terça-feira, 23 de agosto de 2016

O Grupo do Leão (1.ª parte)

O grupo chamou-se do Leão, por causa de um café da rua do Principe [hoje 1.° de Dezembro], onde ás noites iam cavaquear e beber cerveja, artistas n'elle incorporados, e o seu advento nas exposições do Commercio de Portugal e trepidação de um hausto novo na maneira portugueza de pintar.

O Grupo do Leão, Columbano Bordalo Pinheiro, 1885.
Representados, da esquerda para a direita: em fundo, João Ribeiro Cristino, Alberto de Oliveira, criado Manuel, Columbano, criado António, Braz Martins; sentados, em segundo plano, Manuel Henrique Pinto, João Vaz, Silva Porto, António Ramalho, Rafael Bordalo Pinheiro; em primeiro plano, José Malhoa, Moura Girão, João Rodrigues Vieira.
Imagem: MNAC

Annos depois de organisado o grupo do Leão, bolorencias inherentes à natureza pantanosa d'este género de sociedades, levaram alguns artistas a se separarem d'elle, e a incorporarem-se-lhe outros, e a nova confraria a alargar-se num programma mais íngreme de letras e artes, com saraus, banquetes, exposições e regalos, que, pela vida periclitante da nova milí­cia, intitulada Grémio Artístico, não chegaram a cabal execução, à parte as exposições, decaídas, que o profissional hoje evita, e que a invasão do furioso amador quasi tornou fastidiosas. (1)

Cervejaria Leão de Ouro, 1885.
Imagem: Hemeroteca Digital

O "Grupo do Leão" surge numa conjuntura que lhe permite protagonizar um significativo momento de viragem no panorama artístico português. Emergia uma geração de pintores cheios de talento e de criatividade e também plenos de juventude e de frescor.

Exposições de Quadros e d'Arte Moderna (1881-1889)
Catálogos Illustrados
Publicados por Alberto d'Oliveira
clique para aceder


Paralelamente, desaparecem os velhos românticos e a escola que acarinham manifesta-se desgastada e desajustada à era moderna, enquanto bolseiros portugueses se detêm em França – Paris e Barbizon – e daí chega a novidade de outros caminhos pictóricos mais vibráteis e arrojados.

O Bando de S. Jorge, José Malhoa, 1885, apresentado na 6.a Exposição d'Arte Moderna, em 1886.
Imagem: Cabral Moncada Leilões

Neste contexto de convergência factual, onde ainda avultam as consideráveis transformações da mentalidade cultural que vêm ocorrendo, se afirma o "Grupo do Leão", pujante de vitalidade e veiculando todo um articulado de conceitos de notável avanço para o caso nacional. (2)


(1) Ribeiro Arthur, Arte e artistas contemporaneos,
Illustrações de Casanova & Ramalho, Pref. de Fialho de Almeida, 1896, Livraria Ferin, Lisboa.

(2) Matilde Tomáz do Couto, O "Grupo do Leão" (1881-1889), Jornal da Caldas, 16 de setembro de 2014
cf. revista LION, ed. junho/agosto de 2014


Leitura relacionada: 
Zacarias d'Aça, Lisboa moderna , Lisboa, Tavares Cardoso, 1906
Margarida Elias, O Grupo do Leão de Columbano Bordalo Pinheiro, Revista de História de Arte n.° 5, 2008

Nuno Saldanha, O Leão d'Ouro e a Génese do Naturalismo na Pintura Portuguesa 1885-1905
do Porto e não só: Apontamentos sobre a pintura em Portugal na esquina dos séculos 19 e 20 (I parte)

Sem comentários: