quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

Bibi & C.ia (ou Cocó, Reineta e Facada), ópera cómica em 3 actos

Cocó Reineta e Facada, farça lyrica em 3 actos, estreia no theatro da rua dos Condes, em 1893 (esta peça foi depois modificada por D. João da Câmara com o título "Bibi e C.ia" e levada à scena no Porto e no Brazil pela companhia Taveira que a veio representar em Lisboa, na Trindade, a 10 de outubro de 1902) (1)

O António Maria, 1893: Theatro da Rua dos Condes: Cocó, Reineta e Facada


D. João junto com Gervásio Lobato e Ciriaco Cardoso foram responsáveis pela perpetuação desse gênero teatral (musical) nos palcos nacionais através das produções e encenações bem sucedidas de óperas cômicas.

Assim, a partir de 1891, com O Burro do Senhor Alcaide, sucede uma série de operetas, fruto afortunado do trabalho dos três amigos: O Valete de Copas, O Solar dos Barrigas (1892), Cocó, Reineta e Facada (posteriormente intitulada, Bibi & Cia) (1893) e O Testamento do Velho (1894).

Cocó, Reineta e Facada
Semanário illustrado Branco e Negro n.° 91, 26 de dezembro de 1897


A morte de Gervásio Lobato (1895) e Ciriaco Cardoso (1900) pôs fim a este grupo, mas a sucessão foi assegurada pela parceria com Eduardo Schwalbach na opereta O João das Velhas (1901), com música de Felipe Duarte e Nicolino Milano. D. João também colaborou com Lopes de Mendonça e outros na farsa Zé palonso (1891), entre outras...

A última obra dessa bem sucedida parceria de D. João da Câmara com Gervásio Lobato e Ciriaco Cardoso, interrompida devido à morte destes dois, foi Bibi & Cia, representada no Brasil pela Companhia Taveira, no Teatro Apolo, em 27 de junho de 1896, obtendo sucesso de bilheteria, permanecendo quase vinte dias em cartaz. (2)


(1) O Occidente n.° 1045, 10 de janeiro de 1908

Informação diversa:
As crônicas portuguesas de D. João da Câmara na Gazeta de Notícias (1901-1905)


Leitura recomendada:
Bibi & Ca : opera comica em 3 actos, original de Gervasio Lobato e João da Camara,musica do Maestro Cyriaco de Cardoso
Os velhos, D João da Câmara, 1893
Os theatros de Lisboa

Crítica política:
Pontos nos ii, 1890 p. 310: Cocó, Ranhata e Facada
O António Maria, 1893 p. 70: Theatro da Rua dos Condes: Cocó, Reineta e Facada
A Paródia, 1901, n.º 52: Os três leaders da oposição, Cocó, Ranheta e Facada
A Paródia, 1901, n.º 92: Os três, Cocó, Ranheta e Facada
A Paródia, 1904,  n.º 103, p. 6
etc.

segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Portugal pittoresco e photográphico (c. 1860)

Revista pittoresca e descriptiva de Portugal com vistas photographicas (1862)

Revista pittoresca e descriptiva de Portugal com vistas photographicas... Joaquim Possidonio Narcizo da Silva (1806-1896)

Almada, vista sul tomada do mirante da Quinta dos Bichos, posteriormente, Quinta da Alegria,
Joaquim Possidónio Narcizo da Silva, 1862.
Biblioteca Nacional de Portugal

F. 1: Praça do Comércio . - F. 2: Praça e monumento de Luís de Camões . - F. 3: Palácio da Pena . - F. 4: Castelo dos Mouros . - F. 5: Vila da Sintra e palácio da Vila . - F. 6: Panorâmica de Lisboa com Igreja da Estrela e cemitério dos Prazeres . - F. 7: Panorâmica de Lisboa com cemitério dos Prazeres . - F. 8: Igreja da Estrela . - F. 9: Igreja da Memória . - F. 10: Torre de Belém . - F. 11: Mosteiro dos Jerónimos . - F. 12: Mosteiro dos Jerónimos – portal sul . - F. 13: Teatro de D. Maria II . - F. 14: Teatro da Trindade . - F. 15: Palácio das Necessidades . - F. 16: Palácio da Ajuda . - F. 17: Palácio da Ajuda . - F. 18: Aqueduto das Águas Livres . - F. 19: Panorâmica da Baixa – Rossio, praça da Figueira até à Igreja da Estrela . - F. 20: Praça do Comércio e rio Tejo] . - F. 21: Baixa e rio Tejo . - F. 22: Baixa e rio Tejo . - F. 23: Panorâmica de Lisboa tirada da Sra do Monte . - F. 24: Panorâmica de Lisboa tirada da Sra do Monte . - F. 25: Panorâmica de Lisboa tirada da Sra do Monte . - F. 26: Panorâmica de Lisboa tirada da Sra do Monte . - F. 27: Panorâmica de Lisboa tirada do Castelo S. Jorge (ver o álbum)


Álbum pittoresco e artistico de Portugal (1849-1873)

Álbum pittoresco e artistico de Portugal, I. Vigé & Plessix

Vista de Setúbal, fotografia n° 18 do Album pittoresco e artistico de Portugal.
Biblioteca Nacional Digital Brasil

A Torre dos Clerigos [foto 1] Santa Cruz de Coimbra [foto 2] Portada principal da Batalha [foto 3] Claustro Real do Convento da Batalha [foto 4] Convento da Batalha, vista do Sul [foto 5] Porta da Capella Imperfeita, na Batalha [foto 6] Convento de Alcobaça [foto 7] Porta do Castello da Pena, em Cintra [foto 8] Porta do Convento de Belem, em Lisboa [foto 9] Torre de Belem, em Lisboa [foto 10] Caza onde faleceu o Rei Carlos Alberto, no Porto [foto 11] Igreja do Carmo, no Porto [foto 12] Entrada do Douro [foto 13] A Foz, no Porto [foto 14] A barra da cidade do Porto [foto 15] Castello de Guimarães [foto 16] Vista da cidade de Guimarães [foto 17] O Bom Jesus do Monte, em Braga [foto 18] A Sé de Braga [foto 19] Vista da cidade de Braga [foto 20] Universidade de Coimbra [foto 21] Vista da cidade de Coimbra [foto 22] Vista geral de Setubal [foto 23] Castello de Palmella [foto 24] Portada principal de Batalha e vista geral do Convento [foto 25] Castello da pena, em Cintra [foto 26] Palácio Real de Mafra [foto 27] Arcos das Águas Livres, em Lisboa [foto 28] Theatro de D. Maria 2. em Lisboa [foto 29] Convento da Estrella, em Lisboa [foto 30] Vista da Ajuda tirada da Pampulha [foto 31] Claustro do Convento de Belem, em Lisboa [foto 32] Igreja de S. Francisco, no Porto [foto 33] Palacio das Necessidades [foto 34] Castello da pena, em Cintra [foto 35] Grande estufa no quintal das necessidades [foto 36] [Torre de Belém] [foto 37] [Praça do Comércio] [foto 38] [Vista da cidade de Lisboa e o Palácio da Ajuda] [foto 39] [Porta do Castelo da Pena] [foto 40] [Forte do Castelo dos Mouros] [foto 41] [Palácio da Pena] [foto 42] [Palácio Real em Sintra] [foto 43] [Mosteiro da Batalha] [foto 44] [Interior do Mosteiro da Batalha] [foto 45] [Convento de Cristo] [foto 46] [Convento de Cristo, vista da janela manuelina] [foto 47] [Convento de Cristo, vista parcial] [foto 48] [Palácio Real de Queluz] [foto 49] [Sala D. Quixote no Palácio Real de Queluz] [foto 50] (ver o álbum)


Álbum sobre Lisboa e Sintra (1868?)

Álbum sobre Lisboa e Sintra, Francisco Rocchini (1822-1896)

Praça do Comércio e Rio Tejo, Francesco Rocchini (1822 - 1895), c. 1868.
Biblioteca Nacional de Portugal

F. 1: Praça do Comércio . - F. 2: Praça e monumento de Luís de Camões . - F. 3: Palácio da Pena . - F. 4: Castelo dos Mouros . - F. 5: Vila da Sintra e palácio da Vila . - F. 6: Panorâmica de Lisboa com Igreja da Estrela e cemitério dos Prazeres . - F. 7: Panorâmica de Lisboa com cemitério dos Prazeres . - F. 8: Igreja da Estrela . - F. 9: Igreja da Memória . - F. 10: Torre de Belém . - F. 11: Mosteiro dos Jerónimos . - F. 12: Mosteiro dos Jerónimos – portal sul . - F. 13: Teatro de D. Maria II . - F. 14: Teatro da Trindade . - F. 15: Palácio das Necessidades . - F. 16: Palácio da Ajuda . - F. 17: Palácio da Ajuda . - F. 18: Aqueduto das Águas Livres . - F. 19: Panorâmica da Baixa – Rossio, praça da Figueira até à Igreja da Estrela . - F. 20: Praça do Comércio e rio Tejo] . - F. 21: Baixa e rio Tejo . - F. 22: Baixa e rio Tejo . - F. 23: Panorâmica de Lisboa tirada da Sra do Monte . - F. 24: Panorâmica de Lisboa tirada da Sra do Monte . - F. 25: Panorâmica de Lisboa tirada da Sra do Monte . - F. 26: Panorâmica de Lisboa tirada da Sra do Monte . - F. 27: Panorâmica de Lisboa tirada do Castelo S. Jorge (ver o álbum)

sexta-feira, 1 de outubro de 2021

Museu Militar de Lisboa: Sala Campanhas da Liberdade

Ao centro do tecto, alegoria às Campanhas da Liberdade; é trabalho de Columbano; aos lados os retratos de Saldanha, Terceira, Sá da Bandeira e D. Pedro IV. Uma das paredes é quase toda revestida por uma primorosa tela de Veloso Salgado: A Pátria coroando os heróis da Liberdade.

Pátria coroando os seus heróis ou Apoteose dos Heróis da Liberdade, Veloso Salgado, 1904.
Museu Militar de Lisboa, Sala das Lutas Liberais
(ex Sala das Campanhas da Liberdade, ex Sala D. Pedro IV).
No primeiro grupo à esquerda, vê-se D. Pedro IV, o Duque de Saldanha, o Duque da Terceira, Sá da Bandeira, Conde das Antas, José Jorge Loureiro e o Marquês de Fronteira, em gloriosa cavalgada, avançando imponentes, marciais, enérgicos. Um marinheiro da Armada destaca-se da multidão ovante, sem receio de ser atropelado e corre alçando a bandeira bicolor desfraldada. No segundo grupo, ao centro do quadro, Mouzinho da Silveira, em atitude reverente de pôr aos pés da Pátria as suas providências legislativas, tem por companheiros o Duque de Palmela, José da Silva Carvalho, Almeida Garret e outros eminentes, que contribuíram para a implantação do regime constitucional. Tomam parte no cortejo deslumbrante, um soldado do Batalhão de Voluntários da Rainha, com a bandeira oferecida pela Senhora D. Maria II ao Batalhão, um soldado de Caçadores 5 e outro de Infantaria 18. À direita está a figura da Pátria, sentada, de tronco ereto, estendendo uma coroa aos Libertadores e junto dela a figura da História, escrevendo com letras de ouro, em um quadro de bronze, os nomes dos principais heróis.
Museu Militar de Lisboa (fb)

Enfeitam as restantes paredes os retratos de José Jorge Loureiro, por Matoso da Fonseca; Conde das Antas, pelo artista Ribeiro Júnior, e Saldanha, oferecido pelo falecido comendador Guilherme João Carlos Henriques, conhecido por Guilherme João Carlos Henriques, da Carnota.

Dentre os objectos patentes há a salientar, ao centro da sala, o busto em mármore do marquês de Sá da Bandeira, primoroso trabalho executado e oferecido ao Museu pela Duquesa de Palmela.

Busto em màrmore do Marquês de Sá da Bandeira (c. 1870), inaugurado na Sociedade de Geografia de LIsboa em 1909, detalhe de fotografia de Francesco Rocchini tomada no atelier da 3a Duquesa de Palmela Maria Luísa de Sousa Holstein.
Arquivo Municipal de Lisboa

Há também um painel pintado pelo general estrangeiro Hoffmann: o Combate de Ponte Ferreira, e pequena gravura representativa da Acção da Vila da Praia, na Ilha Terceira, em Agosto de 1829, oferecida pela filha do Conselheiro Luís José da Silva, que sempre acompanhou D. Pedro IV naquela ilha.

Batalha de Ponte Ferreira em 23 de Julho de 1832 por A. E. Hoffman (c. 1835).
Wikipédia

Estas as decorações da sala, em que se expõem: uma colecção de artigos que foram pertença de Saldanha; manequins com uniformes do exército de 1833; o bastão do duque da Terceira; a espada que acompanhou Saldanha na batalha de Almoster; bandeiras históricas, etc.  (1)


(1) Olisipo n.° 61, janeiro de 1953 cf. Serões n.° 60, junho de 1910

Mais informação:
Museu Militar de Lisboa (fb)
Maria João Vieira Marques, Museu Militar de Lisboa: proposta de reprogramação museológica

quarta-feira, 1 de setembro de 2021

Praia de Santos

A velha praia de Santos, com toda a sua physionomia amphybia, archeologica, ainda eu a vi. O que é Espozende, Vianna, Caminha, ou Villa do Conde, e o que foram as Ribeiras de Alfama, vistas e descriptas por Villalba e Pedro de Medina, foi-o a nossa saudosa, e hoje morta, praia de Santos.

Panorâmica da Lisboa ribeirinha antes do Terramoto de 1755,
tomada a partir dos jardins do palácio do Marquês de Abrantes (onde hoje se encontra a embaixada de França).
Museu de Lisboa

Depois... veiu a gradual transformação da marinha com as machinas de vapor; e Portugal, que não podia competir com os centros manufactureiros da Inglaterra, caiu. Morreram estes nossos estaleiros tão atarefados, e ficou annos moribunda a praia de Santos.

Veiu o Aterro, acabou de a matar, e sepultou-a. Não quero mal ao Aterro, entenda-se bem. Gosto muito do passado, gosto mais d elle que do presente, mas o presente tem os seus direitos. O que é pena é que as Camaras Municipaes, antes de aniquilarem a orla marítima característica de Lisboa, não conservassem vistas photographicas d'esta praia de Santos, que era um admirável especimen do mundo antigo portuguez, e lembrava os companheiros do Gama, e cheirava á salsugem dos Lusíadas! (...)

Pelo lado do Sul, batia o Tejo aos pés da muralha do jardim, c ainda se dava esse facto em 1823. O Tejo foi fugindo, e já por 1848 a praia de Santos começava a ser habitada. O popular fogueteiro italiano José Osti tinha ahi na praia a sua fabrica de fogos de vista, designada num almanack de 1849 sob o numero municipal 117. Junto á fabrica edificou elle por esses annos a sua casa, elegante e pintadinha, com gelozias verdes; fazia então um bonito effeito aninhada á beira das aguas (note-se que a rampa de Santos não existia). Essa casa tem hoje os n.os 148 a 172 da rua de Vasco da Gama (o n.° 148 é uma escada ao ar livre).

Lisboa finais de setecentos Henri L`Éveque Arquivo dos Portos de Lisboa, Setúbal e Sesimbra 3200 03 cor.jpg

Moraram no seu palacio estes Lencastres, um dos ramos da descendencia do Duque D. Jorge, Condes de Figueiró, depois Condes de Villa-Nova de Portimão, e por fim Marquezes de Fontes, e depois de Abrantes, pela extineção da linha primogênita dos Almeidas Condes de Abrantes, ficando a varonia sendo Lencastre. No século passado a herdeira Condessa de Villa-Nova casou com D. Manuel de Tavora (o que esteve dezoito annos prezo, sem se saber porquê). (...)

Lisboa Vista da praia dos Santos em 1788 feita por Alberto Dufourcq.
Em primeiro plano, sobre a praia, observam-se os estaleiros navais, com intensa actividade de reparação naval e estiva. Na linha do horizonte, toda a frente ribeirinha da zona de Santos, prolongando-se até ao Cais do Sodré. No topo do Alto de Santa Catarina destaca-se a desaparecida igreja da mesma denominação, demolida em 1833, seguida do casario do bairro da Bica que preenche o vale. No lado oposto observa-se a Ermida das Chagas. Sobressai ainda o grande edifício que foi o Palácio dos Duques de Valença.
cf. Museu de Lisboa

Em duas palavras: no projecto geral de Pezerat ganhavam-se sobre o Tejo vastos terrenos, desde o Arsenal até á torre de Belem, orlavam-se com um caes em linha recta traçado a 40 metros fóra da torre, e collocava-se um porto de construcção na bocca do rio de Alcantara.

Casamento de D. Maria II com D. Fernando II em 1836.
Igreja de Santos o Velho, óleo sobre tela da autoria de Tony de Bergue, meados do século XIX.
Pertence ao Ex.mo Senhor Pedro Costa.
Arquivo Municipal de Lisboa

A medonha febre amarella de 1857 obrigou o Governo, a Municipalidade, o publico inteiro, a pensar, com maior seriedade ainda do que até ali, nas incalculáveis vantagens que á saude publica deviam provir de. se entulharem de vez os lodos mephyticos da Boa-Vista, estendendo aos pés de Lisboa, como um estrado enorme, um longo aterro, que tirasse á Capital a causa mais efficaz das epidemias, que já muita vez a tinham assolado.

Aterro da Boavista, Entrada da avenida 24 de Julho junto à Igreja de Santos, 1863.
Archivo Pittoresco


Toda a opinião dirigente se empenhou no assumpto; trabalharam os poderes do Estado; e logo em sessão da Camara Municipal de 15 de Maio de 1858 se recebia communicação de ter o Director do Instituto Industrial, que era então o honrado José Victorino Damasio, dado começo ao aterro entre o forte de S. Paulo e a praia de Santos; o illustre engenheiro sollicitava coadjuvação do Município. (...)

No cais do Tejo, Alfredo Keil, 1881.
MNAC
(museu do Chiado)

Em Maio de 1858 era, como disse, o sabio Director do Instituto Industrial, o Engenheiro José Victorino Damasio (velho alto, serio, grave, que ainda conheci em casa de meu Pae) encarregado de proceder sem demora ao aterro da margem desde o boqueirão da Moeda até á praia de Santos por conta da empreza Lucotte. Eram apenas uns cincoenta metros furtados ao rio, sustentados por um paredão armado de quatorze linguetas para contraforte, e planos inclinados para desembarque.

Começou-se logo com a actividade que sabia incutir a tudo o notável trabalhador, technico de primeira ordem, cujo glorioso nome ficou a uma das ruas do novo Aterro. (...)

A obra não parava; em 9 de Maio de 1859 propunha o Vereador Dr Lisboa que se obrigassem os donos de barcos varados na praia de Santos a removerem-n-os dentro de quinze dias para se dar começo ao entulhamento2; e em 28 de Novembro seguinte arrematava-se o verdugo para a construcção da muralha do aterro da velha praia.

Finalmente, depois de tantos e tão grandes trabalhos, achava-se em Agosto de 1867 concluido o Aterro desde a praia de Santos até ao Arsenal da Marinha. (1)



(1) Julio de Castilho, A ribeira de Lisboa, Lisboa, Imprensa Nacional, 1893

Leitura relacionada:
Rua de Santos-o-Velho I
Idem, II
Idem, III
Idem, IV
Idem, V
Idem, VI
Idem, VII

domingo, 1 de agosto de 2021

Vista de huma parte da Cidade (no 3° quartel do século xviii)

Entre as preciosidades do Museu das Janelas Verdes existe um a interessante vista panorâmica de Lisbo a, do século XVIII, que co ntém alguns pormenores que não se encontram nas vistas idênticas, mais conhecidas, da mesma época. Tem o título seguinte, escrito e muma linha, no alto da mancha:

Vista de huma parte da Cidade que comprehende desde São Bento dos Negros thé o Largo do Corpo Santo a qual vista foi deliniada / no citio fronteiro a Santa Catharina de Monte Sinay / e tomada na parte do Sul no meyo do Tejo.

Igreja demolida de Santa Catarina, no alto do monte empinado, sem a muralha de suporte que no século passado [xviii] se construiu... Ã sua frente vê-se a cruz que deu o nome à rua da Cruz de Pau, actualmente do Marechal Saldanha cf. Vista de huma parte da Cidade que comprehende desde São Bento dos Negros thé o Largo do Corpo Santo a qual vista foi deliniada / no citio
fronteiro a Santa Catharina de Monte Sinay / e tomada na parte do Sul no
meyo do Tejo ().
Hemeroteca Digital de Lisboa

A vista é um desenho em papel, aguarelado a sépia, a verde no mar e nos sítios cultivados, e a azul no céu. 

Tem no Museu a cota «Museu N.° 86», e as suas dimensões, dentro do filete da cercadura, são: 175 cm, 4 de largo por 24 cm, 3 de altura.

A única legenda que o desenho tem é «Rio Tejo»; mas no corpo da mancha apresenta 33 números remissivos, referentes a uma legenda que desapareceu , ou que não chegou a fazer-se.

Na margem superior está escrito, ao meio , «N.° 2», o que parece indicar que a vista devia ser completada com outra que a antecedesse, que seria a «N .º 1».

A vista é manifestamente posterior ao ter remoto de 1755; vêem-se edifícios desmoronados, alguns escorados, rimas de madeira para as reedificações, e o aspecto da margem do Tejo é idêntico ao representado em outras vistas da 2.a metade do século XVIII posteriores ao terremoto.

Vista de huma parte da Cidade que comprehende desde São Bento dos Negros thé o Largo do Corpo Santo a qual vista foi deliniada / no citio
fronteiro a Santa Catharina de Monte Sinay / e tomada na parte do Sul no
meyo do Tejo.
Hemeroteca Digital de Lisboa


O panorama, que abrange um ângulo de 90 graus, foi tirado de um ponto a meio do Tejo, certamente de um barco fundeado, a cêrca de 600 metros da estátua do Duque da Terceira e de 630 metros do largo do Conde-Barão; do alto de Santa Catarina distava aproximadamente a mesma extensão.

Carta topographica de Lisboa (editado), levantamento de 1807, Duarte José Fava.
Hemeroteca Digital de Lisboa

Está o desenho feito com uma tal ou qual exactidão, como se deduz do confronto com o panorama de Lisboa existente na Academia Nacional de Belas-Artes, feito pelos anos 1767 a 1769 [v. artigo relacionado: Panorâmica de Lisboa nos finais do séc. XVIII], mais recente, mas todavia mais perfeito. Nota-se a coincidência de aspectos de muitos edifícios representados em ambos os panoramas, tendo em consideração os pontos de vista diferentes donde foram tirados.

É porém mais correcto do que a vista panorâmica de Lisboa, quási coeva (datada de 1763) [v. artigo relacionado: Panorâmica de Lisboa em 1763], que foi descrita pelo dr. G. Perry Vidal in Olisipo, Boletim do Grupo «Amigos de Lisboa», n.º 2, Abril de 1938 , a págs. 5 e seguintes. Vamos suprir, dentro do possível, a falta da legenda  explicativa dos números marcados na vista.

Para isso socorrer-nos-emos da planta de Lisboa levantada em 1807 pelo capitão-engenheiro Duarte José Fava, publicada e m l833, e de uma planta desenhada, do 3.° quartel do século XVIII, de que somos possllldores, que se conserva inédita, e que tem por título: 

Planta que rnostra os Citios da Esperança, athé o Arcenal da Marinha. A planta que acompanha o presente estudo é um extracto da citada planta de Lisboa de 1807, tendo sobreposta, a tinta encarnada, a linha que contorna o campo de visão da vista panorâmica, os números de referência que nesta existem, e as letras que julgámos conveniente co locar para referências e melhor co mpreensão da descrição.

Observaremos, porém, que a nossa interpretação fica sujeita a emendas ou rectificações, que um mais minucioso exame da vista venha a sujerir. Começaremos pelo lado esquerdo do desenho:

1- Igreja de Santa Isabel, mal perceptível.

2 - Igreja, demolida, do mosteiro de Santo Cristo, das Religiosas Capuchinhas Francesas, vulgarmente chamado das Francesinhas, no Caminho Novo, actual rua João das Regras.

3 - Convento de S. Bento das Negros, actualmente Palácio do Congresso. Vê·se nitidamente o portão de ingresso no recinto do adro do convento, que abria na calçada da Estrêla, em frente da igreja das Francesinhas.

Vista de huma parte da Cidade que comprehende desde São Bento dos Negros thé o Largo do Corpo Santo a qual vista foi deliniada / no citio
fronteiro a Santa Catharina de Monte Sinay / e tomada na parte do Sul no
meyo do Tejo.
Hemeroteca Digital de Lisboa

4 - Palácio do conde-barão de Alvito, propriedade actualmente dos herdeiros do conde de Pinhel, no largo do Conde-Barão, esquinando para a rua dos Mastros.

5 - Palácio dos Almadas, provedores da Casa da India, que esquina do largo do Conde-Barão par a a rua das Gaivotas, lado ocidental. Está hoje aí a Garagem Conde-Barão, a oficina Ottosgráfica, Lda. e outros estabelecimentos comerciais.

6 - Armazém da Casa da India, segundo se comprova com a planta inédita que possuímos. Ficava aproxi- madamente no sitio do prédio n.os 1 a 7 do largo do Conde-Barão, fronteiro, e sensivelmente com a mesma extensão de frente que o palácio dos Almadas.

7 - Paço da Madeira, conforme a mencionada planta. Ficava quási contíguo ao armazém (6), no leito da actual Rua da Boa-Vista, e em parte do sítio do prédio da mesma rua n.os 87 a 93, que torneja para a do lnstituto Industrial. Em 1807, como se vê na planta de Lisboa dessa data, já esta instituição alfandegária havia sido construída um pouco para nascente (em A, na planta), no local onde existiu e funcionou o Instituto Industrial e Comercial de Lisboa , actualmente em demolição.

8 - Prédio que esquina da rua da Boa-Vista, n.os 180 e 182, para o pequeno bêco da Boa-Vista. Ignoramos que interêsse apresentava para merecer uma referência ao desenhador.

9 - Palacete que foi dos condes de Sampaio, na esquina da rua da Boa-Vista, n.os 98 a 108, para a travessa do Marquês de Sampaio, antigamente bêco do Conde de Sampaio, cuja entrada se distingue bem nitidamente. Por cima, no último plano, vêem-se uns prédios do lado sul da Rua Fernandes Tomás, suportados por contra-fortes que se firmam no terreno da encosta. O da esquerda (B, na planta), com dois andares e quatro janelas grandes e três pequenas, em cada andar, está no sítio do prédio n. º' 7 a 13 da rua Fernandes Tomás, que tem o mirante; o da direita (C, na planta), com três andares e seis janelas em cada um, é o prédio n.os 1 a 5 da mesma rua; o telhado que se avista por cim a do último pzrtence ao grande prédio (D, na planta) da rua do Alcaide, n.os 1 a 18.

10 - Antiga igreja e mosteiro de S. João Nepomuceno, de Carmelitas Descalços Alemães, sito no largo de S. João Nepomuceno. Éstes edifícios foram transformados, e nêles está instala o o Asilo de Santa Catarina.

Vista de huma parte da Cidade que comprehende desde São Bento dos Negros thé o Largo do Corpo Santo a qual vista foi deliniada / no citio
fronteiro a Santa Catharina de Monte Sinay / e tomada na parte do Sul no
meyo do Tejo.
Hemeroteca Digital de Lisboa


11 - Tímpano da igreja do convento dos Paulistas, actual paroquial de Santa Catarina, na Calçada do Combro.

12 - Primeiro prédio da travessa da Condessa do Rio, n.os 1 a 11 , que esquina para a rua dos Ferreiros a Santa Catarina, n. os 2 a 4. Consta que pertenceu àquela família titular e hoje é do engenheiro-agrónomo José Mateus de Mendia.

13 - Prédio fronteiro ao anterior, com frente também para a r ua de Santa Catarina, n. 0 16 , propriedade do negociante Guilhe rme Pinto Basto. Vê-se em seguida a rua que desce pela encosta, calçada de Castelo-Branco Sar aiva, então calçada de S. J oão Ne- pomuceno, a qual vinha desembocar, como hoje, junto do p réd io n.os 8 e 10 da rua da Boa-Vista (E, na planta), que está desenhado ao lado direito do marcado n .0 17. Êste prédio n .º 3 8 e 10 , que fi ca mesmo em frente da esqu adra de polícia, é de cinco pavimentos, tendo o 1.º e 2.° andares duas janelas de sacada cada um, e o 3.° uma só, e 2 sua fachada termina superiormente em curva. Esta casa pe rmanece a inda hoje com o mesmo aspecto.

14 - Igreja demolida de Santa Catarina, no alto do monte empinado, sem a muralha de suporte que no século passado se construiu. No seu local está o prédio construído em 1862 pelo industrial José Pedro Colares, hoje pertencente à família do falecido industrial Alfredo da Silva. Ã sua frente vê-se a cruz que deu o nome à rua da Cruz de Pau, actualmente do Marechal Saldanha.

15 - Casa nobre no largo do Calhariz, que no ano do terremoto era do Principal Lázaro Leitão Aranha e depois vendida para a construção do palácio de Joaquim da Cruz Sobral, onde funciona a Caixa Geral de Depósitos. A rua que desce dêsse palácio, aguarelada de escuro (FJ na p lanta), é a rua da Bica de Duarte Belo, onde trabalha e elevador chamado da Bica. E a casa com dois andares e quatro janelas de frente em cada um (G, na planta) que fica na vertical daquela rua, é sita na rua de S. Paulo, n.os 230 e 236, e nela Sé' abre o portal de ingresso para o dito elevador. O prédio tem actualmente mais dois andares.

16 - Prédio cujo telhado se projecta no céu, no sítio do palácio do largo do Calhariz, que foi dos Sousa Holstein, e no qual tem a sede o Automóvel-Club de Portugal (interpretação duvidosa). A rua, também aguarelada de escuro, que se vê à direita e paralela à acima mencionada (H, aa planta), descendo pela encosta, é a calçada da Bica Grande, que desemboca inferiormente defronte da Casa da Moeda. Um prédio arruinado. (I, na planta) que se vê na vertical do traçado da refarida calçada, deve ser o que em 1755 pertencia aos condes de Sandomil e hoje é do negociante Carlos Silva; esquina da rua das Chagas, onde tem os n.os15 a 4 7, para o largo do Calhariz, n.os 1 a 4.

17 - Armazém da Junta do Maranhão, segundo mestra a planta inédita. Ficava aproximadamente no sítio da esquadra de policia da rua da Boa-Vista.

18 - Escritórios ou armazéns da .Junta do Maranhão. Eram situados, po uco mais ou menos, no local do prédio qu e esquina da rua de S. Paulo, n. os 91 a 107 para a rua da Moeda. Tôda a extensão que vai desde o edifício 18 até ao 6, hoje preenchida com prédios de particulares, a abegoaria e outros serviços municipais, a esquadra de polícia e a fábrica do gás, isto é desde a rua da Moeda até à do Instituto Industrial , e limitada ao norte pelo parapeito da fortificaçcio, estava, por ocasião do terremoto de 1755, tôda ocupada com estaleiros, que deixavam desafrontados, e com vista sôbre o rio, os prédios do lado norte da rua da Boa-Vista.

19 - Escritórios ou Armazéns da Junta de Pernambuco, segundo a mesma planta. Eram o corpo de edifício da Casa da Moeda, ao longo da rua da Moeda, onde estavam uns armazéns que arderam em Outubro de 1941.

20 - Continuação dos armazéns do número anterior. É possível também que fôsse o muro que fechava o recinto dos edifícios e oficinas da Casa da Moeda, à qual pertenciam as três ja-nelas e os três ou quatro telhados seguidos que o desenho mostra por cima do referido muro.

20. A Casa da Moeda foi instalada naquele local em 1720 e actualmente está sendo daí removida.

21 - Prédio sito no pátio chamado do Pimenta, encostado ao paredão sul do suporte do terreiro onde está a igreja das Chagas. No seu local, ou sôbre êle, levantou-se o grande prédio que pertence ao Dr. José Dias Ferreira. O edifício com três andares que à di-reita lhe fica contíguo (J, na planta) , é o prédio do mesmo pátio, n. º' 30 a 32, que tem também frente para a rua do Ataíde, n.os 15 a 17.

22 - Ruínas da igreja das Chagas. Nota-se o paredão ocidental do terreiro no tôpo da rua das Chagas, derrubado para a encosta . Ã direita, na línha do horizonte, avista-se o frontão da igreja do Loreto.

Vista de huma parte da Cidade que comprehende desde São Bento dos Negros thé o Largo do Corpo Santo a qual vista foi deliniada / no citio
fronteiro a Santa Catharina de Monte Sinay / e tomada na parte do Sul no
meyo do Tejo.
Hemeroteca Digital de Lisboa

23 - Tanoaria dos Armazéns ( da Junta de Pernambuco?), segundo a nossa planta inédita; na praia, como no terrapleno, vêem-se alguns barris. Devia ser uma de pendência do forte de S. Paulo, para o qual tinha escadas de acesso. Na sua parte posterior pegava com a grande arrecadação do forte, onde é hoje o armazém de ferro da firma Orey, Antunes & C. ia, para o qual também tinha portas de acesso.

24 - Forte de S. Paulo ou da Tenência. No seu terrapleno vêem-se um guidaste e balas empilhadas. Logo por cima dêle, e formando-lhe o fundo, mostra o desenho a primitiva igreja de S. Paulo, arrulnada, que ficava da banda do norte do forte.

25 - Paredão do parapeito da fortificação marginal, a que se segue uma palissada, os quais ligavam o forte de S. Paulo com o dos Remolares (L, na planta), que se vê na continuação da palissada. No sítio da muralha, e em mais terreno conquistado ao Tejo, foi construída mais tarde, em 1771, a antiga e desaparecida praça da Ribeira Nova (M, na planta), que ficava contígua ao forte.

26 - Prédio no local do quarteirão de casas que fecha pelo sul o actual largo de S. Paulo; pertenciam estas então ao marquês de Pombal; as que lá existem actualmente são de reedificação posterior ao terremoto.

27 - Palácio do marquês de Valença. A sua frente, do lado ocidental, vê-se uma grande muralha de suporte do terreno onde foi , no século XIX, construída a fábrica de cerveja Jansen. O corpo de edifício marcado 27, com cinco grandes janelas na fachada ocidental, é o antecessor do prédio pertencente à mesma fábrica, na rua António Maria Cardoso  n .os 3 a 7, em que funcionam os serviços de obras, e onde está o refeitório do pessoal das Companhias Reünidas Gás e Electricidade, que trazem o edifício de renda. Noutra parte do mesmo prédio, mais ao norte, estão instaladas a tipografia Maurício & Monteiro e vários armazéns e estabelecimentos comerciais.

28 - Paços dos Duques de Bragança, que eram situados no local do prédio que esquina da rua António Maria Cardoso, n.os 2 a 16, para a rua Vítor Córdon. Entre os edifícios 28 e 29 avístam-se, no último plano, as mura-lhas do recinto interior ou castelejo do castelo de S. Jorge, com três paus de bandeira, num dos quais, o da tôrre onde depois se instalou o observatório, flutua a bandeira com as armas reais.

29 - Paredão sul da igreja do convento de S. Francisco da Cidade, metido hoje no maciço dos prédios da rua Vítor Córdon, que tornejam para a rua Serpa Pinto.

30 - Igreja antiga dos Mártires, junta ao convento de S. Francisco, que dêsse sítio foi mudada, na reconstrução da cidade depois de 1755, para o lado sul do meio da rua Garrett.

31 - Palácio dos condes da Ribeira; por ocasião do terremoto, dependências do paço real da Ribeira; e actualmente do Dr. Pedro de Carvalho Monteiro, no tôpo superior da calçada de S. Francisco.

32 - Palácio dos Côrte-Reais, arruinado e depois demolido, que ficava no sítio das desaparecidas oficinas do Arsenal de Marinha, contíguas ao largo do Corpo Santo.

33 - Dependências do palácio anterior, picadeiro, cavalariças, palheiro e outras oficinas. no sítio da Sala do Risco do Arsenal de Marinha. A vista mostra que êste corpo de edifício resistiu ao terremoto de 1755, e que conserva exactamente a disposição arquitectónica, com janelas grandes nas fachadas e mezaninos sôbre as mesmas, sendo três na fachada voltada ao sul, que hoje ainda podemos observar na dita ala.

Pelo desenho da vista que estamos estudando reconhece-se que a arquitectura e alturas da a Sala do Risco serviram de norma e foram adaptadas, depois do terremoto de 1755, na edificação da parte restante do Arsenal até à praça do Comércio, assim corno da Alfândega.

Da conservação dêste edifício resultou a orientação oblíqua que forma a ala da Sala do Risco, relativa ment e à linha geral do corpo principal do Arsenal.

Reconhece-se que a presente vista panorâmica, que até agora se tem conservado inédita, apresenta alguns pormenores topográficos e aspectos de uma parte de Lisboa na época do ter-remoto de 1755, que eram ignorados, o que a torna preciosa para o conhecimento da cidade naquele período de transição e de urbanização que o terremoto veio provocar. (1)


(1) A. Vieira da Silva, Hemeroteca Digital de Lisboa

Artigo relacionado:
Panorâmica de Lisboa em 1763
Panorâmica de Lisboa nos finais do séc. XVIII

quinta-feira, 1 de julho de 2021

A formosa bahia do Tejo contemplada dos altos de Belver

Quem no século xvi, por alguma formosa tarde de verão, destas tardes luminosas e amcnissimas do clima peninsular, subisse ao monte lisbonense denominado da Boa-Vista, ou de Belver (hoje o Alto de Santa Catherina; quem ali fosse repoisadamente espairecer a alma na contemplação do Tejo, este nosso Tejo azul nacarado, esta bahia sem rival; quem estendesse os olhos aos cachões brancos da barra, aos oiteiros cretáceos de Caparica, ás arribas do Alfeite, á linha grandiosa das serras da Arrabida e de S. Luiz, ao cabeço histórico de Palmella, ás terras chans do Barreiro e Seixal, e ao montuoso lençol branco da casaria da Cidade, alastrado como em estendal ao rez das aguas; quem, encostado ao parapeito de pedra (que já então havia) contasse um por um os galeões fundeados, as urcas, as carrácas, ou seguisse o deslisar das caravellas e catraias... podia dizer, com entranhado gosto, que presenciava um dos espectáculos mais pittorescos, mais variados, e mais attractivos, de todo o mundo.

Incêndio da Fragata Graça Divina S. João Baptista, Joaquim Manuel Rocha (1727 - 1786), 1781.
Palácio do Correio Velho

Desde muitos séculos tem fama o porto de Lisboa, como um dos mais seguros e vastos da Europa.

Igreja demolida de Santa Catarina, no alto do monte empinado, sem a muralha de suporte que no século passado [xviii] se construiu... Ã sua frente vê-se a cruz que deu o nome à rua da Cruz de Pau, actualmente do Marechal Saldanha cf. Vista de huma parte da Cidade que comprehende desde São Bento dos Negros thé o Largo do Corpo Santo a qual vista foi deliniada / no citio
fronteiro a Santa Catharina de Monte Sinay / e tomada na parte do Sul no
meyo do Tejo.
Hemeroteca Digital de Lisboa

Estrangeiros e nacionaes, á porfia teem reconhecido as excellencias d’elle, já pelas condições peculiares de abrigo e largueza, já pela posição geographica, a meio caminho entre as regiões americanas e africanas, e a operosa e cultivada Europa.

Ora esse curioso, que no século xvi, na epocha das magnificências, subisse aos altos da Boa-Vista, e se detivesse a contemplar o esplendidissimo quadro, gosava em todo o seu auge, em toda a sua animação, a scena completa dos nossos tráficos navaes.

Igreja e convento de Santa Catarina, Vrbivm praecipvarvm mundi theatrvm qvintvm (detalhe), 1598.
Georg Braun [Georgio Braúnio Agrippinate], Franz Hogenberg.
Wikipedia

E que scena! Veria a entrada e saida de barcaças diversas, que ou demandavam remotas regiões, ou de lá chegavam: umas vezes, as frotas, carregadas das mercancias do Oriente; outras vezes, as armadas, deslisando em triumpho, e pregoando aos quatro ventos as proezas da conquista.

Ao réz da praia os estaleiros, onde se concertavam os vasos antigos, e se edificavam embarcações de alto bordo. Emfim, por essas viellas próximas, o ir e vir da população mareira, que á beira-mar escolhe sempre o ninho, como as aves aquaticas, e na visinhança do retroar das ondas se compraz.

Vrbivm praecipvarvm mundi theatrvm qvintvm (detalhe), 1598.
Georg Braun [Georgio Braúnio Agrippinate], Franz Hogenberg.
Wikipedia

Por toda a longa orla meridional d esta Cidade, uma das mais marinheiras da Península, expande-se em cheio a actividade naval incançavel do Lisboeta.

Do mar, não desgosta, em geral, o Portuguez; mas o Lisboeta quer-lhe muito. Longas viagens, aventuras longínquas, de descobrimento ou peleja, ao longo de praias desconhecidas, atravez de Oceanos sem fim, e até as meras narrações d essas aventuras, tudo isso lhe namora a attenção, e lhe escandece e inflamma o espirito. (1)


(1) Julio de Castilho, A ribeira de Lisboa, Lisboa, Imprensa Nacional, 1893.

Artigo relacionado:
Graca Divina

terça-feira, 1 de junho de 2021

Lisboa e Tejo de Carlos Botelho

... a Costa do Castelo, do Cais das Colunas à Calçada do Marquês de Tancos, o Jardim de S. Pedro de Alcântara, Sé, Largo de S Cristóvão. e pinta ainda gaivotas no Tejo e palmeiras em Alfama, dando lhe uma luminosidade. e um silêncio expectante de cidade despovoada. mas que vive por si própria.

Domingo, Carlos Botelho.
MNAC/Google Arts

Carlos Botelho recriou, com a sua obra, uma cidade com corpo e espírito para que se tornasse um testemunho vivo da tradição, pois como o autor dizia "o meu modelo é Lisboa, cidade que infelizmente parece estar em vésperas de se perder".

Percorrendo. um a um, os seus pitorescos quadros, nota-se que exprimem uma vontade de fazer reviver Lisboa e de a tornar mesmo nova Da vastíssima obra deste artista, que também 1a a Câmara Municipal de Lisboa apresentou, grande parte dela, (Exposição retrospectiva de Carlos Botelho sobre motivos de Lisboa, notas críticas e bibliográficas de Selles Paes, Palácio Galveias, abril de 1959) isolei um conjunto de trabalhos. que abrange um periodo de 15 anos, dividi-o em três partes

Ramalhete de Lisboa, Carlos Botelho, 1935.
Wikipédia

Do primeiro, 1930-1935, salienta-se a visão cubista do Zimbório da Estrela, e. o Jardim de S. Pedro de Alcântara. pequeno quadro cheio de interesse, pelos seus negros e cinzentos.

Do segundo penodo fazem parte a Sé, com uma perspectiva diferente daquela que é habitual. pois nele insere-se um conjunto de casario, mar e recantos românticos. que torna ainda mais belo aquele monumento românico.

A cor começa aqui a tornar-se mais clara, como se a cidade estivesse na sua adolescência.

Aspecto de Lisboa no inverno (Ramalhete de Lisboa), Carlos Botelho.
Lisboa, Revista Municipal (n° 8, 9 e 10) 1984

Ao terceiro período. composto pelos últmos cinco anos. dizem respeito Largo de S Cnstovão, Largo do Chão de Loureiro, Quintalinho no Castelo e Rossio, cujas cores começam a aparecer um pouco esbatidas.

Ao longo deste espaço de tempo — 15 anos — verifica-se que Botelho evoluiu de uma maneira vertiginosa no sentido de escuro/claro no colorido de toda a sua obra,  é então a partir de 45 que a cor canta nas suas telas, cada vez mais aberta e franca quer os seus quadros representem as horas frescas da manhã, ou os dias ensombrados.

Ruas de Lisboa antiga avistando-se o Tejo ao fundo, Carlos Botelho.
Lisboa, Revista Municipal (n° 8, 9 e 10) 1984

... num outro quadro começam a aparecer os azuis e rosas pálidos. e a nota de vida aqui é dada por uma criança que esta sentada na escadaria. Nos restantes. a presença da criança aa lugar a vendedeiras e um gato como nota de vida fugidia, esgueirando-se pelos becos; e. através de um miradouro. observa-se uma excelente imagem de jogos de telhados de todos os feitios, num colondo cada vez mais claro.

Quanto á estrutura da obra. em geral. ela apresenta também evolucão. Nos primeiros quadros ele amontoa tudo como numa manta de retalhos, são peças compósitas, são uma espécie de antologia que nos dá uma visáo panorâmica de conjunto.

Bairro antigo de Lisboa com vista parcial da outra margem do rio Tejo, Carlos Botelho.
Lisboa, Revista Municipal (n° 8, 9 e 10) 1984

Nos quadros posteriores ele apresenta pormenores, como seja. um estendal.

E é essa que vai ser a sua última fase. que o conduz a uma concepçáo abstracta.

Exposição de Carlos Botelho

Para completar este trabalho, falta ainda dizer alguma coisa sobre o temperamento do artista. A tendência através de tudo manifestada pelo tema dominante da sua arte, faz-nos crer num pintor calmo e sereno, como serenas são as intenções reflectidas nos processos empregues, sem contudo esconder a sua emoção. Mas também a tristeza e a melancolia. estão patentes naquelas figuras humanas.

Carlos Botelho

Carlos Botelho. com a simplicidade de processos e efeitos. criou um universo plástico onde o simbólico representa a mais bela das cidades... (1)



(1) Lisboa, Revista Municipal (n° 8, 9 e 10) 1984

quinta-feira, 6 de maio de 2021

Cantigas de Santa Maria (183)

Dun miragre que mostrou Santa Maria en Faaron quando era de mouros

Pesar á Santa María de quen por desonrra faz
dela mal a sa omagen, e caomia-llo assaz.




Desto direi un miragre que fezo en Faarôn
a Virgen Santa María en tempo d' Abên Mafôn,
que o reino do Algarve tiínn' aquela sazôn
a guisa d' óm' esforçado, quér en guérra, quér en paz.
Pesar á Santa María de quen por desonrra faz...


En aquel castél' avía omagen, com' apres' ei
da Virgen mui grorïosa, feita como vos direi
de pédra ben fegurada, e, com' éu de cért' achei,
na riba do mar estava escontra ele de faz.
Pesar á Santa María de quen por desonrra faz...


Ben do tempo dos crischãos a sabían i estar,
e porende os cativos a ían sempr' aorar,
e Santa Marí' a vila de Faarôn nomẽar
por aquesta razôn foron. Mas o póboo malvaz
Pesar á Santa María de quen por desonrra faz...

Dos mouros que i avía ouvéron gran pesar ên,
e eno mar a deitaron sannudos con gran desdên;
mas gran miragre sobr' esto mostrou a Virgen que ten
o mund' en séu mandamento, a que soberva despraz.
Pesar á Santa María de quen por desonrra faz...


Ca fez que nïún pescado nunca podéron prender
enquant' aquela omagen no mar leixaron jazer.
Os mouros, pois viron esto, fôrona dalí erger
e posérona no muro ontr' as amẽas en az.
Pesar á Santa María de quen por desonrra faz...



Des i tan muito pescado ouvéron des entôn i,
que nunca tant' i ouvéran, per com' a mouros oí
dizer e aos crischãos que o contaron a mi;
porên loemos a Virgen en que tanto de ben jaz.
Pesar á Santa María de quen por desonrra faz... (1)



(1) Cancioneros wiki

Mais informação:
Cantigas de Santa Maria, de D. Alfonso X, o Sábio
A cidade islâmica de Faro

Informaçāo relacionada:
Walter Mettmann, Cantigas de Santa Maria (Glossário), 1972

The Oxford Cantigas de Santa Maria Database (search: person, place)

The Oxford Cantigas de Santa Maria Database (search: Algarve):
183 The Moors of Faro who Threw a Statue of the Virgin into the Sea Pesar á Santa Maria
277 The Raiders who Fasted on Saturday Maravillo-m’ eu com’ ousa/ a Virgen rogar

The Oxford Cantigas de Santa Maria Database (search: Portugal):
95 The Hermit who was Captured by the Moors Quen aos servos da Virgen
222 The Chaplain who Swallowed a Spider Quen ouver na Groriosa | fiança con fe comprida
224 The Girl who was Healed and Revived in Terena A Reinna en que é/ comprida toda mesura
235 The Virgin’s Favours to King Alfonso Como gradecer ben-feito/ é cousa que muito val
237 The Murdered Prostitute Se ben ena Virgen fiar
245 The Hostage who was Released O que en coita de morte
267 The Merchant who Fell Overboard Na que Deus pres carne e foi dela nado
271 The Ship that was Stuck Fast in the River Ben pode seguramente/ demanda-lo que quiser
275 The Rabid Knights Hospitaller A que nos guarda do gran fog’ infernal
316 The Jealous Priest who Committed Arson Par Deus, non é mui sen guisa
346 The Woman who was Healed of a Swollen Arm Com’ a grand’ enfermidade | en sãar muito demora


The cantigas de Santa Maria:
Illuminations

quinta-feira, 8 de abril de 2021

GRAND HOTEL DU MATTA

Quem não conhece o Matta? Ou com mais verdade, quem ha em Lisboa que não tenha uma ou outra vez saboreado os seus acepipes culinários, as suas gulodices de copa? Matta é um nome que se não pronuncia sem que instinctivamente se leve a lingua ao céu da boca e se sinta no estomago, ao ouvir da ultima syllaba, o appetite voraz por um bom jantar, ou por uma succulenta e opipara ceia.

Hotel du Matta, Largo das Duas Egrejas
Diário Illustrado, 23 de outubro de 1874

Donde veio o Matta, onde nasceu, o que era antes de ser cosinheiro? São perguntas a que ninguém saberá responder já hoje; e a posteridade, quando tiver de registar o nome do Brillat Savarin português, encontrar-se-ha comcerteza em graves difficuldades para preencher taes lacunas.

O Matta para a geração actual nasceu no primeiro dia em que pegou na cassarola que mais tarde o devia tornar immortal, e que lhe abria o caminho para o Olympo ao lado dos semi-deuses. Conhecemol-o pela primeira vez no Restaurant á la Carte estabelecido no Caes do Sodré, esquina da rua do Alecrim ["... predio que torneja da praça dos Remolares para a rua do Alecrim, encontra-se o modernissimo café Royal, no 1.º andar do qual predio existiu, em 1854, o restaurant de João da Matta" cf. revista Serões, 1909].

Que almoços e que jantares aquelles! Finura de manjares, delicadeza no desert, luxo no serviço, aceio e ordem, etc. etc. e tudo a troco do já hoje legendário cruzado novo. Um pinto! Que milagre aquelle, de nos encher o estomago, de nos entreter o espirito, visto que o moral anda de braço sempre com o physico, e tudo por uma quantia minima, que se dava sem se sentir! Saudosos tempos de então, em que se jantava por tal quantia e em que se sentavam comnosco á meza vinte annos de menos!

Arte de cosinha, João da Matta, 1876.
Portal Guará

Porque acabou o Restaurant á la Carte do Caes do Sodré? não o sabemos também, mas o caso é que acabou e que mais tarde tornámos a encontrar o Matta estabelecido na rua do Ouro, na antiga casa Chapelier onde é hoje o Monte Pio Geral. Como se vê, aquella casa era predestinada a encher alguma coisa a humanidade. Dantes enchia-lhe o estomago; presentemente enche-lhe a algibeira. É verdade que antigamente era a troco do alguns cruzados novos apenas, e agora só pendurando ali o relogio, o annel, ou coisa parecida de prata ou oiro. Decorreram os annos e João da Matta enfastiou-se um dia de ali mentar o papinho á humanidade.

Atirou para longe o barrete branco que lhe fora por muito tempo coroa de carvalho e retirou-se á vida burgueza, começando a viver do sseus rendimentos. Foi esse um periodo de verdadeira decadencia para a arte culinaria em Portugal. Todos andavam amarellos, as digestões faziam-se difficilmente, e os rostos dos bons-vivants mostravam-se tristes e pesarosos. Não sabemos se a parte de policia registou durante esse periodo algum caso de suicídio por effeito do spleen. Não temos á mão a respeitável folha incolor para nos elucidar.

Matta pelo seu lado não andava menos triste do que os seus antigos freguezes. A sua actividade não se coadunava com a vida sedentaria que abraçara. Procurava distrair-se e não o podia conseguir. Por toda a parte por onde transitava via cassarolas a fazerem-lhe negaças; se saia para o campo em vez do perfume das boninas só respirava o aroma adocicado dos almis e o acre cheiro do molho de villão frio. Tentava dormir e não podia conciliar o somno. As facas da cosinha eram o seu pezadello habitual.

Uma madrugada, depois de ter sonhado toda a noite com a galantine e com a charlote-russe, saltou para fora da cama, tirou da cabeça o barrete de dormir e collocou em seu logar o bonnet branco que por tantos annos fora a sua gloria. A arte culinaria ia entrar numa brilhante phase. Os Gargantuas e os Pantagrueis podiam folgar, porque os antigos almoços e jantares iam reviver.

João da Matta então não se poupou  a despezas e fadigas para dar todo o lustre e esplendor á arte pela qual se suicidara Vatel e pela qual também elle estivera a ponto de morrer de saudade.

O Restaurant a la Carte do largo das Duas Egrejas, o Grande Hotel Matta da rua do Chiado  e o Grand Hotel du Matta no antigo palacio dos srs. Ferreiras Pintos, foram creações suas e instalaram-se a curtos intervallos. E só assim, só com essas tres casas, o rei dos cosinheiros poude dar guarida e satisfazer os estomagos das innumeras famílias que o procuravam, quer da província, quer da Hespanha, quer do Brazil. João da Matta sustenta ainda hoje essas tres casas e qualquer d'ellas ahi está para attestar pelo seu luxo o bom gosto e renome do seu proprietário.

O Grand Hotel du Matta, que a nossa estampa hoje representa, e que é situado no largo das Duas Egrejas, é sem questão alguma a casa mais bem collocada de Lisboa para um hotel. A sua construcção elegante, o espaçoso das salas e dos quartos, a luz e o ar que a circumdam por toda a parte, o largo pateo da entrada, pateo onde podem estar três a quatro carruagens, são outras tantas condições que recommendam o edifício.

O hotel do Chiado não é menos sumptuoso, nem menos elegante.

O Restaurant á la Carte é uma casa mais modesta, mas que não offerce um menor numero de commodidades aos seus habitues. Esta casa admiravelmente administrada e servida, está aberta durante toda a noite e offerece portanto ao tresnoitado a qualquer hora o conforto de um caldo, de uma costelleta, ou de um filete de vitella.

Podia-se ainda dizer muito do Matta e dos seus hotéis*, fallar dos seus jantares de encommenda, dos pratos que tem inventado ,da consciência com que trata todos os assumptos de cosinha, mas o espaço aperta comnosco e forçoso é acabar.

Acabemos portanto, não sem notar que se o nome de José Ostise ligou para sempre ao fogo de vistas, o nome de João da Matta não se vincula menos ao fogo sagrado da cassarola.

Se para um a bicha de rabear foi o ideal, para o outro a eiró grelhada não deixa de ser o sonho dilecto. (1)


(1) Diário Illustrado, 23 de outubro de 1874

* ... também estabelecido com restaurantes no Cais do Sodré e na Rua do Oiteiro, e hoteis na Rua do Ouro, na loja e 1.° andar do actual edifício do Montepio Geral; no prédio da Avenida da Liberdade n.° 65, onde foi o Teatro do Infante e é hoje, no 1.° andar, a Ordem dos Médicos; na Rua Garrett 74, 1.°, palácio que foi do Marquês de Nisa, em que está presentemente o Turf Club; e no palácio do  Calhariz, hoje Administração Central da Caixa Geral de Depósitos [cf. revista Olisipo n° 79, 1957].

Artigos relacionados:
À Bulhão Pato

Mais informação:
A Illustração Portuguesa n° 37, 1886
Mário Costa, O palácio do Loreto, Olisipo n° 79, 1957


Leitura relacionada:
Mme. Aglae Adanson, A arte do cosinheiro e do copeiro, 1845
O cozinheiro completo, 1849