)

1799 – Almeida Garrett nasce no Porto.

Oporto, A view of the mouth of the Douro from Massarellos, Batty, Miller, 1829.
Imagem: Arquivo Municipal do Porto

João Baptista da Silva Leitão, a que só depois acresceram os apelidos com que se notabilizou, nasce a 4 de Fevereiro numa casa da velha zona ribeirinha do Porto, não longe da alfândega de que o pai possuía o cargo de selador-mor; a 10, é baptizado na igreja de Stº Ildefonso. 

Casa onde nasceu Almeida Garrett e uma vista parcial da Rua do Dr. Barbosa de Castro.
Archivo Pittoresco, 1861

Filho segundo, entre cinco irmãos, de António Bernardo da Silva e de Ana Augusta de Almeida Leitão, família burguesa ligada à actividade comercial e proprietária de terras na região portuense e nas ilhas açoreanas.

1804-1808 – Infância repartida pela Quinta do Castelo, para onde a família se transferiu, e a do Sardão, ambas ao sul do Douro, no concelho de Gaia. 

Gaia, Convento da Serra do Pilar visto do Aqueduto do Sardão, Gualtieri.
Cabral Moncada Leilões

Ao legado de velhas histórias e lendas populares das criadas Brígida e Rosa de Lima junta-se o preceptorado do tio paterno, bispo de Malaca, Frei Alexandre da Sagrada Família, e do materno tio João Carlos Leitão, formado em cânones e depois juiz de fora no Faial.

1809-1816 – Parte para a ilha Terceira por causa das invasões francesas. Aí recebe de um tio, bispo de Angra do Heroísmo, uma educação religiosa e clássica.

Partida da família para os Açores, antes que as tropas de Soult entrassem no Porto.

O desastre da Ponte das Barcas em 1809.
Porto, de Agostinho Rebelo da Costa aos nossos dias

Adolescência na ilha Terceira, destinado à carreira eclesiástica, entre a escola régia do padre João António e as aulas do erudito Joaquim Alves a que a aprendizagem no seio familiar dava sequência. 

A Baía de Angra do Heroísmo, Ilha Terceira, com embarcações e a Fortaleza de S. João Baptista, Lebreton, 1850.
Wikipédia

Chegou a tomar ordens menores com que, por intercedência do tio Alexandre, então bispo de Angra, deveria ingressar na ordem de Cristo, mas cedo recusou prosseguir.

D. Frei Alexandre da Sagrada Família (1737-1818).
Wikipédia

Primeiras incursões literárias, algumas já com o pseudónimo de Josino Duriense: Odes Anacreônticas, c. 1814 (ed. póst. 1902); algumas das primeiras poesias inclusas na Lírica; poema épico inacabado Afonseida, ou fundação do império lusitano, 1815-16 (ed. póst. 1985); um esboço trágico de Ifigénia em Tauride, 1816 (ed. póst. 1952) e a tragédia Xerxes.

1816 – Matricula-se no curso de Direito em Coimbra. Adere às ideias liberais e começa a escrever algumas peças de teatro.

Almeida Garrett (do vivo),
grav. Maurício José do Carmo Sendim, imp. 1834.
Biblioteca Nacional de Portigal

Autorizado a cursar Leis, matriculou-se na Universidade de Coimbra. Ao contacto com os escritores das Luzes acresceu a leitura dos primeiros românticos, enquanto transformava em ardor revolucionário a rápida adesão às ideias liberais. 

Se, de início, pouco escreveu, depressa intensificou a criação literária.

1817 Instalado na Couraça dos Apóstolos, em Coimbra, no começo do 2º ano lectivo (onde chega a inscrever-se em matemática e filosofia, de que o pai o obrigou a desistir), funda uma loja maçónica, ao Arco de Almedina, frequentada por colegas como Manuel Passos.

Coimbra, Scenery of Portugal and Spain, G. Vivian, 1839.
Biblioteca Nacional de Portugal

A execução de Gomes Freire inspira o soneto O Campo de Santana, recomeçando a compor [v. Memória sobre a conspiração de 1817, vulgarmente chamada a conspiração de Gomes Freire]. 

Execução dos conspiradores em 1817, A.P.D.G., Sketches of Portuguese life (...).
Internet Archive

Com a renovação do teatro universitário, ensaia várias peças que não conclui, como Átala, drama em verso (ed. póst. 1914).

1818 Morte do tio Alexandre a 23 de Abril, fica fora do testamento. Data de então o uso dos apelidos Almeida Garrett por toda a família.

Antes de terminar o 2º ano, reelabora Xerxes, representada no teatro particular dos Grilos, embora o texto se tenha perdido. 

Começa a escrever a tragédia Lucrécia durante as férias, no Porto, voltando à Universidade para residir na Rua dos Militares durante o 3º ano lectivo. 

Redige então uma primeira versão do poema O Retrato de Vénus.

1819 Já em Coimbra, terminada a redacção de Lucrécia (ed. póst. 1914), é representada por estudantes no teatro dos Coutinhos, em Fevereiro, causando entusiasmo juvenil que o último verso deixa perceber, na voz de Bruto, desempenhado pelo próprio autor: «Vivamos livres, ou morramos homens.» 

A series of views of the Principal Occurrences of the Campaigns..., City of Coimbra.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

Prosseguindo a sua filiação arcádica, compõe na poesia As férias uma violenta crítica ao domínio inglês e denota conhecer o movimento revolucionário em preparação; ainda no Porto, começa a escrever, respectivamente em Julho e Agosto, as tragédias Afonso de Albuquerque e Sofonisba (ed. póst. 1914) que não conclui. 

De novo em Coimbra, inscrito no 4º ano do curso, e instalado perto da anterior residência universitária, conclui em Novembro O Amor da Pátria, elogio dramático (ed. póst. 1914). Data ainda deste ano uma redacção reduzida da tragédia Mérope.

1820 – Escreve a tragédia Catão, representada em Lisboa no ano seguinte.

Concluído o 4º ano, toma o grau de bacharel em 30 de Junho.

Corrige e amplia o texto de Mérope (1841, 2ª ed. 1842) que, nos meses seguintes, é ensaiada em Coimbra. Já de férias no Porto, lança um esboço trágico de Édipo em Colona (ed. póst. 1952) e os versos em português de La Lezione Agli Amanti, ópera bufa (ed. póst. 1914). 

Com a notícia da revolução de 24 de Agosto, escreve a letra para um Hino Patriótico ou constitucional, de imediato publicado em folheto no Porto e recitado a 27 no teatro de S. João, com música de J.A. Ribas (em Coimbra, depois musicado por A.F. Sarmento). 

O exército e o povo aclamando a constituição de 24 de Agosto de 1820.
Comemoração dos 100 anos da revolução liberal, Joaquim Vitorino Ribeiro, 1920.
Arquivo Municipal do Porto

Retardada a inscrição no último ano de direito, por grave queda de cavalo, lança de um jacto, entre Outubro e Novembro, o poema libertino O Roubo das Sabinas (ed. póst. 1968) e, nos primeiros dias de aulas, instalado na Rua das Covas, participa no sarau poético e musical de 21 e 22 de Novembro que celebra em Coimbra o reforço da Junta Provisória no governo, depois do golpe da Martinhada. 

Em Dezembro, à frente de meio milhar de estudantes, organiza o protesto da academia pelo direito de voto nas eleições para as Cortes Constituintes.

Lisboa, Praça do Rossio no dia 1 de outubro de 1820. Entrada solene da Junta Provisória do Porto.
Histórias com História

1821 – Já formado, casa com Luísa Midosi e publica o Retrato de Vénus, que lhe valeu um processo judicial e um julgamento de que foi absolvido.

O jovem bacharel e liberal maçónico participou com ardor na revolução vintista, como poeta e dramaturgo, mas também como dirigente estudantil e orador, por entre actividades clandestinas.

Curiosamente, as obras deste período, bem como a correspondência pública, eram datadas conforme o calendário francês republicano.

Entre 2 e 3 de Fevereiro, em festividade estudantil na sala dos Capelos da universidade pela abertura das Cortes, pronuncia versos que a imprensa periódica reproduz. 

Funda então em Coimbra a loja maçónica e secreta Sociedade dos Jardineiros e, talvez como emissário da Maçonaria, desloca-se entre Maio e Agosto aos Açores para firmar a nova legalidade constitucional: na ilha Terceira, escreve sem concluir o poema herói-cómico O X, ou a incógnita (ed. póst. 1985), alusivo ao governador Garção Stockler, então demitido e preso.

Chegado a Lisboa, publica a ode Aniversário da Revolução no jornal Português Constitucional Regenerado de 19 de Setembro, e dedica às Cortes o ensaio político O Dia Vinte e Quatro de Agosto. Passa a residir na capital, onde escreve e ensaia a tragédia Catão, levada à cena a 29 no teatro do Bairro Alto, com desempenho pessoal no papel central de Júnio Bruto (contracenam os jovens amigos Joaquim Larcher, Carlos Morato Roma e Pereira Marecos), em simultâneo com a farsa O Corcunda por Amor (co-autoria com Paulo Midosi).

Vai a Coimbra para concluir a formatura a 19 de Novembro e aí faz publicar, no final do ano, o poema libertino O Retrato de Vénus, com novo e ampliado texto e acompanhado de um Ensaio Sobre a História da Pintura. Deve pertencer a esta época a redacção de uma História filosófica do teatro português (inéd.) e um esboço de Os árabes, ou o crime virtuoso, drama (inéd.).

1822 No início do ano, publica em conjunto Catão, tragédia. O Corcunda por Amor, farsa (4ª ed. 1845).

Decorre a polémica sobre O Retrato de Vénus: acusado de «materialista, ateu e imoral», responde em artigos de 13 de Fevereiro e 11 de Março no Português Constitucional Regenerado. Sob alegado «abuso da liberdade da imprensa», corre entre Junho e Outubro processo judicial em Coimbra, depois transferido para Lisboa, onde reside: após alegações finais que ficaram célebres, obtém absolvição. Entretanto, é secretário particular do ministro Silva Carvalho, em nome do qual afirma ter redigido inúmeros textos.

Em 22 de Fevereiro dirige, com Luís Francisco Midosi, O Toucador, periódico sem política, dedicado às senhoras portuguesas (a n.º 7, 3.ª semana Mar.). Entre Abril e Maio, estando em Sintra com jovens amigos, representa a comédia O impronto de Sintra (ed. póst. 1898) e o drama Os namorados extravagantes (ed. póst. 1974).

Em sessões da Sociedade Literária Patriótica, de que é sócio e se supõe ter escrito os Estatutos, intervém a 19 de Julho sobre o estado da instrução pública e profere violenta crítica à moderação do governo, que pode ler-se no respectivo Jornal (9 Ag.); recita a 24 de Julho um longo Epicédio. 

Aos mortos no campo da honra em Madrid (13 Set.); e, por escolha dos sócios, profere a 27 de Novembro a Oração Fúnebre de Manuel Fernandes Tomás, impressa num folheto de Discursos e Poesias Fúnebres (...), Celebradas para Prantear a Dor e Orfandade dos Portugueses, na Morte de Manuel Fernandes Tomás.

Provido no lugar de oficial na Secretaria dos Negócios do Reino, por decreto de 12 de Agosto (Diár. Gov., 24 Ag.), desempenha funções de chefe da repartição de instrução pública. A 11 de Novembro, na igreja de S. Nicolau, em Lisboa, casa com Luísa Midosi, prima dos amigos Paulo e Luís Francisco e por estes apresentada na estreia de Catão.

1823 – Com a Vila-Francada, exila-se em Inglaterra, onde contacta com a literatura romântica (Byron e Walter Scott).

Em precária subsistência, a distanciação de um 1º exílio permitiu-lhe melhor reflectir criticamente e actualizar conhecimentos que marcaram a viragem romântica do autor, sem completo abandono clássico e racionalista.

Redige por inteiro um único número do jornal Heraclito e Demócrito, saído em Março. Por essa altura data um tratado de educação, incompleto, Liceu das damas, lições de poesia a uma jovem senhora que, ainda parcelar, publicaria em jornal em 1827.

1824 – Parte para o Havre, em França, como correspondente.

No final de Janeiro, parte com a mulher para Londres, onde o amigo Freire Marreco lhe consegue emprego em França. 

Nos primeiros dias de Março, fixa residência em Havre na margem direita do Sena, perto de Paris, encarregado da correspondência portuguesa e brasileira em filial da casa bancária Laffitte.

Entrega-se à tradução de Catulo, compilando longo trabalho que irá perder-se. Voltado para as «antigualhas» nacionais, começa em Maio a redacção do poema romântico Camões, concluída em princípios de Agosto; entre os meados deste mês e os de Novembro, escreve o poema Dona Branca.

Neste ano, faz também a primeira compilação de um Cancioneiro de romances, xácaras e soláus, (ed. póst. 1987) que mais tarde dará origem ao Romanceiro; começa ainda a escrever um longo e notável ensaio, Da Europa e da América, em que analisa a revolução vintista e a independência do Brasil.

Em Dezembro, vê-se desempregado e sem recursos.

1825 – Publica em Paris Camões.

Parte para Paris e, entre Janeiro e Fevereiro, aluga com o amigo e anterior deputado Barreto Feio umas águas-furtadas no Cartier Latin, dando redacção final e publicando Camões, Poema (4ª ed. 1854).

Procura licença para voltar a Portugal, sendo-lhe recusado em Março beneficiar de amnistia decretada no ano anterior, acabando por regressar a Havre, onde ficara a mulher, resolvida a reintegração na casa Laffitte.

Escreve em Agosto e publica em Outubro nas páginas de O Popular, jornal político, literário e comercial, que em Londres se edita, a poesia Caverna de Viriato, canção. 

Ainda de Agosto datam os primeiros capítulos de Memórias de João Coradinho, aventuras picarescas que, embora extensas, não veio a concluir (parcial ed. póst. 1881, in G. Amorim, Mem., I: 453 ss.); parente próximo, escreve nesta época o fragmento Komurahi, história brasileira (ed. póst. 1956), entre outras tentativas novelísticas como A excelente senhora, romance histórico, deste ano. Dá início a uma tragédia, Infante santo, concluída em 1927 e por completo perdida.

1826 – Publica ainda em Paris D. Branca. Regressa a Portugal após a outorga da Carta Constitucional, dedicando-se ao jornalismo político.

No seguinte e curto período da primeira vigência da Carta, aplicou-se em trabalhos políticos que fixaram as bases de doutrinação liberal por que irá pautar toda a sua posterior carreira de "homem público".

De novo desempregado e sem recursos no início do ano, volta a Paris, onde vem a trabalhar no livreiro Aillaud, seu editor, enquanto a mulher regressa a Portugal.

Publica na capital francesa Dona Branca, ou A Conquista do Algarve. 

Obra póstuma de F.E. (2ª ed. 1850) e um Bosquejo da História da Poesia e da Língua Portuguesa, ensaio introdutório de um antológico Parnaso Lusitano ou Poesias Selectas dos Autores Portugueses Antigos e Modernos.

Em Maio, é publicado em O Popular o ensaio político Da Europa e da América e de Sua Mútua Influência na Causa da Civilização e da Liberdade.

Obtém amnistia depois da morte de D. João VI, em Março, mas é ao abrigo da outorga régia da Carta Constitucional por D. Pedro que regressa ao país, entre os últimos «emigrados». 

Em Agosto, reocupa o lugar na secretaria do Reino e de imediato publica um opúsculo político, em forma de Carta de Guia de Eleitores, em Que se Trata da Opinião Pública, das Qualidades para Deputado e do Modo de as Conhecer. 

A 30 de Outubro, começa a editar O Português, diário político, literário e comercial (a n.º 255, 17 Set. 1827), redigido com os irmãos Midosi, Paulo Morato Roma, Joaquim Larcher e António Maria Couceiro.

1827Em 24 de Fevereiro edita o Prospecto de lançamento e em 4 de Março inicia a tiragem de O Cronista, semanário de política, literatura, ciências e artes (a n.º 24-26, Ag.), enquanto O Português sucumbe à censura em meados de Setembro, sendo presos todos os redactores deste diário durante três meses.

Data deste ano o borrão inicial de um conto, Duas irmãs, história deste século (ed. póst. 1979).

1828 – Exila-se de novo em Inglaterra devido à aclamação de D. Miguel.

Retrato do rei D. Miguel, Johann Nepomuk Ender.
Cabral Moncada Leilões

A um 2º exílio, em piores condições que o anterior, seguiu-se a guerra civil, período em que ao novo rumo do gosto literário junta a pedagogia liberal de uma legalidade constitucional e de uma prática das liberdades, colaborando directamente nos primeiros monumentos legislativos do liberalismo e iniciando-se na carreira diplomática.

Com a Vilafrancada, em final de Maio, esconde-se vários dias até embarcar para o exílio, a 9 de Junho. Num imediato retorno a Lisboa, em desconhecida «demanda», é preso no Limoeiro em 24 e 25 de Agosto [...]  

É posto em liberdade, terminada a longa troca de documentos no «processo de O Português». Com a entrada de D. Miguel no país, em Fevereiro, parte em Junho para segundo exílio, ficando instalado e à míngua nos célebres «barracões» de Plymouth, em Inglaterra [v. Jornada de estudos garretianos: Catão em Plymouth].

Aí chega a 7 de Setembro, para se instalar em Birmingham até final do ano; a propósito escreve um Diário da minha viagem a Inglaterra (ed. póst. 1881, in G. Amorim, Mem., I: 285 ss.). 

Por volta de Outubro, publica em Londres, sem assinar, Adozinda, Romance, poema reconstruído da tradição popular acompanhado de Bernal Francês (3ª ed. 1853, Romanceiro. I). 

Passa a viver em Warwich, onde escreve o célebre prefácio-manifesto para a Lírica de João Mínimo.

Antes de partir para o exílio, morre uma filha recém-nascida.

Começa a compor um longo poema, Magriço e os doze de Inglaterra que acabou por perder-se e, mais tarde, parcialmente reconstituiu de memória (ed. póst. 1914).

1829 – Na primavera publica, anónimo, a juvenília intitulada Lírica de João Mínimo (2ª ed. 1853, Lírica. I). 

Fixado na cidade de Londres, é secretário de Palmela no governo exilado que rege os direitos de D. Maria II.

Entre outros, associa-se a Ferreira Borges e Paulo Midosi na publicação do jornal Chaveco Liberal, dado a lume a 9 de Setembro (a n.º 17, 30 Dez.): é o principal redactor e aí publica a canção Lealdade, ou a Vitória da Terceira, logo impressa em folheto, em evocação da primeira vitória liberal nos Açores.

Açores, Villa da Praia Ataque da 3.ª no dia 11 de Agosto de 1829.
Tenente Gualvão do Regimento dos Voluntarios da Rainha, c. 1830.
Fortalezas.org

No princípio de Novembro, publica o tratado Da Educação. Livro Primeiro, Educação Doméstica ou Paternal, cujos seguintes e anunciados dois tomos não chega a editar. Sem edição ficou um tratado Das leis penais que entretanto escreve e vem a perder-se.

1830 – Inicia a compilação do Romanceiro.

Convalesce em Warwich de longa doença contraída no início do ano, prefaciando nova edição de Catão.

A partir de Julho, compila e dá nova (por vezes profunda e transfiguradora) redacção a anteriores artigos políticos, publicando o longo ensaio Portugal na Balança da Europa, do Que Tem Sido e do Que Ora Lhe Convém Ser na Nova Ordem de Coisas do Mundo Civilizado. 

Publica em opúsculo um Elogio Fúnebre de Carlos Infante de Lacerda, Barão de Sabroso, em Setembro. 

No princípio de Outubro faz editar, anónimo, o violento panfleto político Carta de Múcio Cévola, ao futuro editor do primeiro jornal liberal que em português se publicar, cuja tiragem procurou quase logo apreender: «É forçoso que nesta hora solene se diga a verdade, que se denuncie a impostura» dos privilégios no exílio. 

Em períodos de maior desempenho, mantém-se dedicado à composição do poema Magriço que idealiza publicar na Dinamarca.

1831 Nova enfermidade que o mantém quase inactivo na primeira metade do ano.
Dirige o jornal O Precursor, hoje raríssimo, que sai a 27 de Setembro (a n.º 3, 11 Out.). 


Em Dezembro, com os preparativos da expedição liberal dos Açores, parte para França a suas próprias expensas. 

Entre este ano e o seguinte, colabora no jornal O Pelourinho, impresso em Angra.

1832 – Integra-se no exército liberal de D. Pedro IV, desembarca no Mindelo e participa no cerco do Porto [v. Batalhões de Voluntários, Cerco do Porto, 1832], escrevendo aí a primeira pare do Arco de Santana.

Modelos dos fardamentos militares dos batalhões de voluntários, António Cunha, 1835.
Arquivo Municipal do Porto

Voluntário num batalhão de caçadores - com os jovens Alexandre Herculano, Joaquim António de Aguiar e tantos outros, parte em Janeiro com a expedição de D. Pedro para Belle-Isle e daí para os Açores, onde chega em fins de Março para integrar o corpo académico de voluntários, praça nº 72. 

Em Maio, é chamado para a secretaria do Reino junto de Mouzinho da Silveira, ministro da regência em S. Miguel com o qual colabora na reforma e organização administrativa (um dos famosos decretos nos. 22 a 24, de 16 de Maio, cujo Relatório conjunto redige), entre outros documentos legislativos então produzidos.

Vista da praia da Arnosa de Pampelido onde desembarcou o senhor Dom Pedro à frente do exército libertador.
Imagem: Biblioteca Nacional de Portugal

Integra no final de Junho, de novo como voluntário académico, a expedição que desembarca nas praias do Mindelo a 8 de Julho e, a 9, entra no Porto, logo sitiada pelas tropas miguelistas durante largo tempo: instalado no colégio do convento dos Grilos, começa a redacção do romance O Arco de Santana, que dedicará ao comandante do corpo académico, Soares Luna. 

Almeida Garrett, soldado voluntário n.° 72 do Batalhão Académico de sentinela à porta do Convento dos Grilos
por Joaquim Vitorino Ribeiro.
Porto, de Agostinho Rebelo da Costa aos nossos dias

A 28, é reintegrado por Palmela como oficial para reorganizar a secretaria do Reino, tendo também colaborado na dos Negócios Estrangeiros.

Em 18 de Agosto, é nomeado por Mouzinho da Silveira para a comissão encarregada de projectar os textos do Código Criminal e do Comercial, e redige o alvará da Ordem de Torre e Espada. 

Em Novembro, parte como adjunto de Palmela e Mouzinho de Albuquerque em missão extraordinária nas cortes de Londres, Paris e Madrid.

Pedro de Sousa Holstein, 1° Duque de Palmela, por Domingos Sequeira.
Wikipédia

Entretanto, perdem-se no naufrágio de um navio, ao largo do Porto, muitos trabalhos e criações durante os exílios: Ilva, romance em verso, Infante Santo, tragédia, a versão quase completa do poema Magriço, o tratado Das leis penais e o segundo volume do tratado Da educação.

1833 Dissolvida em Janeiro a missão diplomática, vê-se desamparado em Inglaterra e, quase sem meios, embarca para França sob o abandono a que a nova pasta do Reino, ocupada por Cândido José Xavier, o vota até Setembro: «se não sou exilado ou proscrito, não sei o que sou». 

Numa água-furtada da calçada d’Antin, em Paris – já na companhia da mulher –, convive com o pintor Porto-Alegre, que o retrata com a capa do corpo académico. 

Retrato de Almeida Garrett, Manuel Araujo Porto-Alegre, 1833.
Instituto Camões

Com a notícia da entrada das tropas liberais em Lisboa, a 24 de Julho, consegue obter meios para regressar com a família dos longos exílios, desembarcando na capital em Outubro. 

Lisboa vista da Quinta da Torrinha Val Pereiro, gravura de William James Bennett sobre desenho de L. B. Parlgns.
Imagem: Museu de Lisboa

Logo no início de Novembro, é nomeado secretário da comissão de reforma geral dos estudos cujo projecto de lei inteiramente redige.

1834 – Após a guerra civil, Almeida Garrett é nomeado cônsul geral em Bruxelas. Estuda a língua e a literatura alemãs (Herder, Schiller e Goethe).

Impedido pelo governo de receber os pagamentos dos anteriores empregos e cargos públicos. 

É nomeado a 4 de Fevereiro cônsul geral e encarregado de negócios na Bélgica. 

Parte em final de Junho, com breve escala em Londres, e chega a Bruxelas no mês seguinte para ser votado a novo abandono governativo até final do ano. 

Entretanto, familiariza-se com a língua alemã a par de leituras de Herder, Schiller e Goethe.
A 29 de Abril, morre o pai na ilha Terceira; a 24 de Setembro.


1835 – A breve ostracismo, com que a nova administração liberal o relegou para o estrangeiro, seguiu-se o envolvimento no setembrismo, com colaboração na ordem jurídica demoliberal, e o início da carreira parlamentar, ao mesmo tempo que lançou as bases do teatro nacional.

Regressa a Portugal no princípio do ano, com licença de três meses; em finais de Maio volta à legação na Bélgica e, durante esta estadia, separa-se da mulher por convenção verbal e amigável. 

Recebe em 27 de Junho a comenda da ordem de Cristo. Entre Outubro e Novembro, procura em Paris tratamento para uma grave doença e é substituído, sem prévio conhecimento, por novo ministro residente em Bruxelas.

1836 – Regressa a Portugal e separa-se de Luísa Midosi, que em Bruxelas o teria traído. Passos Manuel encarrega-o de reorganizar o teatro nacional, nomeando-o inspector dos teatros.
gal.

Passos Manuel, Manuel da Silva Passos (1801-1862).
Junta de Freguesia de Guifões

Nomeado embaixador na Dinamarca é logo demitido, sem sair da Bélgica, endividado pelas despesas de representação em que se mantém por três meses, sujeito a penhoras e vexames públicos. 

Volta a Portugal, definitivamente, em meados de Junho, e rejeita uma proposta de nomeação para governador civil. 

Residindo na rua do Arco do Bandeira, funda a 2 de Julho o jornal O Português Constitucional (a n.º 104, 2 Nov.), de que é principal redactor: em verdadeiro editorial de abertura, faz um resumo histórico do partido constitucional desde a revolução vintista; e em última colaboração descreve a chegada dos deputados do norte à capital, de 9 para 10 de Setembro, movimento revolucionário que dá lugar à formação do governo setembrista de Sá da Bandeira, com o qual desde logo colabora. 

Por ocasião da belemzada, de princípios de Novembro, minuta em nome do governo a Proclamação à guarda nacional e ao país, redigindo ou colaborando na redacção de inúmeros documentos que arbitraram a disputa entre cartistas e setembristas.

Incumbido a 28 de Setembro da proposta de plano para o teatro nacional, apresenta em 12 de Novembro o projecto de criação da Inspecção-Geral dos Teatros, do Teatro D. Maria II e do Conservatório de Arte Dramática, decretados a 15. 

Theatro D Maria II, Nogueira da Silva (desenho), Coelho Junior João Pedrozo (gravura), 1863.
Imagem: Archivo Pittoresco, Hemeroteca Digital

Recusa entretanto uma pasta ministerial, bem como o cargo de conselheiro do Supremo Tribunal de Justiça; declinando também ser presidente do Tribunal Superior de Comércio, senta-se como vogal, por nomeação de 9 de Novembro; recebe a 12 o grau de cavaleiro da ordem de Torre e Espada; a 14, o título de Conselheiro de Sua Majestade; a 15, é nomeado membro da comissão de reorganização do Diário das Cortes e, em 22, finalmente, inspector-geral dos Teatros.

1837 – Perde o cargo de inspector dos teatros por demissão de Passos Manuel. Apaixona-se por Adelaide Deville, que morrerá em 1841 e de quem terá uma filha, Maria Adelaide.

Nomeado em 9 de Janeiro, não chega a desempenhar as funções de ministro plenipotenciário em Madrid por ter sido eleito deputado pelo círculo de Braga, tomando assento nas Cortes Constituintes a 25. 

Redige os decretos que conferem os títulos de «antiga, muito nobre, sempre leal e invicta cidade do Porto» e de «muito leal, constante e invicta ilha Terceira». 

No reformado mosteiro de S. Bento, profere a 1 de Março a primeira oração parlamentar, em justificação do setembrismo, historiando a revolução liberal e combatendo as «leprosas fileiras» do que se intitula «partido da Carta».

De 31 é um dos mais importantes discursos sobre a situação das colónias portuguesas. Em 5 de Abril prefere representar a Terceira que o elegera deputado, e a 8 e 10 discursa sobre a legislação de Mouzinho da Silveira. Incumbido de redigir o projecto da nova Constituição, saída na maior parte do seu punho, profere uma das mais extensas intervenções parlamentares, em 24 de Abril, no debate das generalidades constitucionais.

Deu à estampa a 17 de Maio o Entreacto, jornal de teatros, como fundador e redactor principal (a n.º 20, 2 Jul.). 

Por essa altura, conhece e passa a viver com Adelaide Pastor Deville, filha de um negociante e então com 18 anos, habitando no lisboeta Pátio do Pimenta, ao Rossio.

É relator de uma Mensagem das Cortes, de 28 de Julho - resposta à revolta dos marechais (Saldanha e Terceira) e sua Proclamação ao país, de 21, na tentativa de restauração cartista - , assim como, eleito pela maioria absoluta dos deputados, redige o Manifesto das Cortes Constituintes à Nação, de 22 de Agosto, impresso em folheto. 

Igualmente publica em brochura Da Formação da Segunda Câmara das Cortes. Discursos Pronunciados nas Sessões de 9 e 12 de Outubro.Em 25 de Novembro nasce o primeiro filho de Adelaide Pastor, Nuno, que viria a morrer com pouco mais de um ano.

1838 – Publica Um Auto de Gil Vicente.

É membro da comissão parlamentar encarregada de redigir a lei de empréstimo da banca e eleito para a comissão que apresenta à rainha a nova Constituição, assinada a 20 de Março e jurada pelos deputados a 3 de Abril. 

Nomeado, em 9 de Junho, vogal da comissão encarregada de restabelecer as relações com a cúria de Roma e, a 3 de Agosto, membro das comissões de reforma do Código Administrativo e da organização da Guarda Nacional.Dedicado às actividades do Conservatório e da Inspecção dos Teatros, inicia a sua obra renovadora do teatro nacional com Um Auto de Gil Vicente, escrito entre os meados de Junho e Julho, e sua representação no Teatro da Rua dos Condes em 15 de Agosto. 

Toma parte na redacção da comédia O Camões do Rossio, assinada por Inácio Feijó. Por essa altura começa a escrever A Sobrinha do Marquês, e Inês de Castro, drama em três actos que não veio a concluir (ed. póst 1897).

Durante o ano, assina algumas cartas e publica vários artigos anónimos em O Constitucional, entre os quais, a 13 de Dezembro, uma Necrologia de Francisco Manuel Trigoso Morato, político e jurista que fora seu professor em Coimbra.

Morte do irmão António Bernardo, a 9 de Novembro, quando corria a eleição de deputados. Não sendo escolhido pelo círculo de Lisboa, em lista de uma associação Eleitoral do Centro Concialiador, é nomeado Cronista-mor do reino em 20 de Dezembro.

1839 Enquanto cronista-mor, organiza desde o início do ano um curso de leituras públicas de História.Finalmente eleito deputado por Angra do Heroísmo, presta juramento a 10 de Abril e o primeiro discurso da legislatura versa a defesa das liberdades e garantias individuais. 

Elabora o projecto de lei sobre a propriedade literária, cujo Relatório apresenta em 18 de Maio e é mandado imprimir pelas Cortes.

Ainda em Abril, sai apenso ao jornal O Biógrafo um prospecto do plano geral das suas Obras, publicando o primeiro volume no Outono - Camões em 2ª ed.Morre o filho Nuno, a 9 de Fevereiro, e nasce em 6 de Novembro o segundo filho de Adelaide, João, que vem a falecer em 16 de Dezembro.

1840 A 8 de Fevereiro, em resposta a José Estevão, profere o famoso discurso dito do Porto Pireu, impresso em opúsculo de 35 páginas sob o título de Discurso do Sr. Deputado pela Terceira, J. B. de Almeida Garrett, na Discussão da Resposta ao Discurso da Coroa, em tiragem de imediato esgotada.

A 11 de Abril, abre no extinto convento do Carmo o Programa do Curso de Leituras Públicas sobre «história política, literária e científica de Portugal no século XVI», com uma assistência de cerca de quinhentos matriculados. 

Pela mesma altura, escreve em poucos dias e leva à cena perante a família real, em 30 de Maio, no teatro do Salitre, o drama D. Filipa de Vilhena.

Eleito por Lisboa e Angra na nova legislatura, tomou assento como deputado da capital a 5 de Junho. A 2 de Julho é encarregado da negociação de um tratado comercial com os Estados Unidos da América e, a 7 de Novembro, nomeado para a comissão de redacção do novo Código Administrativo, cujo projecto inteiramente elabora.

1841 – Publica O Alfageme de Santarém.

Nasce a 14 de Janeiro a única filha que lhe sobreveio, Maria Adelaide. No início do ano, passa a residir a família na rua do Alecrim.

A Sociedade de Ciências Médicas convida-o no princípio do ano a dirigir uma edição da obra de Garcia da Orta. 

A 24 de Maio é assinado o decreto que referenda a sua redacção dos Estatutos do Conservatório Real de Lisboa.

Juntamente com a juvenil tragédia Mérope, publica Um Auto de Gil Vicente com um prefácio, escrito em Agosto, em que procede a uma verdadeira história do teatro português. 

No último trimestre do ano, culmina a redacção da peça O Alfageme de Santarém, tendo ainda escrito O entremez dos velhos namorados que ficaram logrados, bem logrados (ed. póst. 1954), que não vem a concluir.

Discutido e aprovado no parlamento o tratado de comércio com os Estados Unidos da América. Sob novo governo, profere a 15 de Julho e vem a ser impresso, em violenta crítica ao ministro António José d’Ávila, o Discurso do Sr. Deputado por Lisboa J. B. de Almeida Garrett na Discussão da Lei da Décima que marca a sua passagem para a oposição política e lhe acarreta a demissão, no imediato dia, dos cargos de inspector dos teatros, de presidente do conservatório e de cronista-mor, por decreto com a assinatura de Joaquim António de Aguiar.

Morre a mãe a 18 de Julho e, no dia 26, ainda jovem de 22 anos, Adelaide Pastor vítima de dificuldades no recente parto.

1842 – Costa Cabral instaura um governo de ditadura, contra o qual Garrett luta na oposição parlamentar.

Lisbonne vue du vieux port, François d'Orléans, prince de Joinville, 1842.
Imagem: LMT no Facebook

Em 28 de Janeiro, subscreve com quarenta e seis outros deputados uma representação a favor da Constituição de 1838, derrogada pela restauração da Carta proclamada pelo golpe dos irmãos Costa Cabral, no Porto, no dia anterior. 

Pela nova lei eleitoral, é eleito deputado pela Estremadura e entra nas Cortes a 3 de Agosto; à semelhança de toda a minoria da esquerda parlamentar, recusa qualquer nomeação para as comissões.

Publica O Alfageme de Santarém, ou a Espada do Condestável, levado à cena em Março no teatro da Rua dos Condes. 

Em 21 de Setembro, insere nas páginas do Revolução de Setembro um artigo sobre a morte do deputado setembrista Vieira de Castro.

1843 – Escreve o drama Frei Luís de Sousa que será publicado no ano seguinte. Começa também a escrever o romance Viagens na Minha Terra, que publica em folhetins na Revista Universal Lisbonense.

Retrato de Almeida Garrett, datado de 1843
[com as insignias de Comandante da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa].
Cabral Moncada Leilões

Três meses após um adiamento de sessões, intervém na reabertura das Cortes com violenta oposição ao governo que compara ao absolutista.

Publica-se nas Memórias do Conservatório Real de Lisboa e em separata o Elogio Histórico do Sócio Barão da Ribeira de Sabrosa, proferido em 1841 no Conservatório. Ainda este ano, edita um opúsculo em Memória Histórica do Conselheiro António Manuel Lopes Vieira de Castro. 

Entre Março e Abril escreve Frei Luís de Sousa e, a 6 de Maio, profere a sua Memória ao Conservatório, seguida da representação do drama no teatro da Quinta do Pinheiro em 4 de Julho. 

E, a «17 deste mês de Julho, ano da graça de 1843, uma segunda-feira, dia sem nota e de boa estreia», inicia a celebrada viagem ao vale de Santarém. 

Nos meses seguintes, recolhendo directamente cantares e romances poéticos populares na região de Lisboa, dedica-se à «reconstrução» de exemplares gémeos de Adozinda para uma 2ª edição sob o título de Romanceiro e Cancioneiro Geral, dado à estampa no final do ano. 

Em Outubro, sob ideia sua e enquanto presidente da Associação de Artistas e Homens de Letras, então criada sai a público o Jornal de Belas Artes (a n.º 6, 1846).

1844 – A 15 de Janeiro, profere, em nome da minoria parlamentar, o discurso alternativo da oposição na tradicional resposta ao da coroa, defendendo a convocação de novas e legais eleições; no imediato dia, reclama a reforma da Carta constitucional. 

Almeida Garrett, Pedro Augusto Guglielmi, 1844.
Wikipédia

Por ocasião dos acontecimentos de Torres Novas e tumultos em outros pontos do país, combate nas cortes o ministério e as suas medidas repressivas.

A própria casa é então por três vezes assaltada e devassada pela polícia com a maior violência: é salvo de prisão certa e deportação, graças à imunidade diplomática que lhe concede o acolhimento do embaixador brasileiro. 

Na organização da oposição ao cabralismo, participa na denominada Associação Eleitoral que, sob liderança de Sá da Bandeira, lhe pede um projecto de reforma do texto constitucional. 

Em 13 de Novembro, em discurso parlamentar, revela-se pela primeira vez contra a pena de morte.

Duas sucessivas edições de Frei Luís de Sousa, uma chancelada pelo Teatro do Pinheiro e outra integrada na edição das suas Obras. 

Escreve de um jacto e faz representar em 11 de Abril, na inauguração do teatro da Sociedade Tália que ajuda a fundar, a comédia Tio Simplício. 

No verão, faz publicar anonimamente uma Autobiografia nas páginas da revista Universo Pitoresco. 

No outono, publica um curto ensaio em jeito de Carta em Resposta à Que Lhe Dirigiram os Autores do Opúsculo Acerca da Origem da Língua Portuguesa. 

Dá redacção final ao romance O Arco de Santana.

A 26 de Novembro, morre nos Açores a única irmã, Maria Amália.

1845 – Publica o romance Arco de Santana e a colectânea de poemas Flores sem Fruto. Inicia-se a paixão por Rosa Montufar, a Viscondessa da Luz.

Rosa de Montufar, Viscondessa da Luz.
Cartas de amor à viscondessa da Luz

Publica no início do ano, sem nome do autor, o tomo I de O Arco de Santana, crónica portuense (2ª ed. 1851) que desde logo levanta polémica na imprensa. 

Durante uma subscrição em favor dos perseguidos políticos do ano anterior - entre os quais se encontra José Estêvão - , escreve para o Revolução de Setembro de 30 de Março, além de publicar em folheto, o poema Os Exilados, À Senhora Rossi Caccia. 

Ajudou a fundar Ilustração, jornal universal saído a público em 1 de Abril, onde vem a publicar variada colaboração. 

A 15 de Abril, é editada no Revolução de Setembro uma Memória Histórica do Conde de Avilez. Na Revista Universal Lisbonense inicia a 26 de Junho a publicação em capítulos das Viagens na Minha Terra. 

É representada em 7 de Abril, no teatro da Sociedade Tália, a comédia Falar Verdade a Mentir, enquanto outra, As Profecias do Bandarra (ed. póst. 1877), tem estreia num salão particular, ao Dafundo.

Envolvido na campanha eleitoral da oposição ao cabralismo, redige o seu «programa» publicado em folheto e reproduzido no Revolução de Setembro em forma de Exposição de Motivos e Princípios dos Eleitores Reunidos em Lisboa. 

Depois de simulacros de incêndio na sua casa, cartas anónimas e ameaças, acaba por ser eleito pelo círculo de Évora, tal como quase toda a minoria (15 deputados) da nova oposição na Câmara.

Dá à estampa, na segunda metade do ano, as líricas de Flores Sem Fruto.

Morre outro irmão, Joaquim António, em 21 de Maio.

1846 – É publicado em dois volumes o romance Viagens na Minha Terra.

Nas primeiras sessões parlamentares do ano, protesta contra as ilegalidades eleitorais e, em discurso de 17 de Janeiro, considera a minoria como representante da «grande nação dos oprimidos». 

Em Março, combate um projecto de lei sobre impostos que, entre outros, vem a estar na origem dos movimentos populares da Maria da Fonte. 

Subscreve em 7 de Maio uma representação à rainha para demissão do ministério Cabral e, em 28 de Junho, apresenta um relatório às instruções para convocação de novas cortes.

Num breve interregno político dos governos cabralistas, é reintegrado em Agosto no lugar de cronista-mor.

Escolhido em Lisboa, por maioria absoluta, para o colégio de eleitores de deputados, têm entretanto início, com o golpe de estado de Saldanha a 6 de Outubro, os prolegómenos à guerra civil patuleia, a cujo partido popular dá apoio.

Em 2 de Março, inicia na Revista Universal Lisbonense uma série ensaística em torno Da Poesia Popular em Portugal, continuada em Julho e Agosto sob o título Da Antiga Poesia Portuguesa. Publica Viagens na Minha Terra em dois tomos e, em um volume do teatro, D. Filipa de Vilhena, Tio Simplício e Falar Verdade a Mentir.

1847 Anda escondido no auge dos episódios da Patuleia, até à convenção do Gramido, em Junho, assinada pelos representantes militares estrangeiros, por parte do governo, e os da Junta do Porto, oriundos do setembrismo.

Com o regresso de Costa Cabral ao executivo é remetido ao ostracismo político de alguns anos, e não volta a ser eleito deputado senão em 1852, compensando com a frequência dos salões literários.

Publica-se em separata o «romance reconstruído» Chapim d’El-Rei, ou Parras Verdes. 

No outono, escreve a peça O Noivado no Dafundo, Cada Terra Com Seu Uso, Cada Roca com Seu Fuso (ed. póst. 1857).

1848 Representada a 4 de Abril, no teatro D. Maria II, a comédia A Sobrinha do Marquês, neste ano ainda publicada. 

De imediato fora de mercado, edita uma Memória Histórica da Duquesa de Palmela, por ocasião da morte desta em Abril.

1849 Continuando arredado da vida pública, frequenta os múltiplos salões da sociedade elegante e culta de Lisboa e arredores, de que resulta um breve Necrológio de D. Helena Feio de Sousa e Menezes Aranha, saído em Janeiro na Revista Universal Lisbonense.

As gerações do romantismo literário em Portugal reunem-se na casa da Ajuda em 1849:
Almeida Garrett (1799-1854), Alexandre Herculano (1810-1877) e Bulhão Pato (1828-1912).

Desgostoso de amores, passa breve temporada em casa de Alexandre Herculano, à Ajuda.

Palácio d'Ajuda, c. 1900. À direita da imagem, no Largo da Torre, a casa onde residiu Alexandre Herculano.

Sai em separata do jornal A Época, onde também se publica em meados do ano, uma Memória Histórica de José Xavier Mouzinho da Silveira.

Entre Agosto e Setembro, redige a segunda parte do romance O Arco de Santana. 

Escreve uma Necrologia do Sr. Francisco Krus, pela morte do amigo, em Outubro.

1850 – É representado no Teatro Nacional o drama Frei Luís de Sousa.

D. João de Portugal de Miguel Angelo Lupi, inspirado em Almeida Garrett.
Frei Luís de Sousa (cena XIV do 2° acto)
Imagem: MNAC

Subscrito por mais de cinquenta personalidades, assina em Fevereiro, com Herculano, um Protesto Contra a Proposta sobre a Liberdade de Imprensa, a propósito do projecto da célebre «lei das rolhas» apresentado pelo novo governo, substituto do de Saldanha.

Dedica-se com regularidade à compilação final do seu Romanceiro

Em Setembro, por morte de uma filha do amigo Paulo Midosi, escreve uma Necrologia da Srª D. Maria Teresa Midosi e Mazarem, editada no Diário do Governo; em Outubro, dedica um Monumento ao Duque de Palmela, D. Pedro de Sousa Holstein. Edição do tomo II do romance O Arco de Santana (2ª ed. 1851).

O último governo de Costa Cabral, então conde de Tomar, nomeia-o em 9 de Dezembro para a comissão de promoção do monumento público à memória de D. Pedro IV.

1851 – É nomeado ministro dos Negócios Estrangeiros e recebe o título de Visconde e Par do reino. Conclui a compilação do Romanceiro.

É nomeado em 5 de Março representante especial do governo para negociar uma convenção literária com a França, cujo governo lhe confere o diploma de grande oficial da Legião de Honra, em Setembro.

Redige em nome da rainha uma carta a Saldanha, contribuindo para que a revolta militar de Abril se transforme num passo para a reforma da Carta constitucional e o início do movimento da Regeneração. 

De novo nomeado, em 26 de Maio, para a redacção das instruções ao projecto de nova lei eleitoral, juntamente com Herculano, Rodrigues Sampaio, Rebelo da Silva e José Estêvão, entre outros. 

Em 3 de Junho, é plenipotenciário nas negociações com a Santa Sé; a 23, indigitado para a comissão de reforma da Academia Real das Ciências; a 25, agraciado com o título de visconde, que pretende aceitar em duas vidas; em 26 nomeado vogal na comissão das bases da lei eleitoral e, a 28, para a da reorganização dos serviços públicos. 

Em 23 de Setembro, é ainda nomeado vogal do Conselho Ultramarino que aconselhara a criar-se. Durante quase todo o ano, é particularmente encarregado da redacção do que será o primeiro Acto Adicional à Carta, que discute na própria casa em reunião com os ministros.

Publica em Outubro os tomos II e III do Romanceiro.

Em Novembro, procura sem êxito fundar um jornal alternativo à folha ministerial Regeneração. 

A 23 deste mês, é publicado o Relatório à Lei das Misericórdias, que redige.

1852 Eleito deputado pela província da Beira, é da sua lavra a resposta ao discurso da coroa aprovada pela Câmara de deputados em 29 de Janeiro. 

Bom Sucesso ou arco da Torre de Belém Casa onde morou Almeida Garrett em 1852.
[cf. Casas onde, em Lisboa, residiu Almeida Garrett]
Arquivo Municipal de Lisboa

A 13 anterior, nomeado Par do reino, foi reconhecido pela respectiva Câmara a 8 de Março e, 4 deste mês, discursa ainda como deputado na apresentação do Acto Adicional. 

Desse mesmo dia 4 a 17 de Agosto, é ministro dos negócios estrangeiros, de que se demite por motivo do tratado de comércio e navegação com o governo francês, em circunstâncias que foram litografadas com o título de Cópia de uma Carta Dirigida ao Sr. Encarregado de Negócios da França em Lisboa, datada de 19 de Agosto. Durante o ano, recebe inúmeras insígnias estrangeiras: Brasil, Turquia, Bélgica, Suécia, Noruega e Santa Sé.

Publicam-se os Estatutos que redigira para a Academia Real das Ciências de Lisboa, pela mesma altura em que é dada à estampa a comédia O Camões do Rossio, de que foi co-autor.

1853 – Pugnador da liberdade dos escravos nas sessões do Conselho Ultramarino, é de sua lavra quase toda a documentação que em Janeiro se publica sobre Organização e Regimento da Administração da Justiça nas Províncias de Angola, S. Tomé e Príncipe, e suas dependências. 

Com pouca intervenção na Câmara dos Pares, uma vez adiadas as sessões entre Agosto e Dezembro. Criado um conselho dramático no teatro D. Maria II, por decreto de 22 de Setembro, foi seu presidente, demitindo-se a pedido dos actores e dramaturgos.

Edita, por volta de Abril, a lírica de Folhas Caídas (colectânea poética que causou escândalo na época) que, em 2ª edição, de Maio deste ano, integra nas Obras com o título acrescido de Fábulas – Folhas Caídas. 

Já gravemente doente, começa a escrever Helena, romance contemporâneo que ficou incompleto (ed. póst. 1871).

A 9 de Junho, escreve o testamento. Já doente, a filha entra em princípio de Novembro, como interna, no colégio das Salésias.

1854 – Em 21 de Janeiro, apresenta à Câmara dos Pares o Relatório e Bases Para a Reforma Administrativa e, a 10 de Fevereiro, proferindo resposta ao discurso da coroa, procede a importante análise sobre o estado da administração pública.

Num discurso de 4 de Março, sua última intervenção taquigrafada (embora intervenha algumas vezes até ao fecho da sessões em Agosto), fulmina o ministro Rodrigo da Fonseca Magalhães, em nome do qual - e juntamente com Jervis de Atouguia - ataca o governo.

Casa na rua da Junqueira onde viveu Almeida Garrett em 1854.
[cf. Casas onde, em Lisboa, residiu Almeida Garrett]
O Occidente, 30 janeiro 1899

A pedido de Gomes de Amorim, escreve a partir de Agosto a comédia Conde de Novion (ed. póst. 1914), já concluída por aquele amigo e representada em 24 de Outubro. 

A espaços, ocupa-se das notas para o velho projecto de uma História da restauração que, partindo de remodelação do ensaio Portugal na Balança da Europa, não chega a escrever ou ainda destruiu.

Casa na rua Saraiva de Carvalho antiga rua de Santa Isabel onde faleceu Almeida Garrett.
[Casas onde, em Lisboa, residiu Almeida Garrett]
O Occidente, 30 janeiro 1899

Da rua do Salitre, transfere-se no final de Outubro para uma casa na rua de Santa Isabel, onde morre, vítima de cancro generalizado com origem hepática: «Eram seis horas e vinte e cinco minutos da tarde de sábado nove de dezembro de mil oitocentos e cinquenta e quatro» (G. Amorim). O corpo é sepultado a 11 no cemitério dos Prazeres. (1)


(1) Projecto Vercial e Roteiro bio-bibliográfico (Biblioteca Nacinal de Portugal)

Mais informação:
Arquivo Municipal do Porto: Documentos com referência a Garrett, Almeida. 1799-1854, escritor
Casa onde nasceu Almeida Garrett Archivo Pittoresco, 4.º Ano, n.º 7, 1861
XXIV Anniversário da morte d'Almeida Garrett, O Occidente, 15 dezembro 1878
Centenário de Almeida Garrett, O Occidente, 30 janeiro 1899
Casas onde, em Lisboa, residiu Almeida Garrett
Almeida Garrett na Hemeroteca Digital de Lisboa

Artigos relacionados:
O partido setembrista, Lisboa 1836
Manoel da Silva Passos, Lisboa 1836
O retiro de um velho romântico
Almeida Garrett
Garretismo
Os pincéis do Neogarretismo prévio




Internet Archive (referências biográficas):
Domingos Manuel Fernandes, Biographia politico-litteraria..., 1873
Teophilo Braga, Historia do romantismo em Portugal... Garrett, Herculano, Castilho, 1880
Francisco Gomes de Amorim, Garrett, memórias biográficas, Tomo I, 1881
Francisco Gomes de Amorim, Garrett, memórias biográficas, Tomo II, 1884
Francisco Gomes de Amorim, Garrett, memórias biográficas, Tomo III, 1884
Alberto Bessa, Almeida Garrett no Pantheon dos Jeronymos, 1902
Alfredo de Pratt, O divino poeta, 1903
Latino Coelho, Garrett e Castilho, estudos biográficos, 1917

Internet Archive:(bibliografia):
Catão [1821], 2.a ed. 1830
Teophilo Braga, Obras completas de Almeida Garrett, Volume I, 1904
Teophilo Braga, Obras completas de Almeida Garrett, Volume II, 1904
...

Biblioteca Nacional de Portugal:
Bicentenário de Almeida Garrett
Roteiro bio-bibliográfico
Obras em formato digital
A Enciclopédia de Garrett Enciclopedista
Modernidade e Romantismo em Almeida Garrett
Viagens na Minha Terra: caminhos para a leitura de uma "embaraçada meada"
Modos de cooperação interpretativa na leitura escolar do Frei Luís de Sousa
A Question of Timing: Madalena's role as 'uma mulher à beira duma crise de nervos'
Catão em Plymouth
O Camões garrettiano
Um Auto de Gil Vicente and the Tradition of Comedy
Iconografia

Obras digitalizadas de Garrett, Almeida

Biblioteca Nacional de Portugal (bibliografia):
Hino Patriótico (poema), Porto 1820, folheto impresso [Recuper. por Teófilo Braga, in Garrett e os Dramas Românticos, Porto 1905]
Proclamações Académicos, Coimbra 1820, folhetos mss. [Reprod. in O Patriota, nº 67 (15 Dez.), Coimbra 1820]
Ao corpo académico (poema), in Colecção de Poesias Recitadas na Sala dos Actos Grandes da Universidade [...], Coimbra 1821 [Recuper. por Martins de Carvalho, in O Conimbricense, Ano XXVII, nº 2823 (14 Ag.), Coimbra 1874]
O Dia Vinte e Quatro de Agosto (ensaio político), Lisboa Ano I (1821)
O Retrato de Vénus (poema), Coimbra Ano I (1821) [Incl.: Ensaio sobre a História da Pintura]
Catão. Tragédia, Lisboa Ano II (1822) [Incl.: O Corcunda por Amor, farsa, co-autoria de Paulo Midosi]
Aos Mortos no Campo da Honra de Madrid. Epicédio, folheto [reprod. do Jornal da Sociedade Literária Patriótica, 2º trim., nº 18 (13 Set.), Lisboa 1822, vol. II, pp. 420-423]
Oração Fúnebre de Manuel Fernandes Tomás, Lisboa 1822, opúsculo [Colig. in Discursos e Poesias Fúnebres [...], Celebradas para Prantear a Dor e Orfandade dos Portugueses, na Morte de Manuel Fernandes Tomás, Lisboa 1823]
Camões. Poema, Paris 1825
Dona Branca, ou A Conquista do Algarve (poema), Paris 1826
Da Europa e da América e de Sua Mútua Influência na Causa da Civilização e da Liberdade (ensaio político), in O Popular, jornal político, literário e comercial, vol. IV, nº XIX (Mai.), Londres 1826, pp. 25-81
Bosquejo da História da Poesia e da Língua Portuguesa, in Parnaso Lusitano ou Poesias Selectas dos Autores Portugueses Antigos e Modernos, vol. I, Paris 1826 [Incl.: introdução A Quem Ler]
Carta de Guia para Eleitores, em Que se Trata da Opinião Pública, das Qualidades para Deputado e do Modo de as Conhecer (ensaio político), Lisboa 1826, opúsculo Adozinda. Romance (poema), Londres 1828 [Incl.: Bernal Francês]
Lírica de João Mínimo, Londres 1829
Lealdade, ou a Vitória da Terceira (canção), Londres 1829, folheto Da Educação. Livro Primeiro. Educação Doméstica ou Paternal, Londres 1829
Portugal na Balança da Europa. Do Que Tem Sido e do Que Ora Lhe Convém Ser na Nova Ordem de Coisas do Mundo Civilizado (ensaio político), Londres 1830
Elogio Fúnebre de Carlos Infante de Lacerda, Barão de Sabroso, Londres 1830, folheto Carta de M. Cévola, ao futuro editor do primeiro jornal liberal que em português se publicar (panfleto político), Londres 1830 [Pseud.: Múcio Cévola, 2ª ed. transcrita in O Pelourinho, nº V, Angra [1831?, com o título Carta de M. Cévola, oferecida à contemplação da Rainha, a senhora Dona Maria segunnda]
Relatório dos decretos nº 22, 23 e 24 [reorganização da fazenda, administração pública e justiça], Lisboa 1832, folheto [Reprod. in Colecção de Decretos e Regulamentos [...], Lisboa 1836]
Manifesto das Cortes Constituintes à Nação, Lisboa 1837, folheto [Reprod. in Diário do Governo, nº199 (24 de Ag.), Lisboa 1837]
Da Formação da Segunda Câmara das Cortes. Discursos Pronunciados nas Sessões de 9 e 12 de Outubro, Lisboa 1837
Necrologia [do conselheiro Francisco Manuel Trigoso de Aragão Morato], in O Constitucional, nº 272 (13 Dez.), Lisboa 1838 [Relatório ao] Projecto de lei sobre a propriedade literária e artística, in Diário da Câmara dos Deputados, Vol. II, nº 35 (18 Mai.), Lisboa 1839
Discurso do Sr. Deputado pela Terceira, J. B. de Almeida Garrett, na Discussão da Resposta ao Discurso da Coroa, Lisboa 1840 [Discurso dito do Porto Pireu, em resposta a José Estevão] Mérope, tragédia.
Um Auto de Gil Vicente, drama, Lisboa 1841.
Discurso do Sr. Deputado por Lisboa J. B. de Almeida Garrett na Discussão da Lei da Décima , Lisboa 1841, folheto
O Alfageme de Santarém, ou a Espada do Condestável, Lisboa 1842
Elogio Histórico do Sócio Barão da Ribeira de Saborosa, in Memórias do Conservatório Real de Lisboa, Tomo II (8), Lisboa 1843
Memória Histórica do Conselheiro A. M. L. Vieira de Castro, biografia, Lisboa 1843, folheto [Anón., sobre o ministro setembrista António Manuel Lopes Vieira de Castro]
Romanceiro e Cancioneiro Geral, Lisboa 1843 [Incl.: Adozinda (2ª ed.) e outros «romances reconstruídos»]
Miragaia, Lisboa 1844, folheto impresso [de Jornal das Belas Artes] Frei Luís de Sousa, drama, Lisboa 1844 [Incl.: Memória. Ao Conservatório Real, lida na representação do drama no teatro da Quinta do Pinheiro em 4 de Julho 1843]
O conselheiro J. B. de Almeida Garrett [Autobiografia], in Universo Pitoresco, nº 19-21, Lisboa 1844 [Carta sobre a origem da língua portuguesa], ensaio literário, in Opúsculo Acerca da Origem da Língua Portuguesa [...] por dois sócios do Conservatório Real de Lisboa, Lisboa 1844
O Arco de Santana. Crónica portuense, romance, vol. I, Lisboa 1845 [Anón.]
Os Exilados, À Senhora Rossi Caccia, poesia, Lisboa 1845, folheto [Reprod. in Revolução de Setembro, nº 1197 (31 Mar.), Lisboa 1845, p. 2, anónimo e título A Madame Rossi Caccia, cantando no baile de subscrição a favor dos emigrados]
Memória Histórica do Conde de Avilez, biografia, in Revolução de Setembro, nº 1210 (15 Abr.), Lisboa 1845
Flores Sem Fruto (poesia), Lisboa 1845
Da Poesia Popular em Portugal, ensaio literário, in Revista Universal Lisbonense, Tomo V, nº 37 (5 Mar.) – 41 (2 Abr.), Lisboa 1846; [cont. sob título:]
Da Antiga Poesia Portuguesa, in id., Tomo VI, nº 9 (23 Jul.), 13 (20 Ag.), Lisboa 1846
Viagens na Minha Terra, romance, 2 vols., Lisboa 1846
Filipa de Vilhena, comédia, Lisboa 1846 [incl.: Tio Simplício, comédia, e Falar Verdade a Mentir, comédia]
Parecer da Comissão sobre a Unidade Literária, in Revista Universal Lisbonense, nº 16 (10 Set.), Lisboa 1846, vol. VI, sér. II, pp. 188-189 [dito Parecer sobre a Neutralidade Literária, da Associação Protectora da Imprensa Portuguesa, assinado por Rodrigo da Fonseca Magalhães, Visconde de Juromenha, A. Herculano e João Baptista de A. Garrett]
Sermão pregado na dedicação da capela de Nª Srª da Bonança, folheto, Lisboa 1847 [raro, reproduzido com o título Dedicação da Capela dos Srs. Marqueses de Viana (...) in Escritos Diversos, Lisboa 1899,
Obras Completas, vol. XXIV, pp. 281-284, redac.: Lisboa 1846]
Memória Histórica da Excelentíssima Duquesa de Palmela, Lisboa 1848 [folheto]
Memória Histórica de J. Xavier Mouzinho da Silveira, Lisboa 1849 [separ., reprod. de A Época. Jornal de indústria, ciências, literatura, e belas-artes, nº 52, tom. II, pp. 387-394]
O Arco de Santana. Crónica Portuense, romance, vol. II, Lisboa 1850
Protesto Contra a Proposta sobre a Liberdade de Imprensa, abaixo-assinado, folheto, Lisboa 1850 [Subscrito, à cabeça, por Herculano e mais cinquenta personalidades, contra o projecto de «lei das rolhas» apresentado pelo governo]
Necrologia de D.ª Maria Teresa Midosi, in Diário do Governo, nº 221 (19 Set.), Lisboa 1950
Romanceiro, vols. II e III, Lisboa 1851
Cópia de uma Carta Dirigida ao Sr. Encarregado de Negócios da França em Lisboa, Lisboa (19 Agosto) 1852 [litogr., sobre o tratado de comércio e navegação com o governo francês, que assinou como ministro dos negócios estrangeiros]
O Camões do Rossio, comédia, Lisboa 1852 [co-autoria de Inácio Feijó]
Folhas Caídas, poesia, Lisboa 1853
Fábulas – Folhas Caídas, poesia, 2ª ed., Lisboa 1853