sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Le Luthier de Lisbonne

A nova peça que está neste momento em voga no Gymnasium, o "Luthier* de Lisbonne", faz as delícias do público. O cartaz anuncia um personagem desconhecido; mas assim que este entra em cena, toda a gente ri e aplaude, e todos compreendem que o actor imita D. Miguel nas suas vestes, na sua fantasia e em os seus ares; ele dá a entender por mais de um sinal que é rei, e eis a peça.

Le Luthier de Lisbonne, Scribe et Bayard, 1831.
Gallica

Quanto mais o desconhecido se comporta de maneira estúpida, ignóbil e bárbara, maior é a alegria do público que não perde nem um gesto. nem uma palavra. Um motim forçou-o a refugiar-se na casa deste luthier, que é o realista mais devotado do mundo, mas que tem a infelicidade de ser o marido de uma mulher muito bonita.

Um dos favoritos de D. Miguel forçou esta ultima a marcar um encontro para a noite seguinte, e pede ao rei, que chega entretanto, a ajudá-lo e a cortar o pescoço do marido."De bom grado", D. Miguel responde, e enquanto o luthier, que o reconheceu e transborda de alegria, se prosta a seus pés, ele assina a sentença de morte deste infeliz, assim como a de seu favorito, ao qual ele quer tomar o lugar junto da bonita mulher.

A cada nova crueldade que ele comete, nós aplaudimos, nós rimos, e esse estúpido D. Miguel de Teatro dá-nos o maior dos prazeres. Assim termina o primeiro acto.

Le Luthier de Lisbonne, Scribe et Bayard, 1831.
Gallica

No segundo, é meia-noite; a mulher bonita está só, muito inquieta; D. Miguel introduz-se na sua casa pela da janela e dá-se a todos os trabalhos do mundo para ganhar, em pleno teatro, o seu amor.

Ele fá-la dançar, cantar perante si; mas ela não o pode suportá-lo, implora-lhe de joelhos para poupá-la, ao que D. Miguel a agarra e arrasta por diversas vezes de uma extremidade da cena à outra. Se ela não pegasse numa faca e se ao mesmo tempo não batessem à porta, tudo isto poderia ter acabado mal para ela.

Le luthier de Lisbonne, vaudeville de Scribe et Bayard, costume de Léontine Fay.
Gallica

No final, o bom luthier ainda salva o rei das mãos dos soldados franceses que acabaram de chegar, e dos quais este último, tem um medo terrível por causa de sua bravura e amor pela liberdade. 

Assim termina a peça para a satisfação geral. (1)

A semana foi dura para D. Miguel, em Londres um lugar no discurso da coroa, em Paris um vaudeville contra si de M. Scribe.

Este vaudeville, de M. Scribe, contra D. Miguel é do mais insípido felizmznte; os amadores de panfletos sem espírito, sem gosto e sem coragem, ligarão o Luthier de Lisboa, com a Epístola às mulas de D. Miguel... (2)



(1) Felix Mendelssohn Bartholdy, Lettres inédites de Mendelssohn
(2) Revue des Deux Mondes, tome 4, 1831

Leitura relacionada:
Le luthier de Lisbonne, anecdote comtemporaine en deux actes, mêlée de vaudevilles, Scribe et Bayard, Paris, Pollet, 1831
Épitre aux mules de Don Miguel, J.P.G. Viennet. Viennet, Jean-Pons-Guillaume, 1829

Gallica:
Le luthier de Lisbonne


*Luthier (Liutaio pt.) - Aquele que fabrica ou repara instrumentos de corda com caixa de ressonância.  

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