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Lisboa, vista tomada do Largo da Academia das Belas Artes, 2017. Imagem: Eventualmente Lisboa e o Tejo |
O terreno escolhido pelos engenheiros de Pombal ficou delimitado a poente pelo largo de S. Julião, a norte pela rua do mesmo nome e do lado sul pela Rua Nova de El-Rei.
Dirigiu as obras, o arquitecto Honorato José Correia, o mesmo que levantou a planta geral da cidade em 1785.
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Plano Geral da CIdade de Lisboa, Honorato José Correia, 1785. Imagem: WDL |
Em 1778, ainda a nova igreja, já com paredes, estava em menos de metade, assim o garante o citado frade franciscano António Sacramenco, que encerra a informação, opinando: "será preciosa, mas escura".
Pouco tempo depois, em 1783, um relatório enviado à rainha D. Maria I deixava transparecer melhores perspectivas: "A nova Igreja está feita até à Simalha; para se acabar o que falta, segundo a avaliação dos mestres, são necessários mais de Sincoenta mil Cruzados [...]"
Aproveitaram-se alguns materiais do demolido Convento de S. Francisco, principalmente o retábulo e as duas colunas do altar-mor, esculpidas em mármore do Tojal.
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Academia de Bellas Artes e Biblioteca Pública, J. Novaes Jr., c 1900. Imagem: Internet Archive |
Por conter certo interesse, transcrevemos este apontamento, tomado por amor desconhecido, num canhenho manuscrito, datado de 1837: "A Estátua equestre da Praça do Commercio de Lisboa foi fundida com o bronze de um grande sino da egreja de S. Julião d'esta Cidade, o qual tinha cahido pelo Terramoto de 1755; e ainda ha memoria de um Çapateiro que estabeleceu sua loja, e trabalhava dentro deste sino."
Pela inauguração da Estatua appareceu um pasquim, que dizia:
Já Fui sino, fui badalo,
Hoje sou Rei, sou Cavallo.
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Monumento a D José I, J. Novaes Jr., c 1900. Imagem: Internet Archive |
A tais instrumentos, de timbre mavioso, que os Anios ouvem no Céu, rendeu Júlio de Castilho [em maio de 1884] uma comovida homenagem, em verso. Aqui ficam a primeira e a última estâncias:
Não sei dizer que saudades
me acordam no coração
Aquelas vozes de prata
dos sinos de São Gião.
...
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Lisboa, vista tomada do Largo da Academia das Belas Artes, 2017. Imagem: Eventualmente Lisboa e o Tejo |
Oh! campanário bendito!
Quanto te deve a minh'alma
ninguém o sabe, nem eu;
mas sei que sabes falar-me
numa linguagem do Céu;
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Pátio da Escola de Belas Artes de Lisboa, António Ramalho, 1880 (descobre-se parcialmete o cimo da torre da igreja de S. Julião). Imagem: MNSR |
e que ao vir de longes terras,
das ilhas de além do mar,
e ao subir o Tejo um dia,
debruçado na amurada,
o que eu entre tudo ouvia
era, por longe, esfumada
como as brumas da amplidão
entre o rumor da Ribeira,
e o retroar da cidade,
a voz minha companheira,
a voz toda ela saudade
a voz sabida e caseira
dos sinos de São Gião. (1)
(1) Mário Costa, A igreja de S. Julião... (II), Revista Municipal n.° 89, Lisboa, 1961
Alguma leitura relacionada:
Mário Costa, A igreja de S. Julião... (I), Revista Municipal n.° 88, Lisboa, 1961
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