Galeão português (detalhe), Description de l'univers, Du globe terrestre, Alain Manesson Mallet, 1683. Gallica |
Em vinte deste [outubro de 1665] começou a entrar no porto de Lisboa a frota do Brasil; trouxe quarenta navios de carga; vieram mais em sua companhia duas boas navetas da India Oriental, &, repartida por alguns navios,a fazenda da nao da India N. Senhora do Populo, cujo casco se ficou cõcertando na Bahia.
Veio nesta Frota aquele famoso Galeão que Salvador Correa de Sâ & Benavides, sendo Governador do Rio de Janeiro fabricou naquelle porto; o maior navio que ha hoje, nem se sabe que houvesse nos mares; trouxe tres mil caixas, & mais de quinhentos fechos de açucar, alem de outras muitas fazendas, só como lastro, vindo desocupado como vasio, & competindo â vella com a mais ligeira fragata. (2)
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O desenho da embarcação que está representado na página precedente foi desenhado sobre um navio português que passou pelo maior construido no nosso século; foi construído em Goa e está no presente abandonado num pequeno porto do Tejo próximo de Aldeia Galega [Montijo], a três léguas de Lisboa.
Galeão Padre Eterno, Description de l'univers, Du globe terrestre, Alain Manesson Mallet, 1683. Gallica |
Tem 180 pés de quilha, ou de comprimento na parte inferior, seis pontes, 180 escotilhas e outros tantos canhões de ferro. Sua carga era de 4.000 caixas de açúcar, cada caixa pesando 1.500 libas e de 2.500 grossos rolos de tabaco; era normalmente tripulado por 3 a 4.000 homens.
Galeão Padre Eterno, Description de l'univers..., Alain Manesson Mallet, 1683. Gallica |
D. Francisco de Lima, vice-rei das Índias orientais, fê-lo construir no ano de 1664 e chamou-o de Padre Eterno [?]. (3)
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Logo no primeiro século surgiu entre nós a indústria da construção naval. Refere o Barão do Rio Branco que já em 1531 Martim Afonso de Sousa construiu aqui no Rio dois bergantins "as primeiras embarcações construidas por europeus aqui no Brasil".
Em 1645, há noticia de outro feito aqui e levado pra Lisboa por Salvador de Sá. E pode-se presumir a construção de embarcações menores, indispensáveis no transporte de açúcar e outros produtos entre localidades distantes, espalhadas num litoral imenso.
Em 1663 era lançado às águas da Guanabara um dos maiores navios da época, pois media 143 pés de quilha, o galeão "Padre Eterno", construído com madeira da terra, no sítio da ilha do Governador, que por isso mesmo recebeu o nome, que até hoje conserva, de "Ponta do Galeão".
Duraram os trabalhos mais de três anos e sómente em 20 de outubro dc 1665, aportava a Lisboa, em sua primeira viagem, o Padre Eterno [...]
No Museu Marítimo de Greenwich, existe um manuscrito intitulado: "Barlow's journal of his life at sea in king's ships, East & West Indiamen & other merchantmen from 1659 to 1703". Traz em apenso uma mapa aguarelado da cidade e da baía do Rio de Janeiro, no qual avulta a imagem do galeão que arvora a bandeira portuguesa.
"A portingall Ship new Launched 143 feet by ye keel, 1663"; "The
maner of the town and harbour of R. Jenero, in bresila in Arnerika.
Lying in the latitude of 22.45 South"; "The Castle at the entring of
the harbours south". Barlow's journal of his life at sea in king's ships, East & West Indiamen & other merchantmen from 1659 to 1703. A Muito Leal e Heroica Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro |
Próximo a este, próximo à cidade e à barra, respectivamente, anotou Barlow: "A portingall Ship new Launched 143 feet by ye keel, 1663"; "The maner of the town and harbour of R. Jenero, in bresila in Arnerika. Lying in the latitude of 22.45 South"; "The Castle at the entring of the harbours south".
Assinala ele "Whale Towne" (Aldeia da baleia) que é a Ponta da Armação, mais ao longe "A cannowe" (uma canoa), "Guouse Island", a ilha das Cobras. O próprio Barlow e seus companheiros de tripulação do Queen Catherine, capitão John Shaw, ajudaram o lançamento ao mar.
É na obra de Helain [Alain] Manesson Mallet, Dercription de l'Univers contenant les diffèrents systèmes du monde... Paris, 1683 que aparece (tomo I, pgs. 257) a gravura, aqui reproduzida, do Padre Eterno em Lisboa, com a seguinte notícia:
Galeão português, Description de l'univers..., Alain Manesson Mallet, 1683. Gallica |
O desenho do navio [embarcação] que está representado na página anterior [precedente, no texto original] é o desenho de um navio português que se dizia o maior construido no nosso século; foi construído em Goa (erro de Manesson Mallet ou do seu informante), está agora (cerca de 1680) abandonado no porto do Tejo próximo da Aldeia Galega [Montijo], a três léguas de Lisboa.
Tem 180 pés de quilha, ou de comprimento, seis pontes, 180 escotilhas e outros tantos canhões de ferro. Sua carga era de 4.000 caixas de açúcar, cada caixa pesando 1.500 libas e de 2.500 grossos rolos de tabaco; tripulação normal de 3 a 4.000 homens [...] (4)
(1) Mercurio Portuguez com as novas do mez de março de 1665
(2) Mercurio Portuguez com as novas do mez de outubro de 1665
(3) Alain Manesson Mallet, Description de l'univers, 1683, cf Gallica ou Internet Archive
(4) A Muito Leal e Heroica Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro
Leitura relacionada:
Maior navio do mundo, no século 17
Por mares sempre navegados, 2011
Padre Eterno (galeão), Wikipedia
Mais informação:
Mallet (Miscellaneous views)