quarta-feira, 8 de outubro de 2025

Galeria de aclamação do rei D. Joao VI

Quando chegou ao Brasil, em 1808, d. João era príncipe regente, título que ostentava de fato desde 1792 e de direito desde 1799, em virtude do impedimento de sua mãe por problemas de saúde. Entre 1808 e 1818, o Brasil passara de colônia a Reino Unido de Portugal, elevado em 1815; a guerra que tomou a Europa e causou a vinda da família real paraa América havia acabado; em 1816 a rainha morreu e o príncipe d. João tornou-se d. João VI. Em 1817, sua autoridade real foi desafiada pelos patriotas pernambucanos e por militares liderados por Gomes Freire Andrade em Portugal.

Vista exterior da galeria de aclamação do rei D. Joao VI em 6 de fevereiro de 1818
(Rio de Janeiro)
Jean-Baptiste Debret (1768-1848)
Wikipédia

Não é fácil compreender como todos esses acontecimentos, e as pressões que d. João passou a sofrer desde 1812 para que voltasse a Portugal combinaram-se para retardar a cerimônia de aclamação que, conforme o uso antigo, disse o próprio rei no decreto, sempre se realizava em momentos de transferência de poder da monarquia.

... escudo Real Portuguez,
inscrito na dita Esféra Armillar de Ouro em campo azul, com uma Corôa sobreposta...
Carta de Lei, pela qual Vossa Magestade Ha por bem dar Armas ao seu Reino do Brasil

Tampouco é claro como, e por quê, depois de tanto tempo, d. João decidiu-se por uma festa tão grandiosa e cara para um temperamento sempre referido como discreto e introspectivo e para uma monarquia considerada das mais pobres da Europa... (1)

O Paço transformou-se em uma praça imperial, na qual Montigny ergueu um templo de Minerva, que além da estátua da deusa abrigava outra de d. João VI, e um arco do triunfo foi desenhado por Debret e projetado por Taunay. Cada lado do arco continha colunas da ordem coríntia com estátuas de Minerva e Ceres, representando a sabedoria e a prudência do rei, além da fartura da terra.

No arco estava encenado, à direita, o desembarque do rei, amparado pela América e recebendo as chaves da cidade. À esquerda, o soberano recebia as homenagens das Artes e Comércio, em reconhecimento pelos favorecimentos de d. João, intitulado Libertador do Comércio, no friso que encimava as armas do Reino Unido no centro do arco, gravado com J.VI.

No meio da praça, um obelisco de mais de cem palmos de altura e “à imitação das agulhetas do Egito” que “fingia ser de granito”... (2)


(1) Jacqueline Hermann, O rei da América...
(2) Idem

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domingo, 5 de outubro de 2025

Galeria de aclamação da rainha D. Maria I

Quando chegámos ao Terreiro do Paço já nele se comprimia uma multidão de gente das mais variadas condições, não só de Lisboa e arredores, mas vinda de terras mui distantes para presenciar a grande solenidade da Aclamação e as festas que se vão seguir. Quatro regimentos de infantaria se formaram em batalha, na dita real praça, fazendo frente para a varanda.

Cerimónia de Aclamação da rainha D. Maria I em 13 de maio de 1777
(Lisboa)
Joaquim Carneiro da Silva (1727-1818)
Wikipédia

Esta, onde teve lugar a cerimónia, é uma obra magnificente, erguida onde eram os antigos Paços da Ribeira. Delineou o seu risco felicíssimo o sargento-mor Mateus Vicente de Oliveira e compõe-se duma galeria com vinte e oito arcos, rematada ao norte e sul por dois corpos de nobre arqui­tectura com escadarias repartidas em tabuleiros por onde se sobe para a Varanda. 

Mede esta galeria 473 palmos de comprido por 45 de largo e está adornada exteriormente com figuras alegóricas, trofeus, medalhões e festões de seda de soberbo efeito, e interiormente com sanefas de veludo carmesim franjadas a oiro, alcatifas de França de riquíssima qualidade e painéis no tecto de surpreendente pintura.

Ao fundo da galeria, o trono para Suas Majestades, ornado de seda e talha sobre-doirada, de tão primoroso artifício que não se torna possível descreve-lo. (1)


(1) Amador Patrício, Grandes Reportagens de outros tempos, Lisboa, E.N.P.,1938

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Maria Manuela Milheiro, Festa, Pompa e Ritual... aclamação de D. Maria I
Mónica R. M. R. Queiroz, O Arquitecto Mateus Vicente de Oliveira (1706-1785) uma práxis original na arquitectura portuguesa setecentista, 2013